Bem vindos ao Adelós-Dêlos!

Ponto de discussões filosóficas de ouvintes do Lógos, recolhedoras do aberto...

... porque o invisível (adelós) por vezes fica visível (dêlos), pela escuta do que se diz com uma palavra.



quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

CONVITE

O importante é dar a palavra ao diálogo. Aos amigos, escrevam, porque pensar não é uma filosofia que se adote, mas um filosofar que se arrisca.

A QUESTÃO CENTRAL DE HEIDEGGER

(este é um esquema resumido de aula)

A QUESTÃO CENTRAL DE HEIDEGGER: ESQUECIMENTO DO SER
(ou esquecimento do velamento)

-
traço constitutivo do pensamento como metafísica;
-
questão central do pensamento de Heidegger;

Configuração Histórica da Metafísica como Onto-teo-logia:
-
Onto: Ser pensado como ente: determinável;
-
Teo: Este ente é causa e fundamento do real;
- Logia: discurso/razão: linguagem como instrumento de representação;


Antigüidade: Filosofia Antiga

Platão (ou platonismo): Ser como idéia;

Aristóteles (ou aristotelismo): Ser como enérgeia;

Medievo: Teologia

patrística (séc. II-VIII/Sto. Agostinho/ inf. platônica): Deus salvator

escolástica (séc. IX-XV/Sto. Tomás de Aquino/ inf. aristotélica): Deus creator

Modernidade: Filosofia e Ciência

Descartes (séc XVI): Sujeito racional: Res cogitans

Nietzsche (séc XIX): Sujeito volitivo: Vontade de Poder

Proposta Heideggeriana:

- Recuperar a questão do sentido do ser em sua Ambigüidade: presença-ocultante: fenomenologia.

- Libertar a linguagem de sua instrumentalidade, devolvendo-a à vigência poética (isto é, de instauração de sentido e verdade) mediante uma postura de escuta (Hermenêutica);

- Pensar a verdade fora dos eixos de representacão e de correção, mas sim na historicidade de um acontecimento (Ereignis);

- Isso retiraria o homem de sua posição determinante no centro do real, instaurando a possibilidade de compreensão do pensamento e da linguagem como um modo de ser, que é próprio ao homem, no sentido da habitação em que se dá sua existência (Da-sein), na medida em que a eles corresponde – fim do humanismo;

- Caminho: um passo-de-volta à um momento histórico em que o pensamento não se configurava metafisicamente, mas originariamente (Parmênides e Heráclito pensavam o originário: Physis), em busca não de um retorno, mas da possibilidade de, a partir do que não-foi pensado por eles (Ser como Ser, Linguagem como Linguagem), abrir novos caminhos ao pensamento que se encontra numa crise;


Leituras Básicas: 1. O que é isto, a Filosofia? – 2. Que é Metafísica? – 3. Sobre a Essência do Fundamento – 4. Sobre a Essência da Verdade – 5. Identidade e Diferença (em “Os Pensadores”) - 6. Logos – 7. Alétheia (em “Ensaios e Conferências)


Para quem entende inglês falado e se interessa pelo pensamento de Heidegger, abaixo os links para You Tube com o capítulo sobre Heidegger do especial da BBC, "Human, All too Human", em 6 partes.

PARTE 1
PARTE 2
PARTE 3
PARTE 4
PARTE 5
PARTE 6

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Negação como forma de dogmatismo.

Normalmente pensamos ser ceticismo a simples negação de todas as possibilidades. Muitas vezes somos também levados a pensar que seja um tipo de falta de crença ou fé. Ainda tem os que dizem que ser cético é simplesmente duvidar, ou ser tão racional a ponto de não permitir certas explicações parciais, ambíguas ou pra muito além do nosso plano de "realidade". As compreensões descritas acima não deixam de ter uma importância. Todas elas de uma maneira ou de outra se relacionam com o ceticismo. Porém, a posição cética, ao meu ver, está pra estas descrições, assim como o Platonismo para Platão. O que isto quer dizer exatamente? Pra começar, que elas se não forem de todo erradas, são no mínimo precipitadas.
Os céticos antigos, como Sexto Empírico tiveram dificuldades em demonstar o que pensavam pra não parecerem dogmáticos. Bom, isso no mínimo quer dizer que afirmativas são bastante problemáticas para eles. Porém, no campo das críticas referentes ao dogamatismo, compreende-se não apenas afirmadores de dogmas, mas (na mesma proporção) negadores dos mesmos. Sendo assim, ao chamarmos um indivíduo que nega de cético, acabamos por cair em erro, já que essa pessoa participa de um critério para negar o que quer que seja. Posso aqui dar um exemplo que passa em nossas cabeças normalmente ao pensarmos nesse tipo de atitude: o ateísmo, ou qualquer de suas variações. Sim, negarmos a existência de Deus compreende um dogmatismo que os céticos chamavam de dogmatismo negativo.
Para os céticos de grande influência no pensamento moderno como Sexto Empírico ( com base no pyrronismo) a busca se torna a melhor das posturas a serem tomadas. Em outras palavras, não é o constante duvidar ou a atitude pessimista diante do conhecimento que leva o homem a ser cético. Pelo contrário, ele surge para aquele que busca, que suspende o juízo (o julgamento). No entanto a leitura feita pela modernidade desse ceticismo o enquadrou numa posição de constante duvidar.
Na verdade, não trata-se de dúvida. Um cético pode sim acreditar ou não em Deus, pode ter ou não religião. É evidente a existência de céticos religiosos (como Erasmo). O grande problema, é a adoção de uma verdade como única ou final. Ou seja, podemos possuir uma " verdade" que nos cabe sem no entanto excluir as outras, e modificá-las sempre que necessário. Os motivos apontados pelos céticos que impossibilitam a adoção de um critério são muitos, pois caem nos problemas da relação com o conhecimento. O ceticismo trata-se portanto de uma atitude.
Dentre as várias correntes céticas que se formaram, essa parece ser a mais coerente,( e é obviamente a mais aceita pelos estudiosos) pois não há muita chance de haver qualquer coisa na simples negação. Assim como a constante dúvida também deixa de ser válida para qualquer "caminhar". Voltando para algumas das influências do ceticismo, chegamos num terreno para mim bastante familiar: aos sofistas. E como uma simples, rápida e precária espécie de fundamentação da posição cética que tem por objetivo ( sem na verdade tê-lo) a suspensão do juízo, digo que voltando para os sofistas, ao contrário do que muitos pensam,verifica-se a possibilidade de se conhecer. esse portanto possui (agora ultilizando um termo cético) um critério bastante delicado. No entanto, vale se arriscar ao emitir "opiniões" ter crenças, sem levá-las as últimas consequências. Dessa maneira, o mais racional de todos pode vir a ser o mais dogmático também.
Bom, para mim o mais interessante nessa discussão ( sem qualquer pretensão acadêmica e principalmente finalista) é demonstrar o quanto é difícil tomar uma posição, se arriscar. O que não deve porém deixar de ser feito. Sendo assim, podemos não ser dogmáticos ao ponto de excluir as verdades. Isso quer dizer que, as "verdades" estão por aí . Mais do que negação, afirmação ou dúvida, o bom ceticismo para mim é a aceitação das possibilidades, que no campo da ação leva-nos a um mútuo respeito ao próximo.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Sobre o conhecimento.

A primeira questão em qual nos deparamos é: o que é o conhecimento? e ao tentarmos responder essa questão, pisamos então num chão muito frágil e delicado. O que nos faria acreditar que ele realmente existe? Sim, ele o conhecimento ou episteme. Por longos anos de filosofia tentamos responder essa questão, no entanto, ela não parece estar nem próxima de ser desvendada. Mas como posso eu fazer tal afirmativa, se não posso também asseverar qualquer coisa sobre o conhecimento? Talvez fosse possível dizer que ele esteja próximo ou distante de nossas expectativas, após longos anos de intensa busca. Porém, suspenderei o juízo (como os céticos) e não me arriscarei a prosseguir com essa questão. Dessa maneira, estaríamos nós então perdidos num abismo sem fim? Certamente a ciência está aí pra nos dizer que não. Mas até que ponto a ciência se basta? Creio que Heidegger nos diria que ela se basta sem se bastar, que estamos nós mergulhados num pretenso desvelar, propiciado pela técnica, em sua razão racionalizante. Não seríamos consequência da retração da verdade, mas sim sua causa e sua razão de ser. Tornamo-nos a partir da contribuição metafísica, mais humanistas, menos naturalistas (no sentido mais originário do termo) e ironicamente, menos humanos.
Dando agora, extraordinariamente, um salto ao pretérito saber atomista, nos deparamos com a origem do pensamento materialista. Sim, pois Marx construiu sua filosofia com bases democritianas e epicuristas. É portanto, válido ressaltar que tratam-se de filosofias, com suas ricas lacunas que nos propiciam um constante pensar questionador. Duvernoy nos diz que o pensamento atomista nos fala ainda com seriedade por seu "procedimento racional". Ao mesmo tempo, "nos ensinaram que toda síntese é prematura e que todo sentido é problemático."
Todo conhecimento compreende lacunas, por mais generalizante que o seja. Se nos bastássemos com uma filosofia, esta não seria apenas mais uma, mas sim a filosofia. O pensar pensante não seria mais o motor dos homens, não estaríamos mais mergulhados na técnica apresentada por Heidegger, mas sim, afogados nela. Creio eu, que Marx não pretendeu lançar ninguém num abismo alienante. Sua filosofia teórica nos permitiu e permite pensar criticamente nossa realidade, mas sua prática apresenta-se incoerente não apenas pela compreensão de nossas realidades, mas principalmente por nossa própria existência. Como consequência, seríamos causa não apenas da morte de Deus ( como já o somos), mas da morte da filosofia.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Alguns tópicos centrais sobre o pensamento de Heidegger. De Diego Braga

A ontologia de Heidegger é um paradoxal encontro de origem com porvir que busca recuperar a questão esquecida no modo de pensar que se tornou hegemônico no ocidente, chamado de metafísica, que é o pensamento enquanto filosofia, em oposição ao pensamento originário que, no mesmo ocidente se tornou uma forma periférica de pensar, presente na arte, no mito, a que, para nós (ocidentais) nada mais corresponde de verdade.
A metafísica, pensamento calculador, divide o real em dois planos e aloca a verdade num deles, o inteligível, cuja verdade é conhecida por meio de uma representação elaborada no logos (linguagem e razão) convertido num meio, num instrumento. Esta representação elabora um sistema conceitual que, como teoria, consiste num conhecimento prévio que nos afasta das coisas. Por outro lado, o pensamento originário, que Heidegger quer revigorar, assume uma diferença referente entre Ser e Ente, em que um não é sem o outro, no qual a linguagem é o próprio âmbito em que a experiência da verdade acontece, instaurando um mundo como sentido de ser, e não representação da essência do ente.
Ambigüidade:
Em seu Logos (in: Ensaios e Conferências), H. nos mostra como a corda retesada enverga a madeira, ao mesmo tempo em que a curvatura da madeira estica a corda. A unidade irredutível pressupõe a diferença para além da mera complementaridade, porque nota-se bem nessa metáfora, que o arco não é madeira + corda, cada um contribuindo com uma função complementar, mas sim, na diferença referente de um e outro, tanto corda e arco agem ( retesam) e sofrem a ação ( são retesados), isto é, retesam na medida em que são retesados (com dizer que faz o quê). Esta metáfora mostra como é “real” a ambigüidade do ser. Em sobre a essência da verdade, (in: Os Pensadores), ele fala sobre este manso rigor
(ambigüidade) do pensamento o originário.
A metafísica se caracteriza pelo esquecimento do ser enquanto questão, porque pelo ser dos entes. Quando se perguntam pelo ser dos entes, os filósofos acabam limitando o ser ao âmbito do ente, esquecendo assim a questão de seu vigor originário. O Ser como atributo do ente é conhecido por meio de representação que se constitui num sistema. Desde a Grécia clássica, a pesquisa. Nós não perguntamos pelo ser: já tomamos por decidido que ser é algo (um ente: idéia em Platão, enégeia em Aristóteles, Deus na Teologia, Razão ou Vontade de um sujeito na modernidade), e o que nos cabe é conhecer a representação das coisas segundo uma concepção de ser que não é posto em questão. A proposta central do pensamento de Heidegger é recuperar o ser enqunto questão ( ou seja, em sua ambigüidade).
O pensamento originário que Heidegger propõe articula pensar não como a delimitação do ser das coisas, mas como um modo de ser. Nesse pensamento, como ser, vigora a verdade como sentido das coisas na medida em que inserem numa totalidade que as reúne nas diferenças (sentido), e não a verdade como isolamento e determinação de cada coisa em seu ser (certeza). A verdade no pensamento originário é um acontecimento em cuja experiência estão reunidos ser e pensar.
Da imagem estóica da Árvore da Filosofia, citada por Descartes, H. pergunta qual o solo em que se apoia essa Árvore, de que não mais se fala. O que alimenta suas raízes metafísicas?(ver. H., Que é metafísica, Pensadores, p. 61) As metáforas telúricas decorrem, assim, de seu intuito de pensar o solo que nutre a filosofia, que é a origem do pensar , a terra natal da linguagem e da poesia. Todas essas metáforas são um prato cheio prara críticos que querem forçosamente ligar seu pensamento ao nazismo que durante um tempo apoiou, como opção política para livrar a Alemanha da tecnocracia e do comunismo, bem como ao conservadorismo, dizendo que H. faz uma revolução conservadora. Mas esse retorno ao originário quer libertar o esquecido para que o novo possa surgir, por isso a origem se encontra de H., e não mero jargão ou retórica, porque ali a linguagem não é instrumento de representação certificadora da essência das coisas, mas aquilo que recolhe, no homem, o mundo como sentido e verdade. Por vezes H. precisa levar a linguagem a seus limites para romper com as certezas vigentes e despir o real da representação metafísica que nos mantém distantes dele.
Aproximando-se da poesia, seu pensamento não busca uma utilidade.Ao contrário do pensamento técnico, que age sobre o real dado, para produzir fins prévios à próprio ação, pensamento originário,na medida em que se constitui numa postura acolhedora aberta à diferença, está sempre na iminência da eclosão de novos sentidos, isto é, de novos mundos. Mais ainda, num mundo dominado pela ética da utilidade, os fazeres inúteis da arte e do pensamento vão de encontro a todo modo de agir e pensar vigentes.
A Metafísica divide o real em sensível (aistheton) e inteligível (noetón). Como é o pensamento do um, a metafísica aloca a verdade no plano do inteligível que contitui-se assim na verdade determinante do sensível, mesmo no materialismo e no empirismo, pois aqui também se busca uma verdade universal e abstrata (inteligível), muito embora tenha-se o apreensível mais diretamente como ponto de partida. O pensamento originário reúne esses dois planos considerados pelo ocidente como inconciliáveis, e por isso é necessariamente ambíguo, porque não põe subordinação de um pelo outro.
No modo originário de articular-se do pensamento, ser e ente não são isoladamente um sem o outro, mas apenas num pertencimento em que ser e ente o mesmo, mas não a mesma coisa, tal como que madeira e corda são o mesmo, sendo arco, mas não são a mesma coisa: “diferentes, ser e ente não são um, sem, contudo, serem dois” (LOPARIC, Zeljko. Ética e Finitude. São Paulo: EDUC, 1995) Assim, a metafísica é dualista quando pensa o princípio como um, e o pensamento originário é integrador, quando pensa como unidade como dois. A di-ferença (< >) na unidade (> <) é uma contradição própria do real, contrária apenas à lógica.Como aquele ser é ao modo de a todo tempo romper com os limites do que ele é (não limitar-se, por natureza, ao que lhe é natural), o homem é existente – EK – stare, eleva-se do âmbito do que é enquanto Ente, na medida em que se abre ao sentido do que é enquanto Ser. Como este pensar originário se coloca como um modo de ser, não há, no conhecimento que daí surge, uma relação de um sujeito que determina o objeto através de um método, o método é o próprio caminho em que o acontecimento acontece, em que o sentido eclode, porque é caminhada de existência, de fazer-se homem do homem e de fazer-se real do real - a isto ele chama de Círculo Hermenêutico. A ontologia de Heidegger é um paradoxal encontro de origem com porvir que busca recuperar a questão esquecida no modo de pensar que se tornou hegemônico no ocidente, chamado de metafísica, que é o pensamento enquanto filosofia, em oposição ao pensamento originário que, no mesmo ocidente se tornou uma forma periférica de pensar, presente na arte, no mito, a que, para nós (ocidentais) nada mais corresponde de verdade. A metafísica, pensamento calculador, divide o real em dois planos e aloca a verdade num deles, o inteligível, cuja verdade é conhecida por meio de uma representação elaborada no logos (linguagem e razão) convertido num meio, num instrumento. Esta representação elabora um sistema conceitual que, como teoria, consiste num conhecimento prévio que nos afasta das coisas. Por outro lado, o pensamento originário, que Heidegger quer revigorar, assume uma diferença referente entre Ser e Ente, em que um não é sem o outro, no qual a linguagem é o próprio âmbito em que a experiência da verdade acontece, instaurando um mundo como sentido de ser, e não representação da essência do ente. Ambigüidade: Em seu Logos (in: Ensaios e Conferências), H. nos mostra como a corda retesada enverga a madeira, ao mesmo tempo em que a curvatura da madeira estica a corda. A unidade irredutível pressupõe a diferença para além da mera complementaridade, porque nota-se bem nessa metáfora, que o arco não é madeira + corda, cada um contribuindo com uma função complementar, mas sim, na diferença referente de um e outro, tanto corda e arco agem ( retesam) e sofrem a ação ( são retesados), isto é, retesam na medida em que são retesados (com dizer que faz o quê). Esta metáfora mostra como é “real” a ambigüidade do ser. Em sobre a essência da verdade, (in: Os Pensadores), ele fala sobre este manso rigor (ambigüidade) do pensamento o originário. A metafísica se caracteriza pelo esquecimento do ser enquanto questão, porque pelo ser dos entes. Quando se perguntam pelo ser dos entes, os filósofos acabam limitando o ser ao âmbito do ente, esquecendo assim a questão de seu vigor originário. O Ser como atributo do ente é conhecido por meio de representação que se constitui num sistema. Desde a Grécia clássica, a pesquisa. Nós não perguntamos pelo ser: já tomamos por decidido que ser é algo (um ente: idéia em Platão, enégeia em Aristóteles, Deus na Teologia, Razão ou Vontade de um sujeito na modernidade), e o que nos cabe é conhecer a representação das coisas segundo uma concepção de ser que não é posto em questão. A proposta central do pensamento de Heidegger é recuperar o ser enqunto questão ( ou seja, em sua ambigüidade). O pensamento originário que Heidegger propõe articula pensar não como a delimitação do ser das coisas, mas como um modo de ser. Nesse pensamento, como ser, vigora a verdade como sentido das coisas na medida em que inserem numa totalidade que as reúne nas diferenças (sentido), e não a verdade como isolamento e determinação de cada coisa em seu ser (certeza). A verdade no pensamento originário é um acontecimento em cuja experiência estão reunidos ser e pensar. Da imagem estóica da Árvore da Filosofia, citada por Descartes, H. pergunta qual o solo em que se apoia essa Árvore, de que não mais se fala. O que alimenta suas raízes metafísicas?(ver. H., Que é metafísica, Pensadores, p. 61) As metáforas telúricas decorrem, assim, de seu intuito de pensar o solo que nutre a filosofia, que é a origem do pensar , a terra natal da linguagem e da poesia. Todas essas metáforas são um prato cheio prara críticos que querem forçosamente ligar seu pensamento ao nazismo que durante um tempo apoiou, como opção política para livrar a Alemanha da tecnocracia e do comunismo, bem como ao conservadorismo, dizendo que H. faz uma revolução conservadora. Mas esse retorno ao originário quer libertar o esquecido para que o novo possa surgir, por isso a origem se encontra de H., e não mero jargão ou retórica, porque ali a linguagem não é instrumento de representação certificadora da essência das coisas, mas aquilo que recolhe, no homem, o mundo como sentido e verdade. Por vezes H. precisa levar a linguagem a seus limites para romper com as certezas vigentes e despir o real da representação metafísica que nos mantém distantes dele. Aproximando-se da poesia, seu pensamento não busca uma utilidade.Ao contrário do pensamento técnico, que age sobre o real dado, para produzir fins prévios à próprio ação, pensamento originário,na medida em que se constitui numa postura acolhedora aberta à diferença, está sempre na iminência da eclosão de novos sentidos, isto é, de novos mundos. Mais ainda, num mundo dominado pela ética da utilidade, os fazeres inúteis da arte e do pensamento vão de encontro a todo modo de agir e pensar vigentes. A Metafísica divide o real em sensível (aistheton) e inteligível (noetón). Como é o pensamento do um, a metafísica aloca a verdade no plano do inteligível que contitui-se assim na verdade determinante do sensível, mesmo no materialismo e no empirismo, pois aqui também se busca uma verdade universal e abstrata (inteligível), muito embora tenha-se o apreensível mais diretamente como ponto de partida. O pensamento originário reúne esses dois planos considerados pelo ocidente como inconciliáveis, e por isso é necessariamente ambíguo, porque não põe subordinação de um pelo outro. No modo originário de articular-se do pensamento, ser e ente não são isoladamente um sem o outro, mas apenas num pertencimento em que ser e ente o mesmo, mas não a mesma coisa, tal como que madeira e corda são o mesmo, sendo arco, mas não são a mesma coisa: “diferentes, ser e ente não são um, sem, contudo, serem dois” (LOPARIC, Zeljko. Ética e Finitude. São Paulo: EDUC, 1995) Assim, a metafísica é dualista quando pensa o princípio como um, e o pensamento originário é integrador, quando pensa como unidade como dois. A di-ferença (< >) na unidade (> <) é uma contradição própria do real, contrária apenas à lógica.Como aquele ser é ao modo de a todo tempo romper com os limites do que ele é (não limitar-se, por natureza, ao que lhe é natural), o homem é existente – EK – stare, eleva-se do âmbito do que é enquanto Ente, na medida em que se abre ao sentido do que é enquanto Ser. Como este pensar originário se coloca como um modo de ser, não há, no conhecimento que daí surge, uma relação de um sujeito que determina o objeto através de um método, o método é o próprio caminho em que o acontecimento acontece, em que o sentido eclode, porque é caminhada de existência, de fazer-se homem do homem e de fazer-se real do real - a isto ele chama de Círculo Hermenêutico.

domingo, 21 de outubro de 2007

E o encontro aconteceu...

Poucas pessoas, muitos pensamentos... estivemos envolvidos pelo clima filosófico. Para chegarmos mais próximos do que podemos chamar de filosofia heideggeriana, nos encontramos com Platão e Aristóteles. Estes se fizeram presentes entre nós. Esbarramos em Heráclito na nossa busca pelo Logos e por uma leve passada pela filosofia teológica chegamos em Descartes, a dúvida. Entre palavras e silêncios, a filosofia falou. Nossos silêncios foram reflexão e atenção diante da perplexidade das "descobertas" dos " desvelamentos". Descobrimos sim uma verdade, não a verdade metafísica que nos remete a um conhecimento universal, mas a verdade histórica, ou melhor, aquela que se presentifica na historicidade. Sim, Heidegger estava lá, presente na presença do pensar, do falar, dos seres que se apresentavam pra nós em qualquer forma, pra que forma? Éramos, e ali fomos algo que éramos em contato com o que estávamos sendo, o novo, o presente, e não menos verdadeiro. O sentido apresentou-se pra nós e somos sim agora mais humanos, menos carentes das necessidades e mais conscientes de nossas escolhas. Escolhemos sim a filosofia, ela apresenta-se como o maior dos sentidos, estamos mergulhados nela, basta sentir, a presença se faz... pra que explicar?

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Um pouco de Heidegger...

Por estarmos mais próximos de Heidegger cronologicamente, chegamos a pensar que sua filosofia se mostra mais clara e fácil. Porém, esse pensamento cai por terra no momento em que entramos em contato com seus escritos que apresentam-se no mínimo intrigantes. Quem pode dizer que entedeu ou captou seu pensamento ao olhar para algumas (muitas) linhas escritas por ele? Imagino, que não há uma pessoa que tenha tal pretensão. No entanto, me apresento desde já como uma grande admiradora daquele que se demonstrar conhecerdor de sua filosofia. Já que, estar em contato com seu pensamento, não é necessariamente conhecê-lo profundamente. Faço aqui uma analogia talvez inocente e anacrônica ao aproximar seu pensamento ao "pré-socrático" Heráclito que por toda doxografia foi apresentado como o "obscuro". Ora, ele não o teria sido de acordo com Heidegger propositalmete, mas sim por ter em seu pensamento algo como um pensar originário, e por que não, conflitante, intrigante e atordoante? Sendo assim, creio eu que o impácto da filosofia Heideggeriana não se demonstra menos incômoda, de maneira que não podemos elaborar construções sólidas sobre seu pensamento tão próprio. Mas o que na filosofia se apresenta sólido? Será que podemos elaborar uma regra de pensamento filosófico? Proponho através da leitura tanto de Heidegger como de qualquer outro pensador, um olhar inquietante e não conformador...