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Ponto de discussões filosóficas de ouvintes do Lógos, recolhedoras do aberto...

... porque o invisível (adelós) por vezes fica visível (dêlos), pela escuta do que se diz com uma palavra.



quarta-feira, 8 de outubro de 2008

POLÍTICA E RELIGIÃO - DISCRIMINAÇÃO

(este é o comentário que fiz sobre uma boa matéria que acusava a discriminação religiosa que "a mídia" teria em relação ao candidato Bispo Marcelo Crivella em 2006. Crivella é membro eminente da Igreja Universal e sobrinho do famoso Bispo Macedo. Como político, tem mandato de Senador pelo Rio de Janeiro, tem se destacado na defesa de brasileiros no exterior e é gestor do beneficente Projeto Nordeste. Um dos fundadores do PRB, parte da base de aliada do governo, Crivella teve o apoio de Lula em sua candidatura para o Rio.)


  • Começo dizendo que Crivella não está entre minhas esperanças de melhora política, mas não por ser evangélico. Neste pormenor, é totalmente justa - e confesso que rara - a ousadia da posição adotada na matéria, alertando para a discriminação religiosa permeada de interesses políticos e econômicos. Perigosa para a democracia, sem dúvida, e muito mais perigosa para a convivência humana, sempre permeada de diferenças.

    Sou contra discriminação, não apenas de evangélicos, mas também de homossexuais, negros, índios, mulheres e nordestinos. É tão inaceitável um esquerdista ou dono de meio de comunicação discriminar um evangélico (mesmo que este não seja gestor de projetos sociais!), quanto um evangélico discriminar homossexuais, adeptos de cultos afrobrasileiros (por exemplo imputando-lhes prática do mal e adoração ao diabo, entidade que só existe no cristianismo, o que soma ignorância ao preconceito), etc.

    Como não é fácil negar que o preconceito para com religiões outras (todas as "outras"!) e homossexuais (para ficarmos nos mais exacerbados) está quase que onipresente nos meios evangélicos, então, igualmente, o crescimento do movimento político de bandeira evangélica tal como atualmente acontece (isto é, cheio de discriminações) pode representar, sim, uma ameça igual à democracia e principalmente à convivência com as diferenças. Para quem acha que não há discriminação, não se limite a assistir programas de televisão evangélicos. Nestes, há a audiência não-evangéica que, portanto, tende a não compartilhar e até mesmo ser alvo dos preconceitos que muitos (não todos) os evangélicos têm. Portanto, na tv, ameniza-se o discurso preconceituoso. Experimente ir a cultos evangélicos! Isto bastará.

    Por outro lado, em meio ao "esquerdismo" dominante, realmente, virou "crime ideológico" defender evangélicos em seus direitos de cidadãos iguais que são, e que devem ser respeitados. Evangélicos são cidadãos com direitos iguais, seres humanos dignos e com direitos iguais, que devem ser respeitados por todos e defendidos em seus direitos. Mas também devem, para isso, respeitar. Isso já diz a sabedoria popular.

    Crivella é candidato como outro qualquer. Cabe ao eleitor consciente e politicamente formado (coisa rara) votar em quem julgar melhor, ou menos ruim. Não pode haver discriminação política por questões religiosas, está certo. Mas também o voto é uma ação política e não religiosa. Devemos votar por questões políticas, isso é mais que uma responsabilidade, é um dever. O princípio que condena a discriminação política de Crivella por ser ele sobrinho de Edir Macedo e membro de destaque da Igreja Universal é exatamente o mesmo que deve condenar o voto por questões religosas. Política e religião separadas, desde Montesquieu.

    Portanto, não votemos em um candidato somente porque ele é pastor ou padre da nossa igreja, ou jogador do time de nosso coração, ou nosso cantor, ator, humorista, drag queen ou dançarina favorita. Votemos por questões POLÍTICAS. Também os candidatos, se querem se fazer respeitar pelo princípio de separação entre política e religião, façam o favor de também SEPARAR POLÍTICA E RELIGIÃO DE SEUS DISCURSOS E CAMPANHAS POLÍTICAS E, PRINCIPALMENTE DE SEUS PROJETOS E AÇÕES POLÍTICAS. Se não o fizerem não podem reclamar, porque desrespeitam o princípio pelo qual querem ser respeitados.

    O segundo ponto, agora:

    Parece uma contrasenso que Crivella se considere prejudicado pela associação de seu nome ao da Igreja Universal de Bispo Macedo, a que pertence de modo representativo. Será que Crivella, não enquanto o bispo que é, mas enquanto o candidato que é, considera a Igreja Universal de seu parente, o Bispo Macedo, assim tão ruim, a ponto de poder difamá-lo perante a sociedade, pela simples associação de seu nome ao da Igreja?!

    É claro que Crivella é inteligente e não está indo contra a Universal. PARA ELE, a Igreja Universal é boa, mas ele reconhece que para a parcela não evangélica (maioria) da sociedade, não. Isso é o que se comprova pelo seu próprio sentimento de estar sendo prejudicado pela associação de seu nome ao da Igreja. Mas Crivella, em suas campanhas, discursos, projetos e ações políticas, por vezes lança mão da associação entre sua política e sua religião mais ou menos explicitamente, mas com o cuidadeo de não frisar a sua ligação com a Universal PARA ALÉM DOS CÍRCULOS DE FIÉIS EVANGÉLICOS. São frequentes em seus discursos as substituições de argumentos e fatos políticos por citações bíblicas e dogmas religiosos. Ele desrespeita, assim, o mesmo princípio por que quer ser respeitado.

    Crivella sabe o que a Universal representa PARA A SOCIEDADE EM GERAL, por isso sabe do dano que lhe causa a associação. Quando a sociedade reconhece alguma coisa como um problema, devemos deixar a democracia decidir. A vontade da maioria - se votar consciente e politizadamente sem fazer do voto questão de fé - é que vai decidir.

    Se os candidatos não querem se prejudicar por associações que "a mídia" faz entre seus nomes e determinadas instituições religiosas, eles devem dar o exemplo e começar por não fazer aquilo que criticam quando a mídia o faz.

    A diferença é que a mídia o faz para todos, não escolhe o discurso adequado para o público adequado. Crivella sabe disso.

discurso de Lula apoiando Crivella

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