Bem vindos ao Adelós-Dêlos!

Ponto de discussões filosóficas de ouvintes do Lógos, recolhedoras do aberto...

... porque o invisível (adelós) por vezes fica visível (dêlos), pela escuta do que se diz com uma palavra.



sexta-feira, 10 de outubro de 2008

VOTE EM MIM, HO, HO, HOOOO!!!

Em algumas discussões sobre política um tanto informais, daquelas a que todo mundo se entrega com amigos de vez em quando, percebi que é muito comum as pessoas admirarem políticos por suas ações "beneficentes".



Beneficente é o que faz o bem. Com certeza um político "do bem", é melhor do que um "do mal". Mas a julgar por isso, há realmente muito poucos políticos "do mal" no Brasil. Por que então a situação - de modo todo próprio relacionada à política - vai tão mal no Brasil? Por que não se vê melhoras de relevância, já que há tantos políticos "do bem"?

Todos os candidatos são tão bondosos, cheios de amor para dar, que suspeito - é conjectura, mesmo - que em época de eleição deve cair o número de suicídios e haver grandes melhoras em quadros de depressão. Como nos sentimos tão amados em época de eleição! Cheios de amigos e pessoas que dedicam suas vidas a nós! Quanta caridade vemos ser feita por todos, quantas obras beneficentes!

Época de eleição é uma espécie de "natal para todos": adultos, velhos e crianças, ricos e pobres, heteros e homos, índios, brancos e negros, todos... à espera do papai noel vestido de candidato. Comportar-se como um bom menino é ter carência de alguma coisa, qualquer coisa. Só isso já justifica a visita do papai noel político, entrando pela chaminé da sua crise. A cartinha... bem, essa é o voto. Tem que fazer, fielmente, toda eleição, para o papai noel mais dadivoso.

É justamente o X do problema: político bom, não é somente o sujeito "do bem", porque no frigir dos ovos a imensa maioria dos seres humanos é gente de bem. Isso não quer dizer que estas pessoas sejam bons estadistas, bons políticos. Ser "bonzinho" é condição necessária, mas não suficiente. Política eficiente não se assemelha a tal "papainoelismo" político, que abunda no Brasil.

Fazer caridade pressupõe:
- pobreza;
- dependência do caridoso;
- manutenção da ausência de condições de ter dignidade por meios próprios;

Vejam bem: não sou contra caridade! É coisa muito nobre! Mas não precisamos de governadores, deputados, senadores e presidentes para isso! O que sou contra é confundir política com caridade! Projetos políticos sérios, eficientes e politicamente corretos (e não apenas moralmente corretos, como é o caso da caridade) são aqueles que não vinculam o beneficiado ao seu benfeitor, libertando-o na medida em que garante a dignidade conquistada por meios próprios.

Por exemplo, um projeto "político" que consista numa fundação beneficente, cujos recursos são obtidos por meio da venda de CDs, Livros, etc, de determinado político, muito embora seja um projeto "do bem", não é um projeto politicamente bom. Porque se as vendas dos CDs, Livros, etc, caem, cai também o projeto. Se o político morre, morre também o projeto. Aliás, isto pode funcionar como um mecanismo de retroalimentação publicitária, pois as pessoas, sabendo que ao comprarem determinado produto estão ajudando o projeto de tal político, tedem a comprar mais e sempre mais os produtos vendidos pelo político "do bem". No fim das contas, o nome do político é que recebe os louros da glória, quando na verdade é o dinheiro do comprador que sustenta o seu projeto, é com o dinheiro do povo que o político diz "eu faço!" com a cara mais deslavada, sem sequer mencionar a contribuição VITAL do povo comprador.

Um projeto político bom, deve ser do bem, mas deve estar vinculado ao Estado, uma instituição duradoura e pública, não a uma pessoa moral, a um indivíduo em particular. Isto é parte da democracia saudável. Um projeto político bom, falando em termos simples, não deve "dar o peixe", mas ensinar a usar a vara, o anzol, baratear a isca e garantir acesso ao rio ou ao mar.

Portanto, às vezes, um candidato "do bem" enquanto pessoa, é "mau" enquanto político, muito embora não seja um político "do mal". Devemos atentar para as sutilezas na hora de pensar em quem votar.

O Papai noel é bonzinho, tem bochechas rosadas e coração de mãe. Já o bom político pode até assustar as criancinhas, mas vai lhes dar muito mais do que um carrinho ou uma boneca uma vez por ano. Vai lhes dar condições de aprender e de construir o que quiserem, pois pode ser que estejam cansadas de bonecas e carrinhos.

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