Bem vindos ao Adelós-Dêlos!

Ponto de discussões filosóficas de ouvintes do Lógos, recolhedoras do aberto...

... porque o invisível (adelós) por vezes fica visível (dêlos), pela escuta do que se diz com uma palavra.



domingo, 8 de junho de 2008

Construção da construção.

Dentro dos singelos atos de cada dia parecemos fazer escolhas. Daquelas que nos envolvem em círculos sem princípio ou fim. Muitas vezes, não sabemos como começamos exatamente a nos lançar em determinadas situações, que novamente nos põe a girar em círculos, circulantes, circunscritos...
Atos são resultados de escolhas, que são, por sua vez, resultados de nossas percepções remetidas à nossa mente, ou pensamento. Porém, muitas vezes nosso pensamento, que nada mais é do que uma ação mental, nos leva a uma negação da ação como forma de ação. Obviamente, não é somente a não conclusão de algo que faz com que se vele a ação de um sujeito. Há que se considerar, que a aparente inatividade é nada mais do que a afirmação de uma ação em sua forma contrária. Podemos simplesmente vivermos móveis em nossa imobilidade, da mesma maneira, que podemos viver imóveis em nossa mobilidade.
O que queremos é certamente agir como se deve, pensar como se quer, falar como se espera, ouvir quando se fala, sorrir quando conveniente... Mas, o que realmente faz de nós o um em meio a milhões de faces desconhecidas? O que nos faz diferentes dentre os iguais, se é exatamente a igualdade de ações em suas mais variadas formas que nos proporciona notoriedade para que assim sejamos conhecidos (pelos outros) a partir de uma pretensa individualidade?
Penso que há uma aporia constante em nossa maneira de ser, e não ser. Talvez, não somos o que queremos muitas vezes ser por não conseguirmos viver sem a aprovação do outro. Seria o outro parte de nós? Pois se somos o que o outro espera, somos provavelmente mais outro do que nós mesmos.
O que é intrigante, é que pouco pensamos no que nos faz ser, no que somos e no que realmente gostaríamos de ser. Não é tão difícil chegar em um conflito com nós mesmos se nos deparamos com questões que nos mergulham num vazio tão desgastante, que nos fazem lentamente perder o chão. Como poderíamos caminhar sem ele?
Construímos, nossos perfis, gostos, sentimentos e formas dentro daquilo que já nos é dado. Talvez, não sejamos, como pensamos, senhores de nosso "eu", mas sim meros receptáculos de nossa vida que é vivida ao passo que deixamos de pensar no que dela fazemos .