Bem vindos ao Adelós-Dêlos!

Ponto de discussões filosóficas de ouvintes do Lógos, recolhedoras do aberto...

... porque o invisível (adelós) por vezes fica visível (dêlos), pela escuta do que se diz com uma palavra.



sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Negação como forma de dogmatismo.

Normalmente pensamos ser ceticismo a simples negação de todas as possibilidades. Muitas vezes somos também levados a pensar que seja um tipo de falta de crença ou fé. Ainda tem os que dizem que ser cético é simplesmente duvidar, ou ser tão racional a ponto de não permitir certas explicações parciais, ambíguas ou pra muito além do nosso plano de "realidade". As compreensões descritas acima não deixam de ter uma importância. Todas elas de uma maneira ou de outra se relacionam com o ceticismo. Porém, a posição cética, ao meu ver, está pra estas descrições, assim como o Platonismo para Platão. O que isto quer dizer exatamente? Pra começar, que elas se não forem de todo erradas, são no mínimo precipitadas.
Os céticos antigos, como Sexto Empírico tiveram dificuldades em demonstar o que pensavam pra não parecerem dogmáticos. Bom, isso no mínimo quer dizer que afirmativas são bastante problemáticas para eles. Porém, no campo das críticas referentes ao dogamatismo, compreende-se não apenas afirmadores de dogmas, mas (na mesma proporção) negadores dos mesmos. Sendo assim, ao chamarmos um indivíduo que nega de cético, acabamos por cair em erro, já que essa pessoa participa de um critério para negar o que quer que seja. Posso aqui dar um exemplo que passa em nossas cabeças normalmente ao pensarmos nesse tipo de atitude: o ateísmo, ou qualquer de suas variações. Sim, negarmos a existência de Deus compreende um dogmatismo que os céticos chamavam de dogmatismo negativo.
Para os céticos de grande influência no pensamento moderno como Sexto Empírico ( com base no pyrronismo) a busca se torna a melhor das posturas a serem tomadas. Em outras palavras, não é o constante duvidar ou a atitude pessimista diante do conhecimento que leva o homem a ser cético. Pelo contrário, ele surge para aquele que busca, que suspende o juízo (o julgamento). No entanto a leitura feita pela modernidade desse ceticismo o enquadrou numa posição de constante duvidar.
Na verdade, não trata-se de dúvida. Um cético pode sim acreditar ou não em Deus, pode ter ou não religião. É evidente a existência de céticos religiosos (como Erasmo). O grande problema, é a adoção de uma verdade como única ou final. Ou seja, podemos possuir uma " verdade" que nos cabe sem no entanto excluir as outras, e modificá-las sempre que necessário. Os motivos apontados pelos céticos que impossibilitam a adoção de um critério são muitos, pois caem nos problemas da relação com o conhecimento. O ceticismo trata-se portanto de uma atitude.
Dentre as várias correntes céticas que se formaram, essa parece ser a mais coerente,( e é obviamente a mais aceita pelos estudiosos) pois não há muita chance de haver qualquer coisa na simples negação. Assim como a constante dúvida também deixa de ser válida para qualquer "caminhar". Voltando para algumas das influências do ceticismo, chegamos num terreno para mim bastante familiar: aos sofistas. E como uma simples, rápida e precária espécie de fundamentação da posição cética que tem por objetivo ( sem na verdade tê-lo) a suspensão do juízo, digo que voltando para os sofistas, ao contrário do que muitos pensam,verifica-se a possibilidade de se conhecer. esse portanto possui (agora ultilizando um termo cético) um critério bastante delicado. No entanto, vale se arriscar ao emitir "opiniões" ter crenças, sem levá-las as últimas consequências. Dessa maneira, o mais racional de todos pode vir a ser o mais dogmático também.
Bom, para mim o mais interessante nessa discussão ( sem qualquer pretensão acadêmica e principalmente finalista) é demonstrar o quanto é difícil tomar uma posição, se arriscar. O que não deve porém deixar de ser feito. Sendo assim, podemos não ser dogmáticos ao ponto de excluir as verdades. Isso quer dizer que, as "verdades" estão por aí . Mais do que negação, afirmação ou dúvida, o bom ceticismo para mim é a aceitação das possibilidades, que no campo da ação leva-nos a um mútuo respeito ao próximo.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Sobre o conhecimento.

A primeira questão em qual nos deparamos é: o que é o conhecimento? e ao tentarmos responder essa questão, pisamos então num chão muito frágil e delicado. O que nos faria acreditar que ele realmente existe? Sim, ele o conhecimento ou episteme. Por longos anos de filosofia tentamos responder essa questão, no entanto, ela não parece estar nem próxima de ser desvendada. Mas como posso eu fazer tal afirmativa, se não posso também asseverar qualquer coisa sobre o conhecimento? Talvez fosse possível dizer que ele esteja próximo ou distante de nossas expectativas, após longos anos de intensa busca. Porém, suspenderei o juízo (como os céticos) e não me arriscarei a prosseguir com essa questão. Dessa maneira, estaríamos nós então perdidos num abismo sem fim? Certamente a ciência está aí pra nos dizer que não. Mas até que ponto a ciência se basta? Creio que Heidegger nos diria que ela se basta sem se bastar, que estamos nós mergulhados num pretenso desvelar, propiciado pela técnica, em sua razão racionalizante. Não seríamos consequência da retração da verdade, mas sim sua causa e sua razão de ser. Tornamo-nos a partir da contribuição metafísica, mais humanistas, menos naturalistas (no sentido mais originário do termo) e ironicamente, menos humanos.
Dando agora, extraordinariamente, um salto ao pretérito saber atomista, nos deparamos com a origem do pensamento materialista. Sim, pois Marx construiu sua filosofia com bases democritianas e epicuristas. É portanto, válido ressaltar que tratam-se de filosofias, com suas ricas lacunas que nos propiciam um constante pensar questionador. Duvernoy nos diz que o pensamento atomista nos fala ainda com seriedade por seu "procedimento racional". Ao mesmo tempo, "nos ensinaram que toda síntese é prematura e que todo sentido é problemático."
Todo conhecimento compreende lacunas, por mais generalizante que o seja. Se nos bastássemos com uma filosofia, esta não seria apenas mais uma, mas sim a filosofia. O pensar pensante não seria mais o motor dos homens, não estaríamos mais mergulhados na técnica apresentada por Heidegger, mas sim, afogados nela. Creio eu, que Marx não pretendeu lançar ninguém num abismo alienante. Sua filosofia teórica nos permitiu e permite pensar criticamente nossa realidade, mas sua prática apresenta-se incoerente não apenas pela compreensão de nossas realidades, mas principalmente por nossa própria existência. Como consequência, seríamos causa não apenas da morte de Deus ( como já o somos), mas da morte da filosofia.