tag:blogger.com,1999:blog-46642425133078540832024-03-13T11:02:42.205-07:00Adelós-Dêlos.Renata Renovatohttp://www.blogger.com/profile/12962053326642869126noreply@blogger.comBlogger29125tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-23031231615929796682008-12-15T20:02:00.001-08:002008-12-15T20:09:37.194-08:00MITO E HISTÓRIA<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.uespi.br/imagens/uploads/gravura_ii_bienal.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 300px;" src="http://www.uespi.br/imagens/uploads/gravura_ii_bienal.jpg" alt="" border="0" /></a><br /><span style="font-style: italic;">"Festa das Marias" - de Yolanda Carvalho<br /></span></div><br /><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:applybreakingrules/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:usefelayout/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-language:EN-US;} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} </style> <![endif]--><span style=";font-family:";font-size:12;" lang="PT-BR"><span style="font-size:100%;"><span style="font-size:130%;">O acesso à experiência mítica através do método historiográfico encontra como obstáculo justamente o suporte que garante a acesso ao investigador, a escrita que preserva a manifestação, mas não preserva o vigor da presença, que o pensamento historiográfico não consegue fazer viger justamente porque não é passível de representação num discurso racionalmente estruturado. Enquanto a filosofia defende para si a hegemonia da elaboração do conceito, e a teologia quer afirmar a verdade absoluta da revelação cristã, a ciência histórica busca no mito, como objeto, fatos que coincidam com o conceito de “fato” por ela operacionalizado.</span><br /><br />(fonte: GADAMER, Hans-Georg. "Mito y Razón". Barcelona: Paidós, 1999, p. 42-43)</span><br /></span>Anonymousnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-49799564354147254832008-12-15T19:40:00.000-08:002008-12-15T19:56:33.418-08:00A MEDIDA E O SENTIDO<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.mml.cam.ac.uk/gradstudies/eurolit/images/XulSolar.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 398px; height: 318px;" src="http://www.mml.cam.ac.uk/gradstudies/eurolit/images/XulSolar.jpg" alt="" border="0" /></a><br /><span style="font-style: italic;">Dragão - Alejandro Xul Solar<br /></span></div><br />A radiação luminosa, em suas cores, pode ser conhecida, medida e calculada em cumprimentos de ondas. O tempo pode ser conhecido, medido em horas, meses e séculos. A força de um vento pode ser calculada pela medida de sua velocidade. Este calculo nos informa sobre o vento e nos faz conhecê-lo. O mar, mapeado, pode além disso ser calculado em sua composição química, estudado em suas movimentações, prevendo ondas. As pedras podem ser analizadas até ao ponto de sua estrutura atômica.<br /><br />Ontem, eu estava na praia. O sol aquecia minha pele e me fazia fechar levemente os olhos. À luz do sol, o mar brilhava, e os montes rochosos mostravam seu dezenho no fundo azul dos céus. As águas verdes batiam no ritmo estranhamente musical das ondas, abrindo-se em espuma branca. O vento aliviava um pouco o calor e trazia o cheiro distante dos oceanos, vindos sei lá de que terras, onde roçaram os ouvidos de alguém que, talvez, como eu, também escutou. Eu não conhecia ali, naquele momento, a luz, a água, as cores, as pedras, o vento e o tempo que se manifestava. Não era capaz de medí-los e calculá-los. Eles faziam sentido.Anonymousnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-20530349473055559662008-12-07T10:59:00.000-08:002008-12-07T11:17:32.117-08:00Excertos pensantes: encobrimento, terra e mitoA <span style="font-style:italic;">Ilíada</span> XXIII, 244, fala de áidi keúthomai, de ser abrigado no Hades. Aqui a própria terra e o âmbito subterrâneo entram em relação com o abrigar e encobrir. O contexto essencial entre a morte e o encobrimento aparece aqui. A morte não é, para os gregos, como tampouco o nascimento, um processo "biológico". Nascimento e morte recebem sua essência a partir do âmbito do desencobrimento e encobrimento. Também a terra tem sua essência a partir do mesmo âmbito. Ela é o "entre", isto é, entre o ocultamento do subterrâneo e a luminosidade, o descobrimento do supraterreno (da abóboda celeste, ouranós). Para os romanos, no entanto, a terra, <span style="font-style:italic;">tellus</span>, <span style="font-style:italic;">terra</span>, é o seco, a terra em diferença do mar; essa distinção diferencia sobre que construção, colonização e instalação são possíveis, em distinção daqueles lugares onde elas são impossíveis. <span style="font-style:italic;">Terra</span> se torna <span style="font-style:italic;">territorium</span>, o âmbito de colonização como âmbito de comando. Na terra romana está presente o acento imperial, do que a gaîa e gê gregas nada têm.<br /><br />As palavras gregas krýptein e krýptesthai (de onde <span style="font-style:italic;">crypta</span> e cripta) significam a ação de encobrir resguardando. Krýptein se aplica, antes de tudo, à nýx, à noite. Similarmente, dia e noite em geral manifestam os eventos do descobrimento e do encobrimento. Uma vez que, entre os gregos, tudo o que é irrompe a partir do seu fundo, surge da essência do encobrimento e do desencobrimento, eles, por isso, falam da nýx e do ouranós, da noite e da luz do dia, sempre que querem expressar o começo do todo que é. O que é dito desse modo é o que primordialmente pode ser dito. É a fala autêntica, a palavra primordial. mýthos é a palavra grega que expressa o que pode ser dito antes de tudo o mais. A essência do próprio mýthos é determinada com base na alétheia. mýthos é o que revela, descobre e deixa ser visto; especificamente, ele deixa aparecer o que se mostra a si mesmo, previamente e em todas as coisas, como o que está presente em toda "presença" [Anwesen]. Somente onde a essência [Wesen] da palavra está fundada na alétheia, portanto entre os gregos, somente onde a palavra, assim fundada, como fala preeminente sustenta toda a poesia e pensamento, portanto entre os gregos, e somente onde poesia e pensamento são o fundo da relação primordial com o encoberto, portanto entre os gregos, somente lá encontramos o que dá significado ao nome grego mýthos, o "mito".<br /><br />HEIDEGGER, Martin. <span style="font-style:italic;">Parmênides</span>. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: EdUSF, 2008. pp. 92-3.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-76149276607077956712008-12-05T20:17:00.000-08:002008-12-05T20:25:53.446-08:00PLATÃO E O PÁRTENON<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://static.hsw.com.br/gif/parthenon-and-the-acropolis-landmark-1.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 314px;" src="http://static.hsw.com.br/gif/parthenon-and-the-acropolis-landmark-1.jpg" alt="" border="0" /></a><br />Um dos segredos do Pártenon, que o faz parecer perfeito, é justamente que algumas de suas linhas sejam curvas, como as dos degraus de entrada e as das colunas. As curvas dão a ilusão da perfeição do edifício, visto como um todo.<br /><br />O Pártenon parece ser o que é, no aspecto de sua retidão escanhoada à perfeição, mas na verdade é cheio de curvas de raios agigantados que nos iludem.<br /><br />Se Platão fosse tão platônico quanto a metafísica, deveria detestar o Pártenon.Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-35296580803510286122008-12-05T20:05:00.001-08:002008-12-05T20:14:21.122-08:00POR QUE "SER" NÃO É UM GÊNERO EM ARISTÓTELES<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/_zMK4_7KTX3M/STn6WS62_AI/AAAAAAAAAFw/fCdVC-S8a4s/s1600-h/Ser+n%C3%A3o+%C3%A9+g%C3%AAnero+-+gr%C3%A1fico.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 234px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_zMK4_7KTX3M/STn6WS62_AI/AAAAAAAAAFw/fCdVC-S8a4s/s400/Ser+n%C3%A3o+%C3%A9+g%C3%AAnero+-+gr%C3%A1fico.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5276523699384024066" border="0" /></a>(Eu desenhei este esquema para tentar facilitar a visualização. Espero é que não atrapalhe. Clique na imagem para vê-la em tamanho ampliado)<br /><br /><br /><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:applybreakingrules/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:usefelayout/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Font Definitions */ @font-face {font-family:SimSun; panose-1:2 1 6 0 3 1 1 1 1 1; mso-font-alt:宋体; mso-font-charset:134; mso-generic-font-family:auto; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:3 135135232 16 0 262145 0;} @font-face {font-family:Sylfaen; panose-1:1 10 5 2 5 3 6 3 3 3; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:roman; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:67110535 0 0 0 159 0;} @font-face {font-family:"\@SimSun"; panose-1:2 1 6 0 3 1 1 1 1 1; mso-font-charset:134; mso-generic-font-family:auto; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:3 135135232 16 0 262145 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:Sylfaen; mso-fareast-font-family:SimSun; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:PT-BR;} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">O ser não é um gênero, porque:<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">- O gênero é comum a muitos;<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">- O gênero se desmembra em espécies por diferenças acrescentadas;<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">- Das espécies pode-se se dizer que são necessariamente o seu gênero. Ex. A planta (espécie) é necessariamente um vivente (gênero);<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">- Contudo, não se pode dizer que o gênero é necessariamente uma sua espécie. Ex.: Um vivente não é necessariamente uma planta;<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">- Assim, a diferença específica não está contida no gênero. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">- Supondo, então, que “ser” seja um gênero, que pela diferença específica “verdadeiro” se torne a espécie, “ser verdadeiro”;<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">- “verdadeiro” teria de estar “fora” (não estar contido) em “ser”, de modo que “verdadeiro” não seria, isto é, seria nada, o que anularia a própria espécie. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">- portanto, “ser” não pode ser um gênero uma vez que apenas o nada está fora (não está contido) do âmbito de ser. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">Visualização pelo conjunto:<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">- A (gênero) – A1, A2, A3 (espécies)<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">- Todo A1 é necessariamente (mas não somente) A, porém todo A não é necessariamente A1.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">- Neste caso, o número (1, 2, 3) seria a diferença específica, que não está em A. Os números não podem estar contidos em A para que A seja gênero.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">Supondo SER um gênero:<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">- S (gênero) – S1, S2, S3 (espécies)<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">- Todo S1 é necessariamente (mas não somente) S, porém todo S não é necessariamente S1.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">- Neste caso, todo número (1, 2, 3) seria diferença específica, <b>que não está em S. Os números não podem estar contidos em S para que S seja genro. <o:p></o:p></b></span></p> <p class="MsoNormal"><b><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">- </span></b><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR">Aqui está o problema, porque tudo que é está em S (SER, ou seja, está no conjunto ser). Fora de S há apenas NADA (ou seja, nada há, “não existe” em sentido corriqueiro, "não é" em sentido próprio). Não sendo, não se pode dizer que “é 1, 2 ou 3”. Portanto, não há nada fora de S, e este não pode ser um gênero, porquanto admite apenas NADA fora de si, ou seja, não pode ter diferenças específicas e por conseguinte não pode ter espécies. Assim, SER não pode ser um gênero.</span></p><p class="MsoNormal"><br /></p><p class="MsoNormal">É simples e até bobo, eu sei, mas tem gente que consegue explicar isso mas pensa como se não tivesse entendido.<br /><span style="font-size: 10pt;" lang="PT-BR"><o:p></o:p></span></p>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-55777614742676246222008-11-23T06:44:00.000-08:002008-11-23T07:09:34.137-08:00Pela Igreja do DiaboAproveitando a deixa da última postagem, trago este ensaio, que dialoga com o conto do Machado.<br />Não há pretensão alguma de explicação ou mediação, apenas de tentar prolongar e manter o que ele diz.<br /><br /><br />A REINVENÇÃO DO DIVINO<br />Uma interpretação da questão humana em “A Igreja do Diabo”<br /> <br /> <br />A questão essencial de “A Igreja do Diabo” é a indefinição da essência humana em relação à divina, ironizada no texto pelo questionamento da instituição eclesiástica e do sagrado, do divino.<br />”A Igreja do Diabo” abre o livro de contos em que se encontra, chamado “Histórias sem Data”. Como diz o autor na “Advertência da 1.ª Edição”, o título não significa que se tratará de um amontoado de histórias não datadas, sem sua devida referência histórica de produção. “Histórias sem Data” significa histórias que se fazem e são feitas fora de um ponto no tempo, mas que acontecem num tempo próprio e originário. Não só é indeterminada, como gera as determinações. Dessa maneira, as histórias contadas se situam num plano mítico e misterioso, à maneira da volta à origem dos séculos efetuada por Brás Cubas em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, em que o regresso cronológico se transmuta em um mergulho às esferas originárias da existência e da realidade na iniciação com Pandora. Essas histórias não ocorrem num dia específico; sua historicidade decorre de sua permanência. São histórias que moldam o dia e tudo o que acontece nele. <br />No caso específico do conto, aquilo que é histórico se apresenta como a presença do sagrado consagrando a existência diária de cada homem, entre o divino e o diabólico. “A Igreja do Diabo” também torna significativo ser o conto que abre “Histórias sem Data”. Dentro da obra, o conto será o primeiro e também o criador dos demais, ao situar e fazer a gênese, entre Deus e Diabo, do homem contraditório e múltiplo. A imagem e dimensão da ordem cósmica tem seu correspondente na ordem dos contos no livro. Os contos posteriores, portanto, devem seu centro à primordial visão e construção da ambigüidade humana feita no conto inicial. Entretanto, estamos apenas mostrando o nexo entre o conto e o livro, a parte e seu todo. Como argumenta Ronaldes de Melo e Souza (2006), essa configuração tem respaldo em toda a obra machadiana, já que esta se caracteriza, no plano narrativo, pela configuração do narrador como ator dramático, que desempenha vários papéis, formando personagens e interpretações complexas do homem e do real.<br />Lembrando a raiz grega de história, historéo, que diz investigar, narrar e testemunhar, a ausência de data indica, primeiramente, a situação espaço-temporal indeterminada do que vai se narrar. Isso implica que cada história tem um historiador. No conto de Machado, esse jogo se faz através de um manuscrito beneditino, cuja história é recontada e ficcionalizada pelo narrador. O caráter radicalmente histórico se mostra no conto como criação e recriação: não há um fato verdadeiro, mas um acontecimento. A narrativa será conjugada a partir da perspectiva do Diabo, desde a idéia de fundar uma igreja até o momento final, quando Deus termina o processo de diagnose diabólica do homem. <br />Diferentemente de Brás Cubas, aqui será o Diabo que percorrerá os caminhos da descoberta da existência humana. Esse caminho de descoberta e tentativa de conquista será traçado pela idéia de montar uma igreja, análoga a oficial, mas que cultuasse ao Diabo e seus vícios defendidos, para ser a única igreja, a única religião:<br /> <br />— Vá, pois, uma igreja, concluiu ele. Escritura contra Escritura, breviário contra breviário. Terei a minha missa, com vinho e pão à farta, as minhas prédicas, bulas, novenas e todo o demais aparelho eclesiástico. O meu credo será o núcleo universal dos espíritos, a minha igreja uma tenda de Abraão. E depois, enquanto as outras religiões se combatem e se dividem, a minha igreja será única; não acharei diante de mim, nem Maomé, nem Lutero. Há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo.<br /> <br />Nessa reflexão do Diabo, incorporado pelo narrador, vemos o questionamento cômico da instituição clerical da igreja cristã, que perde todo seu ar solene e sagrado e se reduz a um conjunto de procedimentos. Tanto a ideologia cristã, quanto a diabólica aqui são intercambiáveis: dividem o mesmo lugar (igreja), os mesmos preceitos (Escritura). No fundo, o autor identifica as demais religiões, como sistemas teológicos que arrolam para si a verdade fundamental sobre o além-humano e o sagrado. Ora, pela idéia do Diabo, questiona-se se a religião se identifica com a transformação do sagrado e do espírito humano na igreja, que reúne como símbolo toda a materialidade da igreja secular. A igreja não indica a presença de Deus, mas antes sua ausência. Entendemos essa relação quando pensamos o cemitério, que faz presente uma ausência de vida; como sua raiz grega indica (LIDDELL & SCOTT, 1996), o cemitério marca algo (os mortos) para serem mantidos (da vida). A busca do Diabo consiste em fazer de sua igreja e sua teo-cosmo-socio-logia a reunião uniforme e sincrética da existência humana, exatamente porque se espelha nele, o Diabo. Por esse motivo é que o narrador ironizará ambas as igrejas e suas respectivas virtudes, porque não têm fundamento no homem concreto, mas antes em suas próprias idealidades divinas e sobre-humanas. O método ficcional para tal, como apontamos, é a narração a partir da visão das entidades divinas.<br />A intenção do Diabo de se separar e dominar as demais religiões provém não só da ironia do autor quanto à identidade profunda delas, mas de uma requisição do próprio Diabo expressa em sua etimologia: dia-ballein diz dar-se numa separação, numa cisão. Porém, como o conto mostra em sua consumação, o princípio de separação é também o mesmo de reunião. Fundar uma nova religião é, ainda, fundar uma religião, equivalendo-se todas, assim. O Diabo gera não só uma separação entre a sua religião e as demais, mas também entre a essência do homem em seu sistema e a essência do homem das demais. Para tal, dirige-se a Deus, para anunciar e impor-lhe sua noção de homem:<br /> <br />— Não venho pelo vosso servo Fausto, respondeu o diabo rindo, mas por todos os Faustos do século e dos séculos. <br /> (...)<br />— Só agora é que concluí uma observação, começada desde alguns séculos, e é que as virtudes, filhas do céu, são em grande número comparáveis a rainhas, cujo manto de veludo rematasse em franjas de algodão. Ora, eu proponho-me a puxá-las por essa franja, e trazê-las todas para minha igreja; atrás dela virão as de seda pura...<br /> <br /> Após afirmar, pela referência intertextual à figura mítica de Fausto, que não está a disputar um homem, mas a essência de todo homem, o Diabo explica a implementação de seu sistema criticando a ideologia cristã. Para suplantar as virtudes correntes, inverterá os seus preceitos. Se antes as virtudes cristãs se baseavam numa recusa à vontade e negação do corpo, o Diabo, por sua natureza, negará a negação, preconizando agora todas as “virtudes” terrenas, da vontade e do corpo. A metáfora das virtudes, as rainhas e suas capas prevê a possibilidade de tornar diabólicas as virtudes cristãs, de que dentro de todo virtuoso existe um pecador, aguardando ter sua capa de virtude descida e vestir a do pecado, assenhorando-se do lugar humano.<br /> Após essa exposição, o Diabo recebe a seguinte resposta de Deus, o princípio unificante do cosmos: a existência do pecado e sua disseminação não é novidade, já que a igreja divina o tenta suprimir pela virtude. A tendência divisora diabólica e a unificadora divina entram num litígio teológico opositivo, sem chegar a nenhuma conclusão: cada ideologia se mantém firme diante e contra a outra. Há a ironia da tentativa da fundação de uma igreja diabólica mais uma vez, pois Deus diz ao Diabo que seu sistema repousa sobre idéias antigas e vagas. Porém, não só a do Diabo: ambas as igrejas se repelem diante da oposição desarmônica entre pecado e virtude. <br /> O Diabo retorna para a terra e começa a disseminar sua moral, fundando sua igreja nos vícios humanos, entre eles o egoísmo supremo. A separação ou discórdia entre os homens é uma outra manifestação do próprio Diabo, por sua faceta divisora e abismal. Num primeiro momento, o Diabo vê uma ampla aceitação e prática das novas virtudes, mas logo percebe que as antigas virtudes continuam sendo praticadas, ainda que às escondidas. A virtude torna-se pecado e o pecado torna-se virtude. O que se sugere aqui é que o sagrado não se restringe à igreja e à máquina eclesiástica, e também é independente da ideologia ou meio. A experiência de epifania do real se manifesta na arte, na religião, no pensamento, no amor, de maneira própria a cada um. O sagrado, dessa forma, habita a dimensão da existência humana e seu mundo, tornando toda vida sagrada. A frustração do Diabo foi perceber que o âmbito da vida e existência humana é mais radical e contraditória, são multiplicidades em coabitação e tensão. A doutrina de sua igreja não circunscreve a essência do homem por excluir a identidade da diferença, ilhando cada homem em sua subjetividade irreflexiva radical, agindo totalmente em proveito próprio e sem virtudes. O Diabo não compartilha e nem pode compartilhar da essência cindida do homem, de ao mesmo tempo estar sempre próximo do outro e distante, daí a impossibilidade de terminar com a solidariedade: o homem não pode ser só distante, mas está sempre em conflito consigo mesmo e com os outros. <br /> Após essa descoberta, o Diabo inquire Deus sobre seu fracasso. Deus aponta a reversibilidade de virtude e pecado e como esse movimento configura a “eterna contradição humana”. O divino reunirá os opostos do diabólico na unidade tensional do homem.<br /> A igreja não traz a libertação do homem, mas a fuga da igreja é que traz sua libertação. O conto localiza o sagrado no lugar propriamente humano e não em uma entidade destacada da realidade. As figuras de Deus e do Diabo, ainda que potências distintas, são unas, e só possuem no homem seu princípio e realização últimas. Em outras palavras, Deus e Diabo sofrem uma inversão e passam, de fonte do sagrado a uma das possíveis realizações do mesmo. Eles compõem, em conjunto, a contradição do homem. Aqui, a ironização dos deuses demove-os de uma perfeição e completude, por terem uma identidade e escopo bem delimitados e prontos. A inventividade humana supera as ideologias e identidades unitárias de Deus e do Diabo e consegue se situar em um intermédio, a escadaria entre a igreja das graças e prazeres e a rua dos eventos corriqueiros. Só a ética humana concilia Deus e Diabo e lhes garante o sagrado. <br /> Para além do bem e do mal, “a morada do homem não tem controle, a divina tem”, como diz o fragmento 78, do pensador Heráclito. No conto, demonstra-se que a morada do homem não tem controle pelo ponto de vista dos deuses e demônios, e dessa forma decaem em sua estaticidade. O criativo, a abertura para experiências humanizantes do sagrado não repousa em aderir a uma seita ou conjunto de regras, mas em sua a capacidade de criar mundo. Caso contrário, a essência do homem e sua felicidade poderiam ser prescritas e descobertas, feitas paradigmas. É pela impossibilidade de fazer o homem se assemelhar a Deus ou ao Diabo que suas igrejas falham. O homem dá e tira sentido, é criador e destruidor. Nessa diferença radical se identifica cada homem consigo mesmo e com seus irmãos. Mas não é algo que já lhe é simplesmente dado: o homem se humaniza ao decorrer de sua vida, fazendo dela seu mais sagrado bem, por não estar delimitada, apenas esboçada. <br /><br />ANAXIMANDRO, PARMÊNIDES, HERÁCLITO. Os pensadores originários. 4ª ed. Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2005.<br />ASSIS, Machado de. “A Igreja do Diabo”. In: Obra Completa. vol. 2. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006.<br />CASTRO, Manuel Antonio de. O Acontecer Poético – A História Literária. Rio de Janeiro: Antares, 1982.<br />______. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994.<br />LIDDELL, Henry George; SCOTT, Robert. A Greek-English Lexicon. Oxford: Clarendon <br />Press, 1996.<br />SOUZA, Ronaldes de Melo e. O romance tragicômico de Machado de Assis. Rio de Janeiro, Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2006.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-50952809552561743242008-11-11T05:30:00.001-08:002008-11-11T05:36:37.245-08:00A IGREJA DO DIABO(brilhante conto de Machado de Assis, do livro Histórias sem Data. Rio de de Janeiro: Garnier, 2003,7a edição) <br /><br />CAPÍTULO I<br /><br /> <br /><br />DE UMA IDÉIA MIRÍFICA<br /><br /> <br /><br />Conta um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a idéia de fundar uma igreja. Embora os seus lucros fossem contínuos e grandes, sentia-se humilhado com o papel avulso que exercia desde séculos, sem organização, sem regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Vivia, por assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos. Nada fixo, nada regular. Por que não teria ele a sua igreja? Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de combater as outras religiões, e destruí-las de uma vez.<br /><br />- Vá, pois, uma igreja, concluiu ele. Escritura contra Escritura, breviário contra breviário. Terei a minha missa, com vinho e pão à farta, as minhas prédicas, bulas, novenas e todo o demais aparelho eclesiástico. O meu credo será o núcleo universal dos espíritos, a minha igreja uma tenda de Abraão. E depois, enquanto as outras religiões se combatem e se dividem, a minha igreja será única; não acharei diante de mim, nem Maomé, nem Lutero. Há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo.<br /><br />Dizendo isto, o Diabo sacudiu a cabeça e estendeu os braços, com um gesto magnífico e varonil. Em seguida, lembrou-se de ir ter com Deus para comunicar-lhe a idéia, e desafiá-lo; levantou os olhos, acesos de ódio, ásperos de vingança, e disse consigo: - Vamos, é tempo. E rápido, batendo as asas, com tal estrondo que abalou todas as províncias do abismo, arrancou da sombra para o infinito azul.<br /><br /> <br /><br />II<br /><br />ENTRE DEUS E O DIABO<br /><br /> <br /><br />Deus recolhia um ancião, quando o Diabo chegou ao céu. Os serafins que engrinaldavam o recém-chegado, detiveram-no logo, e o Diabo deixou-se estar à entrada com os olhos no Senhor.<br /><br />- Que me queres tu? perguntou este.<br /><br />- Não venho pelo vosso servo Fausto, respondeu o Diabo rindo, mas por todos os Faustos do século e dos séculos.<br /><br />- Explica-te.<br /><br />- Senhor, a explicação é fácil; mas permiti que vos diga: recolhei primeiro esse bom velho; dai-lhe o melhor lugar, mandai que as mais afinadas cítaras e alaúdes o recebam com os mais divinos coros...<br /><br />- Sabes o que ele fez? perguntou o Senhor, com os olhos cheios de doçura.<br /><br />- Não, mas provavelmente é dos últimos que virão ter convosco. Não tarda muito que o céu fique semelhante a uma casa vazia, por causa do preço, que é alto. Vou edificar uma hospedaria barata; em duas palavras, vou fundar uma igreja. Estou cansado da minha desorganização, do meu reinado casual e adventício. É tempo de obter a vitória final e completa. E então vim dizer-vos isto, com lealdade, para que me não acuseis de dissimulação... Boa idéia, não vos parece?<br /><br />- Vieste dizê-la, não legitimá-la, advertiu o Senhor,<br /><br />- Tendes razão, acudiu o Diabo; mas o amor-próprio gosta de ouvir o aplauso dos mestres. Verdade é que neste caso seria o aplauso de um mestre vencido, e uma tal exigência... Senhor, desço à terra; vou lançar a minha pedra fundamental.<br /><br />- Vai<br /><br />- Quereis que venha anunciar-vos o remate da obra?<br /><br />- Não é preciso; basta que me digas desde já por que motivo, cansado há tanto da tua desorganização, só agora pensaste em fundar uma igreja?<br /><br />O Diabo sorriu com certo ar de escárnio e triunfo. Tinha alguma idéia cruel no espírito, algum reparo picante no alforje da memória, qualquer coisa que, nesse breve instante da eternidade, o fazia crer superior ao próprio Deus. Mas recolheu o riso, e disse:<br /><br />- Só agora concluí uma observação, começada desde alguns séculos, e é que as virtudes, filhas do céu, são em grande número comparáveis a rainhas, cujo manto de veludo rematasse em franjas de algodão. Ora, eu proponho-me a puxá-las por essa franja, e trazê- las todas para minha igreja; atrás delas virão as de seda pura...<br /><br />- Velho retórico! murmurou o Senhor.<br /><br />- Olhai bem. Muitos corpos que ajoelham aos vossos pés, nos templos do mundo, trazem as anquinhas da sala e da rua, os rostos tingem-se do mesmo pó, os lenços cheiram aos mesmos cheiros, as pupilas centelham de curiosidade e devoção entre o livro santo e o bigode do pecado. Vede o ardor, - a indiferença, ao menos, - com que esse cavalheiro põe em letras públicas os benefícios que liberalmente espalha, - ou sejam roupas ou botas, ou moedas, ou quaisquer dessas matérias necessárias à vida... Mas não quero parecer que me detenho em coisas miúdas; não falo, por exemplo, da placidez com que este juiz de irmandade, nas procissões, carrega piedosamente ao peito o vosso amor e uma comenda... Vou a negócios mais altos...<br /><br />Nisto os serafins agitaram as asas pesadas de fastio e sono. Miguel e Gabriel fitaram no Senhor um olhar de súplica, Deus interrompeu o Diabo.<br /><br />- Tu és vulgar, que é o pior que pode acontecer a um espírito da tua espécie, replicou-lhe o Senhor. Tudo o que dizes ou digas está dito e redito pelos moralistas do mundo. É assunto gasto; e se não tens força, nem originalidade para renovar um assunto gasto, melhor é que te cales e te retires. Olha; todas as minhas legiões mostram no rosto os sinais vivos do tédio que lhes dás. Esse mesmo ancião parece enjoado; e sabes tu o que ele fez?<br /><br />- Já vos disse que não.<br /><br />- Depois de uma vida honesta, teve uma morte sublime. Colhido em um naufrágio, ia salvar-se numa tábua; mas viu um casal de noivos, na flor da vida, que se debatiam já com a morte; deu-lhes a tábua de salvação e mergulhou na eternidade. Nenhum público: a água e o céu por cima. Onde achas aí a franja de algodão?<br /><br />- Senhor, eu sou, como sabeis, o espírito que nega.<br /><br />- Negas esta morte?<br /><br />- Nego tudo. A misantropia pode tomar aspecto de caridade; deixar a vida aos outros, para um misantropo, é realmente aborrecê-los...<br /><br />- Retórico e sutil! exclamou o Senhor. Vai; vai, funda a tua igreja; chama todas as virtudes, recolhe todas as franjas, convoca todos os homens... Mas, vai! vai!<br /><br />Debalde o Diabo tentou proferir alguma coisa mais. Deus impusera-lhe silêncio; os serafins, a um sinal divino, encheram o céu com as harmonias de seus cânticos. O Diabo sentiu, de repente, que se achava no ar; dobrou as asas, e, como um raio, caiu na terra.<br /><br /> <br /><br /> <br /><br />Ill<br /><br />A BOA NOVA AOS HOMENS<br /><br /> <br /><br />Uma vez na terra, o Diabo não perdeu um minuto. Deu-se pressa em enfiar a cogula beneditina, como hábito de boa fama, e entrou a espalhar uma doutrina nova e extraordinária, com uma voz que reboava nas entranhas do século. Ele prometia aos seus discípulos e fiéis as delícias da terra, todas as glórias, os deleites mais íntimos. Confessava que era o Diabo; mas confessava-o para retificar a noção que os homens tinham dele e desmentir as histórias que a seu respeito contavam as velhas beatas.<br /><br />- Sim, sou o Diabo, repetia ele; não o Diabo das noites sulfúreas, dos contos soníferos, terror das crianças, mas o Diabo verdadeiro e único, o próprio gênio da natureza, a que se deu aquele nome para arredá-lo do coração dos homens. Vede-me gentil a airoso. Sou o vosso verdadeiro pai. Vamos lá: tomai daquele nome, inventado para meu desdouro, fazei dele um troféu e um lábaro, e eu vos darei tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo...<br /><br />Era assim que falava, a princípio, para excitar o entusiasmo, espertar os indiferentes, congregar, em suma, as multidões ao pé de si. E elas vieram; e logo que vieram, o Diabo passou a definir a doutrina. A doutrina era a que podia ser na boca de um espírito de negação. Isso quanto à substância, porque, acerca da forma, era umas vezes sutil, outras cínica e deslavada.<br /><br />Clamava ele que as virtudes aceitas deviam ser substituídas por outras, que eram as naturais e legítimas. A soberba, a luxúria, a preguiça foram reabilitadas, e assim também a avareza, que declarou não ser mais do que a mãe da economia, com a diferença que a mãe era robusta, e a filha uma esgalgada. A ira tinha a melhor defesa na existência de Homero; sem o furor de Aquiles, não haveria a Ilíada: "Musa, canta a cólera de Aquiles, filho de Peleu"... O mesmo disse da gula, que produziu as melhores páginas de Rabelais, e muitos bons versos do Hissope; virtude tão superior, que ninguém se lembra das batalhas de Luculo, mas das suas ceias; foi a gula que realmente o fez imortal. Mas, ainda pondo de lado essas razões de ordem literária ou histórica, para só mostrar o valor intrínseco daquela virtude, quem negaria que era muito melhor sentir na boca e no ventre os bons manjares, em grande cópia, do que os maus bocados, ou a saliva do jejum? Pela sua parte o Diabo prometia substituir a vinha do Senhor, expressão metafórica, pela vinha do Diabo, locução direta e verdadeira, pois não faltaria nunca aos seus com o fruto das mais belas cepas do mundo. Quanto à inveja, pregou friamente que era a virtude principal, origem de prosperidades infinitas; virtude preciosa, que chegava a suprir todas as outras, e ao próprio talento.<br /><br />As turbas corriam atrás dele entusiasmadas. O Diabo incutia-lhes, a grandes golpes de eloqüência, toda a nova ordem de coisas, trocando a noção delas, fazendo amar as perversas e detestar as sãs.<br /><br />Nada mais curioso, por exemplo, do que a definição que ele dava da fraude. Chamava-lhe o braço esquerdo do homem; o braço direito era a força; e concluía: muitos homens são canhotos, eis tudo. Ora, ele não exigia que todos fossem canhotos; não era exclusivista. Que uns fossem canhotos, outros destros; aceitava a todos, menos os que não fossem nada. A demonstração, porém, mais rigorosa e profunda, foi a da venalidade. Um casuísta do tempo chegou a confessar que era um monumento de lógica. A venalidade, disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos os direitos. Se tu podes vender a tua casa, o teu boi, o teu sapato, o teu chapéu, coisas que são tuas por uma razão jurídica e legal, mas que, em todo caso, estão fora de ti, como é que não podes vender a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, a tua fé, coisas que são mais do que tuas, porque são a tua própria consciência, isto é, tu mesmo? Negá-lo é cair no obscuro e no contraditório. Pois não há mulheres que vendem os cabelos? não pode um homem vender uma parte do seu sangue para transfundi-lo a outro homem anêmico? e o sangue e os cabelos, partes físicas, terão um privilégio que se nega ao caráter, à porção moral do homem? Demonstrando assim o princípio, o Diabo não se demorou em expor as vantagens de ordem temporal ou pecuniária; depois, mostrou ainda que, à vista do preconceito social, conviria dissimular o exercício de um direito tão legítimo, o que era exercer ao mesmo tempo a venalidade e a hipocrisia, isto é, merecer duplicadamente. E descia, e subia, examinava tudo, retificava tudo. Está claro que combateu o perdão das injúrias e outras máximas de brandura e cordialidade. Não proibiu formalmente a calúnia gratuita, mas induziu a exercê-la mediante retribuição, ou pecuniária, ou de outra espécie; nos casos, porém, em que ela fosse uma expansão imperiosa da força imaginativa, e nada mais, proibia receber nenhum salário, pois equivalia a fazer pagar a transpiração. Todas as formas de respeito foram condenadas por ele, como elementos possíveis de um certo decoro social e pessoal; salva, todavia, a única exceção do interesse. Mas essa mesma exceção foi logo eliminada, pela consideração de que o interesse, convertendo o respeito em simples adulação, era este o sentimento aplicado e não aquele.<br /><br />Para rematar a obra, entendeu o Diabo que lhe cumpria cortar por toda a solidariedade humana. Com efeito, o amor do próximo era um obstáculo grave à nova instituição. Ele mostrou que essa regra era uma simples invenção de parasitas e negociantes insolváveis; não se devia dar ao próximo senão indiferença; em alguns casos, ódio ou desprezo. Chegou mesmo à demonstração de que a noção de próximo era errada, e citava esta frase de um padre de Nápoles, aquele fino e letrado Galiani, que escrevia a uma das marquesas do antigo regímen: "Leve a breca o próximo! Não há próximo!" A única hipótese em que ele permitia amar ao próximo era quando se tratasse de amar as damas alheias, porque essa espécie de amor tinha a particularidade de não ser outra coisa mais do que o amor do indivíduo a si mesmo. E como alguns discípulos achassem que uma tal explicação, por metafísica, escapava à compreensão das turbas, o Diabo recorreu a um apólogo: - Cem pessoas tomam ações de um banco, para as operações comuns; mas cada acionista não cuida realmente senão nos seus dividendos: é o que acontece aos adúlteros. Este apólogo foi incluído no livro da sabedoria.<br /><br /> <br /><br /> <br /><br />IV<br /><br />FRANJAS E FRANJAS<br /><br /> <br /><br />A previsão do Diabo verificou-se. Todas as virtudes cuja capa de veludo acabava em franja de algodão, uma vez puxadas pela franja, deitavam a capa às urtigas e vinham alistar-se na igreja nova. Atrás foram chegando as outras, e o tempo abençoou a instituição. A igreja fundara-se; a doutrina propagava-se; não havia uma região do globo que não a conhecesse, uma língua que não a traduzisse, uma raça que não a amasse. O Diabo alçou brados de triunfo.<br /><br />Um dia, porém, longos anos depois, notou o Diabo que muitos dos seus fiéis, às escondidas, praticavam as antigas virtudes. Não as praticavam todas, nem integralmente, mas algumas, por partes, e, como digo, às ocultas. Certos glutões recolhiam-se a comer frugalmente três ou quatro vezes por ano, justamente em dias de preceito católico; muitos avaros davam esmolas, à noite, ou nas ruas mal povoadas; vários dilapidadores do erário restituíam-lhe pequenas quantias; os fraudulentos falavam, uma ou outra vez, com o coração nas mãos, mas com o mesmo rosto dissimulado, para fazer crer que estavam embaçando os outros.<br /><br />A descoberta assombrou o Diabo. Meteu-se a conhecer mais diretamente o mal, e viu que lavrava muito. Alguns casos eram até incompreensíveis, como o de um droguista do Levante, que envenenara longamente uma geração inteira, e, com o produto das drogas socorria os filhos das vítimas. No Cairo achou um perfeito ladrão de camelos, que tapava a cara para ir às mesquitas. O Diabo deu com ele à entrada de uma, lançou-lhe em rosto o procedimento; ele negou, dizendo que ia ali roubar o camelo de um drogomano; roubou-o, com efeito, à vista do Diabo e foi dá-lo de presente a um muezim, que rezou por ele a Alá. O manuscrito beneditino cita muitas outra descobertas extraordinárias, entre elas esta, que desorientou completamente o Diabo. Um dos seus melhores apóstolos era um calabrês, varão de cinqüenta anos, insigne falsificador de documentos, que possuía uma bela casa na campanha romana, telas, estátuas, biblioteca, etc. Era a fraude em pessoa; chegava a meter-se na cama para não confessar que estava são. Pois esse homem, não só não furtava ao jogo, como ainda dava gratificações aos criados. Tendo angariado a amizade de um cônego, ia todas as semanas confessar-se com ele, numa capela solitária; e, conquanto não lhe desvendasse nenhuma das suas ações secretas, benzia-se duas vezes, ao ajoelhar-se, e ao levantar-se. O Diabo mal pôde crer tamanha aleivosia. Mas não havia duvidar; o caso era verdadeiro.<br /><br />Não se deteve um instante. O pasmo não lhe deu tempo de refletir, comparar e concluir do espetáculo presente alguma coisa análoga ao passado. Voou de novo ao céu, trêmulo de raiva, ansioso de conhecer a causa secreta de tão singular fenômeno. Deus ouviu-o com infinita complacência; não o interrompeu, não o repreendeu, não triunfou, sequer, daquela agonia satânica. Pôs os olhos nele, e disse:<br /><br />- Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana.Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-2226672451578097832008-10-29T12:14:00.000-07:002008-10-29T17:54:33.292-07:00O eterno problemaO eterno problema é que invertemos todos os princípios da política e infelizmente não mais a tratamos como coisa séria. Pensamos que ou tudo está perdido e não vale a pena falar, ou somos simpatizantes de partidos adeptos de ideologias massificadas. Inclusive os de <span style="color:#ff6666;">esquerda</span>, que por agregarem ideologias problemáticas, fazem seus adeptos caírem no erro do radicalismo vago.<br />A derrubada do sistema como alguns ainda insistem em querer, não é uma escolha, mas sim uma imposição tão precária como o sistema vigente, somos pouco eficazes em promover mudanças pequenas mas significativas. Como vamos então mudar o princípio de tudo em que estamos mergulhados? Queremos realmente mudar quando falamos em ideologias (diversas) ou apenas buscamos ser radicais adeptos das mudanças que nunca ocorrem?<br />Vamos sim buscar mudanças, mas mudanças pertinentes, coerentes e eficazes. Vamos buscar dentro da democracia a ruptura necessária, pois é só através de opinião, de pensamento particular que podemos ser nós mesmos. Ainda que essa mudança seja lenta é uma mudança válida. Vamos escolher nossos candidatos e não mais deixar que eles nos escolham, vamos ser mais participativos dentro de nossas possibilidades e fazer com que essas possibilidades se alarguem cada vez mais.<br />O que me preocupa, não é apenas a ignorância de muitos perante essa realidade, mas principalmente a ignorância da certeza burra, daquela que vem de fora e não de dentro. Votarmos <strong>nulo</strong> como forma de protesto é uma dessas certezas que fogem a verdadeira resolução do problema. Somos normalmente levados pelos “grupos” nos quais estamos inseridos e com isso nos isentamos da escolha mais importante, a de pensar por nós mesmos.<br />Não importam tanto assim os partidos, afinal é necessário (infelizmente) que cada candidato seja filiado a um partido para que possa concorrer a qualquer cargo público. Devemos, portanto, considerar a real concepção de política. Devemos dar os braços aos políticos que visam a política pela política. Ou como nos diria Platão, A POLÍTICA MESMA, pura em seus princípios, ética em sua ação.<br />Quero deixar claro que votar nulo não se trata do botão que apertamos na urna eleitoral, mas sim nos isentarmos da escolha da maneira que for, pois nos deixarmos levar por qualquer benefício próprio, não acompanharmos a campanha para que possamos fazer uma escolha consciente, escolhermos justificar a ausência do voto ao invés de comparecermos as urnas é nossa anulação de qualquer participação democrática.<br />Faço um apelo não apenas aos eleitores de pouco estudo que se deixam levar por promessas infundadas, discursos demagogos e medidas populistas, mas principalmente aos eleitores que se consideram letrados e possuem todas as condições sociais de fazerem sua escolha consciente, mas ainda assim optam pelo silêncio, pelo "protesto" do voto nulo, ou,pela renúncia de sua escolha. Vamos fazer de nossas posições, independente de quais forem elas, uma eterna possibilidade e não sua estagnação.Renata Renovatohttp://www.blogger.com/profile/12962053326642869126noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-84357955979531304302008-10-28T13:24:00.000-07:002008-10-28T13:34:32.714-07:00RELAÇÃO E DISTINÇÃO ENTRE OS ENTRES - de Fernando Pessoa<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_zMK4_7KTX3M/SQd2xytQ3nI/AAAAAAAAAFE/WFBOFeVciW8/s1600-h/F1-A0411.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 341px; height: 400px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_zMK4_7KTX3M/SQd2xytQ3nI/AAAAAAAAAFE/WFBOFeVciW8/s400/F1-A0411.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5262305287403003506" border="0" /></a>
<br /><img src="file:///C:/DOCUME%7E1/Diego/LOCALS%7E1/Temp/moz-screenshot.jpg" alt="" /><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:applybreakingrules/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:usefelayout/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Font Definitions */ @font-face {font-family:SimSun; panose-1:2 1 6 0 3 1 1 1 1 1; mso-font-alt:宋体; mso-font-charset:134; mso-generic-font-family:auto; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:3 135135232 16 0 262145 0;} @font-face {font-family:Sylfaen; panose-1:1 10 5 2 5 3 6 3 3 3; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:roman; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:67110535 0 0 0 159 0;} @font-face {font-family:"\@SimSun"; panose-1:2 1 6 0 3 1 1 1 1 1; mso-font-charset:134; mso-generic-font-family:auto; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:3 135135232 16 0 262145 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:Sylfaen; mso-fareast-font-family:SimSun; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:PT-BR;} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:72.0pt 90.0pt 72.0pt 90.0pt; mso-header-margin:35.4pt; mso-footer-margin:35.4pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR">Um ente, ou eu, qualquer existe essencialmente porque se sente, e sente-se porque se sente distinto de outro, ou de outros. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR"><span style=""> </span>Cada ente, visto que é o que é por natureza, e por natureza sente que o é, tende a sentir-se o que é o mais completamente possível; e, como o que se sente, o sente através de distinguir-se dos outros, e, portanto, de estar em relação com os outros, para sentir-se o que é o mais completamente possível, deve sentir-se o que é o mais relativamente possível, ou relacionadamente, possível.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR"><span style=""> </span>Para se sentir o que é o mais relativamente possível, força é que seja o mais relativo ou relacionado que pode ser, e que seja assim relativo ou relacionado com a maior perfeição, ou intensidade, possível. Quer isto dizer que, para um ente se sentir o mais possível a si-próprio ( o que quer dizer, para ser o mais possível ele-próprio) tem que sentir o mais absoluta e puramente possível a sua Relação. Ora a Relação só é absoluta quando é com Todo o relacionável, e só é inteira ou pura quando com cada relacionável é o mais possível, e o mais possível será mais puramente possível.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR"><span style=""> </span>Assim, para se sentir puramente Si-próprio cada ente tem que estar em relação com todos, absolutamente todos, os outros entes; e com cada um deles na mais profunda das relações possíveis. Ora a mais profunda das relações possíveis e a relação de identidade. Por isso, para se sentir puramente a si-próprio, cada ente tem que sentir-se todos os outros, e absolutamente consubstanciado com todos os outros.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR"><span style=""> </span>Ora isto não pode implicar fusão (de qualquer espécie) com os outros, pois assim o ente não se sentiria a si-próprio: sentir-se-á não-si-próprio, e não si-próprio-outros. Para não deixar de ser si-próprio, tem que continuar a ser distinto dos outros. Como, porém, nessa altura do relacionar-se, os outros são outros-ele, para ser distinto dos outros, ele tem que ser distinto dos outros-ele. Ser distinto dos outros-ele só pode dar-se sendo ele distinto de si-mesmo. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR"><span style=""> </span>Para ser distinto de si-mesmo sem ser outros, porque nesse caso não seria ele-mesmo, nem ser ele-mesmo, pois então não se distinguiria, ele tem que ser nem outros nem ele-mesmo, ele tem que ser a Essência de outros e de ele-mesmo, porque assim, sendo essência d´ele mesmo, de si-mesmo se distingue – como as próprias palavras, em que isto se diz, distinguem -, e sendo essência comum d´ele e de outros não se distingue dos outros, ou antes se indistingue dos outros pelo próprio processo por que se distingue de si-mesmo. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR"><span style=""> </span>Como, porém, o que há de comum entre ele e os outros é a Relação – porque pela Relação é que eles podem fundir-se ou entreser-se, e pela relação é que eles se distinguem – segue que é pela Relação que ele se distingue de si-mesmo. Este si-mesmo, porém, está nesta altura metafísica, já indistinto de outros, essa Relação, pela qual ele se distingue de si-mesmo, é a relação consigo-mesmo. A esta Relação chama-se Identidade.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR"><span style=""> </span>Ora, se um ser é tanto mais ele-próprio quanto mais pura e abstratamente é ele-próprio, e ele-próprio é fundamentalmente, como se viu, a Relação consigo-mesmo, segue que será tanto mais puramente ele-próprio quanto mais pura for essa relação consigo mesmo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR"><span style=""> </span>Ora, como a mais pura Relação é, como já se viu, a pura identificação, a mais pura relação de um ser consigo mesmo será (não a identificação absoluta, pois essa seria a pura não-relação) mas o consistir a essência desse ente em ser Relação Pura, não sendo esse ente mais que Relação abstracta.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR"><span style=""> </span>Ora se a Relação Pura, Abstracta, é que é a essência do ente, e se o ente puro é o ente puramente distinto de si-mesmo, segue que o ente puro é a Relação Pura puramente distinta de si-mesma.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR"><span style=""> </span>Ora relação implica distinção. Temos, pois que a Relação pura puramente distinta de si-mesma será uma pura distinção puramente distinta de si-mesma. A distinção pura, porém, é já, por o que é, puramente distinta, visto que é a distinção pura. Por isso a Relação Pura, só por ser a Relação Pura, é pura distinção. Mas se é por isso que é pura distinção, segue que é pura distinção por ser pura identidade, pois que é pura distinção por ser puramente aquilo que é (que é Relação Pura). De aqui se conclui que pura identidade e pura distinção são a mesma coisa; isto é, que a Identidade é a mesma coisa que a Distinção.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR"><span style=""> </span>Um ente qualquer é, pois, essencialmente identidade que é distinção.</span></p><meta name="Generator" content="Microsoft Word 10"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 10"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CDiego%5CLOCALS%7E1%5CTemp%5Cmsohtml1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:applybreakingrules/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:usefelayout/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Font Definitions */ @font-face {font-family:SimSun; panose-1:2 1 6 0 3 1 1 1 1 1; mso-font-alt:宋体; 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Estou eu em condição de apontar o justo e justicar minha escolha? Não sou eu susceptível ao erro, a parcialidade, a corrupção, a ignorância? Me questiono sobre a real liberdade de escolha que nós homens possuímos, por estarmos presos a nossa limitada condição humana. A condição da condicionalidade, a condição da falta de condição.<br />Somos nós condicionados aos nossos meios, aos nossos problemas, aos nossos obstáculos, aos nossos cotidianos, aos nossos círculos de amigos. Sim, somos condicionalmente condicionados, assustadoramente acomodados, insensivelmente separados em nossas pobres condições.<br />O perfil de cada um de nós, não é o perfil do um de muitos, mas sim o perfil de muitos presentificado num um que some dentre as opiniões massacrantes e condicionadas, dentre um mundo igualitarista dentro da diversidade e separatista dentro da comum igualdade. Nos igualamos dentre as mesmas condições que obtemos e nos separamos de tudo aquilo que foge a igualdade, de tudo aquilo que se mostra diferente, de tudo aquilo que se faz estranho... nos diferenciamos do que não conhecemos e nem procuramos conhecer, mas julgamos do íntimo de nossas razões massificadas, pois nossas vozes caladas falam em meio aos gritos das multidões ignorantes.<br />Um grupo não se faz ignorante dentro de sua condição de grupo, mas sim por sua condição de eterna igualdade. Igualdade que nos faz querer ouvir sempre as mesmas coisas, falar sempre as mesmas coisas, reclamar sempre as mesmas coisas, sem pensarmos sobre o que se faz realmente importante, sem considerarmos as diferenças do lado de fora, sem valorizarmos as individuais diferenças do lado de dentro.<br />O que é diferente <strong>é</strong> tanto quanto o que é igual, a diferença provoca o uso da razão, do pensamento, não do julgamento. Julgamos porque erramos, porque somos pobres homens divididos em grupos precursores e perpetuadores da ignorância, do medo da mudança, da estranha diferença... Somos por isso, reflexo das escolhas erradas baseadas em parcialidades mesquinhas, encurralados em nossas tristes condições encerradas por nós mesmos, sedentos de mudanças, mas medrosos perante as inovações.Renata Renovatohttp://www.blogger.com/profile/12962053326642869126noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-13994950727140318162008-10-15T15:55:00.000-07:002008-10-15T15:56:50.377-07:00ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE<div style="text-align: justify;">*Carta enviada de uma mãe para outra mãe em SP, após noticiário na tv:<br /><br />De mãe para mãe...<br /><br />Vi seu enérgico protesto diante das câmeras de televisão contra a<br />transferência do seu filho, menor infrator, das dependências da FEBEM em<br />São Paulo para outra dependência da FEBEM no interior do Estado.<br /><br />Vi você se queixando da distância que agora a separa do seu filho, das<br />dificuldades e das despesas que passou a ter para visitá-lo, bem como de<br />outros inconvenientes decorrentes daquela transferência.<br /><br />Vi também toda a cobertura que a mídia deu para o fato, assim como vi que<br />não só você, mas igualmente outras mães na mesma situação que você, contam<br />com o apoio de Comissões Pastorais, Órgãos e Entidades de Defesa de<br />Direitos Humanos, ONGs, etc...<br /><br />Eu também sou mãe e, assim, bem posso compreender o seu protesto.<br /><br />Quero com ele fazer coro.<br /><br />Enorme é a distância que me separa do meu filho.<br /><br />Trabalhando e ganhando pouco, idênticas são as dificuldades e as despesas<br />que tenho para visitá-lo.<br /><br />Com muito sacrifício, só posso fazê-lo aos domingos porque labuto,<br />inclusive aos sábados, para auxiliar no sustento e educação do resto da<br />família.<br /><br />Felizmente conto com o meu inseparável companheiro, que desempenha, para<br />mim, importante papel de amigo e conselheiro espiritual.<br /><br />Se você ainda não sabe, sou a mãe daquele jovem que o seu filho matou<br />estupidamente num assalto a uma vídeo locadora, onde ele, meu filho,<br />trabalhava durante o dia para pagar os estudos à noite.<br /><br />No próximo domingo, quando você estiver abraçando, beijando e fazendo<br />carícias no seu filho, eu estarei visitando o meu e depositando flores no<br />seu humilde túmulo, num cemitério da periferia de São Paulo...<br /><br />Ah! Ia me esquecendo: e também ganhando pouco e sustentando a casa, pode<br />ficar tranqüila, viu? que eu estarei pagando de novo, o colchão que seu<br />querido filho queimou lá na última rebelião da Febem.<br /><br />No cemitério, nem na minha casa, NUNCA apareceu nenhum representante<br />destas 'Entidades' que tanto lhe confortam, para me dar uma palavra de<br />conforto, e talvez me indicar 'Os meus direitos' !'<br /></div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-30354491630224194062008-10-13T06:02:00.000-07:002008-10-14T08:51:46.228-07:00MANOEL DE BARROS - entrevista com o maior poeta vivo do Brasil<div style="text-align: center;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;"><span style="font-style: italic;">Tudo que não invento é falso" - M. de Barros, de "Livro sobre Nada"</span></span></span><br /><span style="font-style: italic;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;">Muitos consideramos Manoel de Barros o maior poeta vivo do Brasil. O carinho pela linguagem, a ampla criatividade como correspondência ao simples, a liberdade obediente à palavra, são inúmeros os afluentes desta correnteza poética, que leva quem nela mergulha numa viagem por infâncias sem fim. Infância não como época sócio-biológica, mas sim - não poderia deixar de o ser quando poesia está em questão - como o que a própria palavra diz: aquele lugar originário em que não falamos, apenas escutamos. A leitura de Manoel de Barros é feita com os ouvidos.<br /></div><br /><div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_zMK4_7KTX3M/SPNK-uPmqEI/AAAAAAAAADc/fu7Tu7RC_8Q/s1600-h/17_MHG_manoel.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="http://2.bp.blogspot.com/_zMK4_7KTX3M/SPNK-uPmqEI/AAAAAAAAADc/fu7Tu7RC_8Q/s400/17_MHG_manoel.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5256627631497324610" border="0" /></a><span style="font-style: italic;font-size:85%;" >O poeta sulmatogrossens</span><span style="font-style: italic;"><span style="font-size:85%;">e em sua fazenda.</span><br /></span></div><br /><div style="text-align: justify;">Há que o chame de "Guimarães Rosa da poesia". Este tipo de comparação, por si, apesar de superficial, não é de todo injustificado. Porque a "prosa" de Rosa nada tem de prosaica no mau sentido de "ordinária". É, como toda boa prosa, poética, mas não por se construir retoricamente com recursos formais numa espécie de narrativa em versos. É poética porque faz sempre a exigência de uma leitura poética, criativa. Mas criativa não quer dizer que o sentido fica a cargo da receptividade estética de um sujeito criador. Leitura criativa na medida em que é concreta, em que "concresce" entre leitor e texto: isto é o que chamo de "obra", este acontecimento entre leitor e texto, entre autor e texto, que é mundo e também história. É esta a dimensão poética de Manoel de Barros, também.<br /></div><br /><div style="text-align: left;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_zMK4_7KTX3M/SPNLspuV7gI/AAAAAAAAADk/2Jr41Je8DVk/s1600-h/manoel1.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="http://1.bp.blogspot.com/_zMK4_7KTX3M/SPNLspuV7gI/AAAAAAAAADk/2Jr41Je8DVk/s400/manoel1.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5256628420558056962" border="0" /></a><span style="font-style: italic;"><span style="font-size:85%;">"Os poetas são sempre poetas da terra. Amam tanto a Linguagem que se identificaam com terra, sentido-lhe as vibrações pulsarem nas veias de suas poesias. Continuamente estão superando a dicotomia e alienação de homem e terra. (...) Para criar, não carecem de muito nem têm necessidade de grandeza ou de grandes quantidades. Numa haste de relva silvestre descobrem o infinito da Linguagem, que logo os transporta para a Terra-do-Sem-Fim, a paisagem do pensamento e da criação" - Emmanuel Carneiro Leão.</span><br /></span></div><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-style: italic;"><span style="font-weight: bold;font-size:85%;" >"Em torno fazia um pássaro<br />que seu canto finge com águas...<br />Você se beiradeava.<br />Eu me escorei o rosto nos silêncios."<br />(Manoel de Barros - de "Compêndio para uso dos pássaros")</span></span></div><br /><br /><div style="text-align: justify;">A poética de Manoel de Barros é prosaica. Só que no bom sentido, daquilo que remete ao simples sem ser simplista, daquilo que não é pretensioso. Portanto, daquilo que diz sem "querer dizer" demais. Não é tampouco formalismo sem sentido, o batido invencionismo das vanguardas da retaguarda. Portanto, a poesia de Manoel de Barros apenas diz. E este apenas não é pouco, porque lá a palavra, que "apenas" diz, se sustenta tão-somente em ser palavra. Não precisa ser "termo", "metáfora", "conceito", "signo", "sema" e demais entidades abstratas epistêmico-estéticas, por mais concretas que se autoproclamem. Manuel de Barros devolve à palavra o orgulho de ser palavra. Não por ser ele um gênio, mas por estar mesmo na simplicidade do seu próprio dizer, tão simples que é capaz de escutar a palavra, com o trato mundificante de uma criança, de quem está na "terceira infância", como diz o poeta. A palavra como palavra: não há outra tarefa para a poesia.<br /><br /><div style="text-align: center;"><a style="font-style: italic;" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_zMK4_7KTX3M/SPNPAKL7LnI/AAAAAAAAADs/iAqXGIEFc40/s1600-h/2018-1.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="http://1.bp.blogspot.com/_zMK4_7KTX3M/SPNPAKL7LnI/AAAAAAAAADs/iAqXGIEFc40/s400/2018-1.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5256632054224465522" border="0" /></a><span style="font-style: italic;"><span style="font-weight: bold;font-size:85%;" >"Do que não sei o nome eu guardo as semelhanças.<br />Não assento aparelhos para escuta<br />E nem levanto ventos com alavanca.<br />(Minha boca me derrama?)<br />Desculpem-me a falta de ignorãças.<br />Não uso de brasonar.<br />Meu ser se abre como um lábio para moscas.<br />Não tenho competências para morrer.<br />O alheamento do luar na água é maior do que o meu.<br />O céu tem mais inseto do que eu?"<br />(M. de Barros - de "O Livro das Ignorãças")</span><br /></span></div></div><br />Abaixo, uma das raras entrevistas concedidas pelo poeta, em quatro partes.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dzQTjsY-rJ6T5BR7LPvjrLU3r6g_N2zZetkQqdwBScmnVpQ6CKzKbPWg8DVC46kvxuJ4mqRq7NynuvM3oGyYA' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe><br /></div><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;"><span style="font-style: italic;">"Escrevo em idioleto manoelês archaico (1) (Idioleto é o dialeto que os idiotas usam para falar com as paredes e com as moscas). Preciso de atrapalhar as significâncias. O despropósito é mais saudável do que solene. (Para limpar das palavras alguma solenidade - uso bosta.) Sou muito higiênico. E pois. O que ponho de cerebral nos meus escritos é apenas uma vigilância par não cair na tentação de me achar menos tolo que os outros. Sou bem conceituado para parvo. Disso forneço certidão.<br /><br />(1) Falar em archaico: aprecio uma desviação ortográfica para o archaico. Estâmago para estômago. Celeusma para celeuma. Seja este um gosto que vem de detrás. Das minhas memórias fósseis. Ouvir estâmago produz uma ressonância atávica dentro de mim. Coisa que sonha de retravés."<br />- Manoel de Barros, de "Livro sobre Nada"<br /></span></span></span></div><br /><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dyWCwVp0vXfmV6qP_OhK4P5WDV5aB5INTItrsMFx5QEZcKo8ApJ5qszJGgumlp3v1OVccqASbOg0L2WX96-gQ' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe><br /></div><div style="text-align: center;"><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;"><span style="font-style: italic;"><br />"Quis pegar<br />entre meus dedos<br />a Manhã.<br />Peguei vento."<br />- M. de Barros, de "Compêndio para uso dos Pássaros"<br /></span></span></span></div><br /></div><div style="text-align: left;"><br /><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dzqyJX2dittijo7uc78ERuOtuZYqSJRLlkfSVkLaqHgx6kSMJ-Wyrw5V8NcUfN54PZQVGHDtnPzrvM0DZhy2g' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe><br /></div><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;"><span style="font-style: italic;">"(Manoel) - De fato, você chega no fim e você não sabe nada, porque não sabe o sentido da vida. Você não sabe nada. Você sabe discutir coisas aqui, mas o sentido da vida, essa incompletude que agente tem - nós somos incompletos, sentimos incompletude - só pode ser completada com "o mistério". </span></span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;"> </span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;"><span style="font-style: italic;"> -Esse pedaço que é incompleto você só pode completar com "o mistério". É "o obscuro".</span></span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;"> </span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;"><span style="font-style: italic;"> - É a coisa mais real. </span></span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;"> </span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;"><span style="font-style: italic;"> (entrevistador) - O mistério tem uma consistência de pedra para você, não é?</span></span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;"> </span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;"><span style="font-style: italic;">(Manoel) - Tem."</span></span></span><br /></div><span style="font-size:85%;"><span style="font-weight: bold;"><span style="font-style: italic;"><br /></span></span></span> <div style="text-align: left;"><br /><br /></div><br /></div><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dyUU34sHdna8YPRxTcNquVe4S6xU-A3TZhv0B-mDdq2OAEyAbFHLHgLnx1HYJ6AddhjhZ_o8joH768BS203RA' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe></div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-65162176406038077642008-10-10T09:18:00.000-07:002008-10-10T10:48:29.865-07:00VOTE EM MIM, HO, HO, HOOOO!!!Em algumas discussões sobre política um tanto informais, daquelas a que todo mundo se entrega com amigos de vez em quando, percebi que é muito comum as pessoas admirarem políticos por suas ações "beneficentes".<br /><br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_zMK4_7KTX3M/SO-H7Nc_dJI/AAAAAAAAADU/IpWpiHA69Yg/s1600-h/omg-santa-250-x-335.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="http://1.bp.blogspot.com/_zMK4_7KTX3M/SO-H7Nc_dJI/AAAAAAAAADU/IpWpiHA69Yg/s400/omg-santa-250-x-335.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5255568741457949842" border="0" /></a><br />Beneficente é o que faz o bem. Com certeza um político "do bem", é melhor do que um "do mal". Mas a julgar por isso, há realmente muito poucos políticos "do mal" no Brasil. Por que então a situação - de modo todo próprio relacionada à política - vai tão mal no Brasil? Por que não se vê melhoras de relevância, já que há tantos políticos "do bem"?<br /><br />Todos os candidatos são tão bondosos, cheios de amor para dar, que suspeito - é conjectura, mesmo - que em época de eleição deve cair o número de suicídios e haver grandes melhoras em quadros de depressão. Como nos sentimos tão amados em época de eleição! Cheios de amigos e pessoas que dedicam suas vidas a nós! Quanta caridade vemos ser feita por todos, quantas obras beneficentes!<br /><br />Época de eleição é uma espécie de "natal para todos": adultos, velhos e crianças, ricos e pobres, heteros e homos, índios, brancos e negros, todos... à espera do papai noel vestido de candidato. Comportar-se como um bom menino é ter carência de alguma coisa, qualquer coisa. Só isso já justifica a visita do papai noel político, entrando pela chaminé da sua crise. A cartinha... bem, essa é o voto. Tem que fazer, fielmente, toda eleição, para o papai noel mais dadivoso.<br /><br />É justamente o X do problema: político bom, não é somente o sujeito "do bem", porque no frigir dos ovos a imensa maioria dos seres humanos é gente de bem. Isso não quer dizer que estas pessoas sejam bons estadistas, bons políticos. Ser "bonzinho" é condição necessária, mas não suficiente. Política eficiente não se assemelha a tal "papainoelismo" político, que abunda no Brasil.<br /><br />Fazer caridade pressupõe:<br />- pobreza;<br />- dependência do caridoso;<br />- manutenção da ausência de condições de ter dignidade por meios próprios;<br /><br />Vejam bem: não sou contra caridade! É coisa muito nobre! Mas não precisamos de governadores, deputados, senadores e presidentes para isso! O que sou contra é confundir política com caridade! Projetos políticos sérios, eficientes e politicamente corretos (e não apenas moralmente corretos, como é o caso da caridade) são aqueles que não vinculam o beneficiado ao seu benfeitor, libertando-o na medida em que garante a dignidade conquistada por meios próprios.<br /><br />Por exemplo, um projeto "político" que consista numa fundação beneficente, cujos recursos são obtidos por meio da venda de CDs, Livros, etc, de determinado político, muito embora seja um projeto "do bem", não é um projeto politicamente bom. Porque se as vendas dos CDs, Livros, etc, caem, cai também o projeto. Se o político morre, morre também o projeto. Aliás, isto pode funcionar como um mecanismo de retroalimentação publicitária, pois as pessoas, sabendo que ao comprarem determinado produto estão ajudando o projeto de tal político, tedem a comprar mais e sempre mais os produtos vendidos pelo político "do bem". No fim das contas, o nome do político é que recebe os louros da glória, quando na verdade é o dinheiro do comprador que sustenta o seu projeto, é com o dinheiro do povo que o político diz "eu faço!" com a cara mais deslavada, sem sequer mencionar a contribuição VITAL do povo comprador.<br /><br />Um projeto político bom, deve ser do bem, mas deve estar vinculado ao Estado, uma instituição duradoura e pública, não a uma pessoa moral, a um indivíduo em particular. Isto é parte da democracia saudável. Um projeto político bom, falando em termos simples, não deve "dar o peixe", mas ensinar a usar a vara, o anzol, baratear a isca e garantir acesso ao rio ou ao mar.<br /><br />Portanto, às vezes, um candidato "do bem" enquanto pessoa, é "mau" enquanto político, muito embora não seja um político "do mal". Devemos atentar para as sutilezas na hora de pensar em quem votar.<br /><br />O Papai noel é bonzinho, tem bochechas rosadas e coração de mãe. Já o bom político pode até assustar as criancinhas, mas vai lhes dar muito mais do que um carrinho ou uma boneca uma vez por ano. Vai lhes dar condições de aprender e de construir o que quiserem, pois pode ser que estejam cansadas de bonecas e carrinhos.Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-37353490453488331632008-10-09T10:07:00.000-07:002008-10-09T10:27:31.378-07:00A LINGUAGEM NA POESIA - Uma colocação a partir da poesia de Georg Trakl<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.brown.edu/Departments/Joukowsky_Institute/Harmansah/images/heidegger.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px;" src="http://www.brown.edu/Departments/Joukowsky_Institute/Harmansah/images/heidegger.jpg" alt="" border="0" /></a><span style="font-weight: bold;"><span style="font-style: italic;"><span style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;"><span style="font-weight: bold;"><br /></span></span></span></span></span></span><span style="font-style: italic;">(talvez uma das melhores formas de compreender a experiência de linguagem proposta por Heidegger seja fazer caminhadas em meio à natureza, tal como o filósofo da Floresta Negra costumava fazer)</span><span style="font-style: italic;"></span></div><br /><div style="text-align: center;"><style> <!-- /* Font Definitions */ @font-face {font-family:SimSun; panose-1:2 1 6 0 3 1 1 1 1 1; mso-font-alt:\5B8B\4F53; mso-font-charset:134; mso-generic-font-family:auto; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:3 135135232 16 0 262145 0;} @font-face {font-family:Sylfaen; panose-1:1 10 5 2 5 3 6 3 3 3; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:roman; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:67110535 0 0 0 159 0;} @font-face {font-family:"\@SimSun"; panose-1:2 1 6 0 3 1 1 1 1 1; mso-font-charset:134; mso-generic-font-family:auto; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:3 135135232 16 0 262145 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:Sylfaen; mso-fareast-font-family:SimSun; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:PT-BR;} p.MsoFootnoteText, li.MsoFootnoteText, div.MsoFootnoteText {mso-style-noshow:yes; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:Sylfaen; mso-fareast-font-family:SimSun; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:PT-BR;} span.MsoFootnoteReference {mso-style-noshow:yes; vertical-align:super;} span.GramE {mso-style-name:""; mso-gram-e:yes;} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:72.0pt 90.0pt 72.0pt 90.0pt; mso-header-margin:35.4pt; mso-footer-margin:35.4pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><div class="Section1"> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span lang="PT-BR">Obs.: </span></b><span lang="PT-BR">Dado o teor imagético e criativo da interpretação de H. da poética de Trakl, que resulta num texto filosófico extremamente poético, nenhuma interpretação sistemática é possível, pois mataria o próprio vigor do texto. Tento aqui <span class="GramE">uma interpretação também criativa e imagética, que creio ser correspondente ao esforço de H. na interpretação dos poemas de Trakl</span>.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 36pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR"><o:p> </o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 36pt; text-align: justify;"><br /><span lang="PT-BR"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 36pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR"><o:p><br /></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 36pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR">Busca-se encontrar o lugar da poesia, para tanto, é preciso aproximar-se de um poema. Mas a aproximação de um poema se persegue a partir de um aceno do lugar da poesia. Lugar é o ponto onde tudo convege [1]<span style="text-decoration: underline;"></span><a title="" style="" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=4664242513307854083#_ftn1" name="_ftnref1"></a>. Todo poema genuíno, assim, é um lugar de poesia, posto que nele converge toda uma poética. Do mesmo modo, “todo poeta só é poeta de uma única poesia” (27), mas não de um único poema, pois “A poesia de um poeta está sempre impronunciada. Nenhum poema isolado e nem mesmo o conjunto de seus poemas diz tudo. Cada poema fala, no entanto, a partir da totalidade dessa única poesia, dizendo-a sempre a cada vez.” (28) Isto é,<span style=""> </span>a poesia é aquilo que está sempre por dizer, por ser recriada – porque cada interpretação a deixa brilhar “como numa primeira vez<span class="GramE">”(</span>28) - , na medida em que a poesia de um poema é o sentido que eclode em cada interpretação obediente à sua poética. Esta poesia, é a fonte do que externamente se apreende nas teorias literárias como ritmo. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 36pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR">Há dois tipos de diálogo próprio com a poesia: 1. o diálogo poético; 2. o diálogo do pensamento, pela relação distinta e privilegiada de ambos com a linguagem, “(...) para que os mortais aprendam novamente a morar na linguagem.” (28). Este último é sempre <i>demorado </i>(28) e <i>perigoso, </i>porque pode calar o canto da poesia (29). “Não se trata de apresentar a visão de mundo característica de um poeta, nem de revisitar sua oficina [2]<a title="" style="" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=4664242513307854083#_ftn2" name="_ftnref2"></a> (29) – este diálogo pode no máximo escutar no poema uma questão e pro-curar o seu sentido.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 36pt; text-align: center;" align="center"><b><span lang="PT-BR">I<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 36pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR">Aqui começa o comentário de vários versos esparsos de vários poemas de Trakl. O texto é imagético e não muito linear porque muito criativo, encaminhando as seguintes interpretações: 1. O poeta em um estranho, cuja alma (essência) consiste numa travessia ligada <span class="GramE">à</span> terra e aberta ao azul do céu, no lusco-fusco; 2. Este lusco-fusco não é apenas o crepúsculo (o declínio do ocidente, o fim da metafísica, o niilismo negativo), mas também a aurora (a possibilidade de um pensamento poético, algo novo) e, não sendo nem claridade, nem luz, este momento de indefinição é também, portanto, um momento de libertação; 3. Este referência entre luz e escuridão é criptofania do sagrado, cuja contemplação silenciosa permite reverter o que neste crepúsculo foi pensado ferina e selvagem oposição na suave reunião diferenciadora e acolhedora da manhã; 4. Por essa suave reunião, o <i>animal </i>(homem material) e o <i>espiritual </i><span style=""> </span>(homem ideal), se reúnem na figura do “animal azul selvagem” (36), os mortais, que buscam romper com a essência do homem (metafísica), numa busca que é como um percorrer (grego, <i>Iénai¸</i>indogermânico, <i>ier, </i>o ano) que articula tempo numa circularidade de primavera (manhã) e inverno (entardecer). Se aquela remete para um novo começo, para “(...) o lugar em que se resguarda e abriga uma outra nascente” (41), este outro aponta então não somente para o fim de uma ordem, para a ruptura, mas “(...) para um recolhimento, ou seja, para um lugar.” (42) Este é portanto, como nascimento e recolhimento, um <i>desprendimento</i>. Este seria um nome para o lugar da poesia de Trakl.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 36pt; text-align: center;" align="center"><b><span lang="PT-BR">II<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 36pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 36pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR">Desprender-se é um conduzir-se a um outro lugar, é abandonar-se para além da rota comum, pelo que o desprendido se considera normalmente como <i>delirante [3]. <span style="text-decoration: underline;"></span><a title="" style="" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=4664242513307854083#_ftn3" name="_ftnref3"></a></i>O poeta é um delirante, não porque balbucia coisas sem sentido, mas sim porque <i>mergulham, descem à profundeza do sentido, </i>como o jovem Elis na poesia de Trakl , que não se confunde com a pessoa do poeta, assim como Zaratustra desce de montanha, sem se confundir com a pessoa de Nietzsche. Nesse sentido, esta descida não é simples <i>decadentismo </i>ou <i>morte biológica,</i> mas a busca pelo <i>não-nascido </i>que “(...) repousa quieto na essência do homem.” (45), que é o espantoso, o estranho, o aceno de toda travessia, o desprendimento. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 36pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR">Deste modo, o fim poético não é o término, assim como o princípio não é o começo. O fim é o vigor por que um movimento se dá e o seu princípio é aquilo que está a todo tempo regendo o movimento, do início ao fim. Este movimento, em sentido próprio, não se calcula a partir de uma linearidade temporal. Ele articula, necessariamente, também uma temporalidade em sentido próprio: o tempo do vir a ser do que é, o tempo da presença como ausência, o tempo que <i>desprende </i>passado e futuro. “O desprendimento reúne e recolhe esse mútuo pertencer não posteriormente, mas desdobrando o recolhimento já dominante.” (48) <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 36pt; text-align: justify;"><span lang="PT-BR">Aquele que se lança ao desprendimento é tomado pelo divino, é <i>entusiasmado. </i>Isto não significa nada do “espiritualismo” ou “misticismo” que normalmente se representa quando se menciona possessão divina, como oposição ao materialismo. O poeta não entende “espírito” somente como sopro, que vai do sopro divino teológico ao sopro da razão científico [4]. <span style="text-decoration: underline;"></span><a title="" style="" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=4664242513307854083#_ftn4" name="_ftnref4"></a>Espírito, para o poeta é chama [5]. <a title="" style="" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=4664242513307854083#_ftn5" name="_ftnref5"></a>Por isso, o espírito é suave e confortante – acolhedor e amigo - ou destruidor e perigosos – <span class="GramE">licencioso e desgovernado, que causa o mal</span> do “(...) tumulto chamejante na cegueira do êxtase (...)”. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR">Há uma referência fundamental entre o ânimo da alma e o inflamar do espírito – o espírito é que dá ânimo <span class="GramE">a</span> alma, na medida em que por ele a alma se lança no destino, e assim alimenta o espírito. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR"><span style=""> </span>Esta travessia é, assim, boa, mas também dolorosa e, por esta mesma <i>disputa</i> entre bem (o que deve e vem a ser) e dor é que ela é <i>verdadeira. </i>Deste modo “A dor não é repugnante nem proveitosa. A dor é o favorecimento do essencial em tudo que vigora.” (53) Deste modo, o desprendimento, como acontecimento entre dor e bem, se dá também como espírito, que reúne e recolhe. Neste sentido, o espírito do mal não se aniquila, nem se nega, mas se transforma, na medida em que seu ex-ceder-se remete para o acolhimento e não para a agitação. Este acolhimento é escuta. Pela escuta é que se <span class="GramE">pode</span> seguir os passos do estrangeiro, do poeta, na medida em que se deixa o espírito da poesia, como canto do desprendimento, inflamar a alma numa escuta. É assim, como escuta, que primeiramente e na maior parte do tempo <span class="GramE">a</span> poesia sempre se dá e, enquanto dizer, ela resguarda o essencial, o impronunciado. Este impronunciado se manifesta numa multivocidade que é mais que mera polissemia, porque seu sentido é unívoco e não uma confusão indeterminada. Mas também não é a <i>exatidão técnica, </i>porque se dizer aponta um caminho de sentido, abre uma vereda e convida ao estranho não-nascido, à travessia. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: center;" align="center"><b><span lang="PT-BR">III<o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 36pt; text-align: justify;"><span class="GramE"><span lang="PT-BR">“Uma colocação acerca da poesia de Trakl nos mostra que ele é o poeta da terra</span></span><span lang="PT-BR"> ainda encoberta do entardecer, <span class="GramE">um poeta do Ocidente encoberto</span>.<span class="GramE">” </span>(69) Há, portanto, dois ocidentes: o metafísico e o poético. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal"><span lang="PT-BR"><o:p> </o:p></span></p></div> <div style=""><span lang="PT-BR"><br /><br />[1] Heidegger tira esse sentido do fato de em alemão “lugar” significar “ponta de lança”. Em português, temos o latim <i>locus, </i>“<span class="GramE">lugar próprio, natural</span>” (Benveniste, <i>VIIE, </i>I, 158), ou seja, o lugar da essência, o que sustenta a coisa naquilo que ela é, sua base que a permite repousar em seu ser, que se quem juntamente com <i>lucus, </i>“bosque sagrado” é oriundo do indo-europeu <i>loukos</i> “clareira” (Delamarre, LVI, 185), ou seja, este lugar não é uma cápsula fechada, mas uma abertura em que a coisa se ilumina, e está ex-posta no extra-ordinário, no sagrado.</span><br /><br />[2] Não<a title="" style="" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=4664242513307854083#_ftnref2" name="_ftn2"></a><span lang="PT-BR"> se busca, portanto, nem o conteúdo ideológico (visão de mundo), nem a forma estética (oficina), tendo a subjetividade do poeta (<i>suas </i>idéias do mundo, <i>sua </i>técnica poética) como horizonte. Quer se chegar ao lugar de onde emana sua poesia.</span><br /><br />[3] Em<a title="" style="" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=4664242513307854083#_ftnref3" name="_ftn3"></a><span lang="PT-BR"> português, a etimologia sustenta esse pensamento: pelo latim “delirare”, <i>sair do sulco da charrua, sair da linha reta </i>e, por extensão, <i>mudar sentido </i>ou <i>perder a razão.</i></span><br /><br />[4] Co<a title="" style="" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=4664242513307854083#_ftnref4" name="_ftn4"></a><span lang="PT-BR">nsiderando-se que espírito “espiritual” e espírito “intelectual” ocupam a mesma posição no paradigma metafísico, entende-se porque pode haver uma coexistência, ainda que como oposição, entre espírito e matéria, mas não entre espiritual e intelectual, a menos que um determine o outro, dentro do paradigma metafísico. Ou seja, ou a ciência se baseia em deus (intelectual determinado pelo espiritual), ou a ciência comprova deus (espiritual determinado pelo intelectual), se nenhuma das duas situações se der (a 1ª caracteriza a Idade Média, a 2ª a metafísica moderna) então<span style=""> </span>temos a verdade de apenas um dos dois, como no ateísmo humanista (racionalismo), ou no obscurantismo fundamentalista (misticismo).</span><br /><br />[5] Não <a title="" style="" href="http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=4664242513307854083#_ftnref5" name="_ftn5"></a><span lang="PT-BR">vejo uma oposição entre sopro (pneuma) e chama. Penso que há uma fundamental referência entre ambos, a partir da imagem de que é o sopro que alimenta e pode também apagar a chama, mas por outro lado isto condiz com o que H. diz na p. 50, que o espírito vigora na possibilidade da suavidade e da destrutividade, ou seja, do sopro suave que alimenta ou do forte que destrói – e o mal não seria o extinguir-se da chama, mas o espalhar-se descontrolado da chama – o subjetivismo. Então é provável que H. esteja enunciando mais diferença que oposição. A palavra portuguesa “entusiasmo” (estar no deus) diz desta chama que arde no coração dos mortais, sua alma (e a relação entre espírito e alma será explorada posteriormente por H.), na medida em que a chama pode morrer, e que se alimenta e vibra reluzindo por estar aberta ao sopro divino. Neste sentido, alma seria a chama e espírito, o sopro. Consigo compreender melhor desta maneira. Na metafísica, pensa-se este sopro como propriedade divina (medievo) ou intelectual humana (modernidade), enquanto a chama é associada às paixões da carne (pecado) ou às emoções e impulsos (romantismo e freudismo). Mas o sopro, a <i>voz silenciosa, </i>não soa no interior do homem, mas na natureza, entendida como physis, como o âmbito e força do que vem à luz, do que vem a ser e se manifestar. Só o homem, contudo, pode ouvi-la como <i>voz silenciosa, </i>só o homem percebe o sopro não como força e som, mas como sopro, algo como <i>sentido do vento¸ </i>que conduz a travessia, se me permitem a imagem. Em todo caso, esta passagem requer uma visita ao original, que pretendo fazer.<br /></span></div></div><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:applybreakingrules/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:usefelayout/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Font Definitions */ @font-face {font-family:SimSun; panose-1:2 1 6 0 3 1 1 1 1 1; mso-font-alt:宋体; mso-font-charset:134; mso-generic-font-family:auto; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:3 135135232 16 0 262145 0;} @font-face {font-family:Sylfaen; panose-1:1 10 5 2 5 3 6 3 3 3; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:roman; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:67110535 0 0 0 159 0;} @font-face {font-family:"\@SimSun"; panose-1:2 1 6 0 3 1 1 1 1 1; mso-font-charset:134; mso-generic-font-family:auto; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:3 135135232 16 0 262145 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:Sylfaen; mso-fareast-font-family:SimSun; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:PT-BR;} p.MsoFootnoteText, li.MsoFootnoteText, div.MsoFootnoteText {mso-style-noshow:yes; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:Sylfaen; mso-fareast-font-family:SimSun; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:PT-BR;} span.MsoFootnoteReference {mso-style-noshow:yes; vertical-align:super;} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} </style> <![endif]--><p class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 36pt;" align="center"><b><span lang="PT-BR"><o:p></o:p></span></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR"><o:p> </o:p></span></p>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-47354309044423518362008-10-08T15:04:00.000-07:002008-10-08T15:08:08.867-07:00QUE É METAFÍSICA? - DE MARTIN HEIDEGGER<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/dd/FlammarionWoodcut.jpg/300px-FlammarionWoodcut.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px;" src="http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/dd/FlammarionWoodcut.jpg/300px-FlammarionWoodcut.jpg" alt="" border="0" /></a><br />HEIDEGGER, Martin. “Que é Metafísica?” (trad.: Ernildo Stein), in: Os Pensadores, vol. XLV. São Paulo: Abril Cultural, 1973, 1ª edição.<br /><br /><br /><br />Observações iniciais: Trata-se, o texto da preleção, de sua primeira aula na Universidade de Freiburg, de 24 de julho de 1929, sendo a 3ª publicação de Heidegger na maturidade (a partir de Ser e Tempo). Neste texto, a metafísica não é somente o tema, mas o próprio proceder do pensamento, que se interroga metafisicamente. Essa interrogação metafísica parte da existência do interrogante em questão: no caso, os homens de ciência na universidade – ali, na relação do homem com a ciência, ele encontra o nada, e não dá mais uma definição do que seja metafísica. Tendo levantado muitas objeções, H. acrescenta, posteriormente, como resposta, um posfácio (1943) que orienta a leitura da preleção, e uma introdução (1949), que recapitula seu pensamento em relação à preleção na época.<br /><br />ESTUDO DO TEXTO<br /><br />O Desenvolvimento de uma Interrogação Metafísica<br />Quando se pergunta pela metafísica, a resposta própria deve nos conduzir à metafísica, para isso, tanto a pergunta quanto a existência de quem questiona devem se mover no horizonte do que se questiona. Nossa existência é pautada pela ciência. A ciência é o modo de estar no mundo em que o homem se relaciona com o ente. Sendo o ente o que é algo e não simplesmente nada, a ciência, para delimitar seu objeto, precisa daquilo que rejeita: o nada.<br /><br />Elaboração da Questão<br />Mas perguntar pelo nada não pode ser perguntar por alguma coisa. O nada é a própria a origem da negação do ente. O entendimento, que articula sempre negação e afirmação (o que algo é e o que algo não é), depende do nada, não podendo, portanto, determiná-lo. Quando perguntamos por algo, buscamos algo que nos falta. Mas só percebemos o que falta a partir do que se apresenta. Então, por outro lado, a negação do ente pressupõe a presença da totalidade do ente. A totalidade do ente se dá como tédio, quando tudo é indiferente, ou como alegria pela presença, quando tudo é pleno.. O nada se re-vela na angústia que, diferente do temor (que é temor de algo), é como que um temor diante de nada, quando não há apoio, ficamos sem chão e tudo parece nos escapar. Quando tudo nos escapa a angústia vêm ao nosso encontro, re-velando o nada. Na angústia, que acontece com o nada?<br /><br />A Resposta à Questão<br />A angústia não apreende o nada: mas o re-vela na totalidade do ente. Não como se existisse a totalidade do ente e ao lado dela o nada. A angústia re-vela o nada porque o nada aparece como a totalidade do ente, sem se confundir com ela. O nada nadifica, mas isto não significa que o nada acabe com a totalidade do ente, mas sim o contrário, nadificar, “afirmar” o nada em que com-siste (é com) a totalidade do ente: é do nada que o que “vem a ser” vem: presença é estar suspenso no nada – apenas pelo nada podemos com-ceber (com o nada) o ente. O nada permite o pensamento – não é o que não se converte em objeto do pensamento, mas a possibilidade de se pensar. A negação, portanto, não origina o nada – mas o contrário – porque negação nega algo, e tudo que vem a ser algo, vem a ser o que é do nada (é com o nada: com-siste em nada). O nada é originário da negação . Esta angústia que re-vela o nada como o mesmo da totalidade do ente não ocorre nem é controlada por vontade humana (por isso mesmo é angústia) – é uma iminência de sermos convocados a nos percebermos suspensos no nada. Portanto, somos convocados ao pensamento, antes de o desejarmos . Quando pensamos a presença (a nossa mesma), suspensa no nada, “ultrapassamos” a totalidade do ente, nela mesma: isso se diz “trans-cendência” (tans-ente): meta-física.<br />Contudo, a metafísica clássica concebe o nada somente a partir do ente, e não também o ente a partir do nada : ex nihilo nihil fit. A dogmática cristã nega isso, mas de uma maneira que opõe o nada à totalidade do ente: Deus cria do nada. Deus (o fundamento, o ente supremo, o verdadeiro ser) é oposto ao nada, que é não ser. Em toda metafísica, de uma forma ou de outra, o nada é oposto ao ente verdadeiro, ao ser. Hegel equivale o ser ao nada, acabando com esta oposição, mas o faz na medida em que os iguala na sua indeterminação . Quando de fato o co-pertencimento de ser e nada se resguarda numa diferença fundamental: o ser sendo é finito, e não sendo é infinito – o nada sendo é infinito, e não sendo é finito: ser e nada são o mesmo mas exatamente pela diferença radical de sua co-determinação, e não de sua indeterminação. Daí o outro sentido que se pode dar ao axioma da metafísica antiga: ex nihilo nihil fit – do nada o nada se faz – ou seja – a totalidade do ente (que o nada per-faz) com-siste em nada.<br />A existência científica se caracteriza pela busca. Busca-se algo que falta. A falta só se percebe a partir do que se apresenta. O que se apresenta se apresenta a partir de nada. Quando se pensa o que se apresenta em sua consistência com o nada, pensa-se a transcendência, e não se pensa somente algo. A este pensar chamamos metafísica, a filosofia em sentido pleno. A metafísica, filosofia, pensamento, permite então o “por quê” que orienta a busca, na medida em que pensa o que se retrai no que se apresenta. A ciência depende, portanto, da metafísica para ser o que ela é. A nossa existência, na media em que é ex-sistênca, o é a partir de ser, o que significa dizer, é, sendo suspensa no nada. A metafísica não é portanto nem uma disciplina dentre tantas, nem uma especulação vaga, mas, na medida em que é transcendência , ela é nossa própria condição. Por isso Platão diz: “Na medida em que o homem existe, acontece, de certa maneira, o filosofar.” Mas o filosofar também não é um acontecimento automático, biológico , e sim o esforço extremo de sempre a todo momento tentar um salto que nos tira do automatismo das relações somente com o ente e nos lança onde já estamos: no nada. Este salto se dá, portanto, em in-sistir na pergunta: porque há o ente e não antes o nada?<br />POSFÁCIO<br /><br />A ciência calcula o ente, a metafísica entifica o ser, e o pensar questiona o ente no ser. Enquanto a resposta a uma questão nos dá apenas o ente, ela não é uma resposta pensante. A resposta pensante é aquela que permanece, ao responder, na abertura da questão, isto é, ela mostra no ente que se dá o ser que se retrai.<br />Assim, em relação ao que se pensou nesta conferência, é errado objetar, concluído que: 1. trata-se de um niilismo, de afirmar que o nada é o único “objeto” do pensar; 2. de uma filosofia da angústia que elege um determinado sentimento que paralisa a ação da vontade do homem; 3. é irracionalista, contra a lógica, porque é baseada em sentimentos.<br />1. O que a preleção quer pensar é a referência fundamental entre ser e nada, em que o nada não é a negação do ente, mas o originário do ente que, sendo, oculta-se como nada e mostra-se como ente, isto é: o ser. 2. É angustiante o que nos foge ao controle, mas isso não paralisa nossa ação, porque nos convoca ao agir mais pleno, que requer a coragem para se pensar aquilo que não se domina. Mas angústia e coragem não são aí sentimentos, mas um próprio corresponder à com-vocação do ser que pro-voca o pensar. 3. a lógica é, originariamente, a experiência grega do ser. Como experiência do ser, ela nunca é somente uma relação entre entes: ele é onto-lógica, em que a reunião do logos não é um resultado. Nem por isso é menos rigoroso este pensamento ontológico fundamental, já que o rigor não é outra coisa que o esforço para ser ater a todo tempo ao fundamental do que se pensa.<br />O cálculo é apenas exato, não mais rigoroso: converte tudo em números, em que tudo se consome na progressão da contínua enumeração para cada vez mais de cada vez menos. Assim tem se a impressão de que se produz (cada vez mais) quando na verdade se consome (cada vez menos) – produção e consumo é o princípio do cálculo. O pensamento dito fundamental não apenas responde, mas corresponde ao apelo de que se origina – entregue à exigência deste apelo (sacrifício), este pensamento permanece aberto ao que não cessa de ser (liberdade), não se encontra preso ao que tão somente já é. Este apelo do ser é o silêncio de sua manifestação – este silêncio é a questão originária – que a todo tempo cala e exige uma resposta: linguagem. Corresponder a este apelo é a origem da palavra humana.<br />Renunciar ao ente em prol da abertura do ser: o sacrifício que liberta. Por isso, o sacrifício não admite o cálculo de sua utilidade ou inutilidade (filosofia/arte), apenas é algo incontornável para se consumar o que se é, para vir a ser. Este pensamento, dócil ao apelo do ser, se mostra como um cuidado para que a verdade do ser chegue à linguagem na palavra. “O pensador diz o ser. O poeta nomeia o sagrado.” Poetar e pensar não são a mesma coisa, mas se co-originam ao re-conhecer, isto é, nascer-com sempre e a cada vez, que “O nada, enquanto o outro do ente, é o véu do ser.”<br /><br />INTRODUÇÃO<br /><br />Retorno ao Fundamento da Metafísica<br /><br />Quando Descartes evoca a imagem estóica da Árvore da Filosofia, esquecendo, como os próprios estóicos, de ao menos mencionar o solo, mostra o completo esquecimento do ser na filosofia. Pois se a filosofia se propõe a pensar o ente em seu ser, ela de fato pensar o ser enquanto ente. Como origem e força de tudo que vêm a ser o que é, tudo o que emerge à luz da presença, o ser seria o próprio solo de onde brota e se nutre a Árvore da Filosofia. “A árvore da filosofia surge do solo onde se ocultam as raízes da metafísica.” (253) O pensamento que pensa o ser, embora supere, não rejeita a metafísica. “A metafísica permanece a primeira instância da filosofia. Não alcança, porém, a primeira instância do pensamento.” (254). A metafísica é própria do homem na medida em que se o compreende como animal racional.<br />Mas neste pensamento do ser, de fato, é o ser que vem ao encontro do pensamento: é só a partir do apelo do ser que se lhe pode corresponder. Este pensamento não se constitui, contudo, numa modificação epistemológica da filosofia: não é uma nova disciplina no corpo doutrinário da filosofia. Não é também a descoberta de um novo fundamento, de uma base realmente inconcussa até agora não descoberta. O que se decide com esse pensamento é o pertencimento do homem ao ser, o ser humano, se esta relação poderá se abrir ou se permanecerá fechada numa determinação metafísica. Isso porque a metafísica, claro, pensa o ente, sim, a partir do desvelamento do ser, mas o representa e assim cala sua verdade, que é o desvelamento cuja essência é o velamento. O velamento permanece impensado na verdade do ser e no ser da verdade. Não ser quer retornar aos pré-socráticos, mas pensar este velamento que desde então não se enunciou – a metafísica não responde esta questão porque sequer a coloca como questão.<br />Portanto, o apelo do ser não se dá pela maior eficiência filosófica do homem, mas apenas no momento propício. O pensar é dócil ao ser e não o contrário, de modo que as considerações sobre a sua utilidade para a vida social do homem não têm sentido, porque o homem só é homem, tem vida social e cogita utilidades na medida em que pensa. A este pensar o ser, assim, convoca apenas e de modo pleno para o agir essencial que é pensar. Isso não significa que se negligencie o homem, porque a questão do ser envolve de modo especial o que o homem é. Isso implica questionar os conceito de homem como sujeito e como animal racional.<br />Presença (Dasein) é o nome desta referência do ser ao homem, em meio à abertura do velamento. Embora a palavra Dasein signifique na metafísica: existentia, actualitas, realitas, objetividade e existência corriqueira do homem, que repete o significado metafísco. Mas presença não é um outro nome para consciência (fenomenológica), nem a substituição de um elemento subjetivo por outro, antes, designa o âmbito da verdade do ser. Para as relações do homem, em Ser e Tempo, usa-se existência (Existenz) que, pensada, re-vela Dasein. Esta existência não é nem um externar-se de um substância nem um manifestar-se de um sujeito. Ela é um in-sistência, que é o cuidado e o esforço de se manter atento a e no âmbito de pensar – corresponder – à verdade do ser, numa tal correspondência que nos mostra o velamento como nosso horizonte: ser para a morte. “O ente que é ao modo da existência é o homem.” (257), se considerarmos que só existe na medida em que insiste. O que quer que o homem seja ele é sendo, isto é, no, pelo e para o ser.<br />Insistir articular sempre permanência (insistir como permanecer) e movimento (insistir como agir): portanto a experiência própria da verdade do ser é Tempo. Tão radical é esta experiência, que os nomes iniciais e finais para o ser, na metafísica, evocam o tempo: enérgeia e eterno retorno do mesmo. Compreender é esta experiência de ser e pensar que se dá na abertura . Enquanto abertura de um velamento, este âmbito da compreensão se chama sentido. O velamento é o que a metafísica não pensa quando pensar o ser e, assim, escapando-lhe o sentido, de fato pensa o ser apenas enquanto é, enquanto ente. Ontologia fundamental, portanto, não é um estudo de um outro sendo metafisicamente compreendido, só que mais fundamental. Quando a conferência se encerra com a pergunta pelo nada, que foi retirada de Leibniz e ganha no contexto da conferência um outro sentido, quer se indicar isso: que o sentido do nada que é-com o ser é outro do nada metafísico que é o mais simples e fácil conceito – é o nada que é a questão não só pela origem e mas pelo fim da metafísica.Anonymousnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-28129582083490136932008-10-08T13:32:00.000-07:002008-10-08T14:53:39.834-07:00POLÍTICA E RELIGIÃO - DISCRIMINAÇÃO<span style="font-style: italic;">(este é o comentário que fiz sobre <a href="http://alertatotal.blogspot.com/2006/02/imprensa-tem-o-direito-de-discriminar.html">uma boa matéria</a> que acusava a discriminação religiosa que "a mídia" teria em relação ao candidato Bispo Marcelo Crivella em 2006. Crivella é membro eminente da Igreja Universal e sobrinho do famoso Bispo Macedo. Como político, tem mandato de Senador pelo Rio de Janeiro, tem se destacado na defesa de brasileiros no exterior e é gestor do beneficente <a href="http://www.projetonordeste.com.br/">Projeto Nordeste</a></span>. <span style="font-style: italic;">Um dos fundadores do PRB, parte da base de aliada do governo, Crivella teve o apoio de Lula em sua candidatura para o Rio.</span>)<br /><br /><br /><ul><li>Começo dizendo que Crivella não está entre minhas esperanças de melhora política, mas não por ser evangélico. Neste pormenor, é totalmente justa - e confesso que rara - a ousadia da posição adotada na matéria, alertando para a discriminação religiosa permeada de interesses políticos e econômicos. Perigosa para a democracia, sem dúvida, e muito mais perigosa para a convivência humana, sempre permeada de diferenças.<br /><br />Sou contra discriminação, não apenas de evangélicos, mas também de homossexuais, negros, índios, mulheres e nordestinos. É tão inaceitável um esquerdista ou dono de meio de comunicação discriminar um evangélico (mesmo que este não seja gestor de projetos sociais!), quanto um evangélico discriminar homossexuais, adeptos de cultos afrobrasileiros (por exemplo imputando-lhes prática do mal e adoração ao diabo, entidade que só existe no cristianismo, o que soma ignorância ao preconceito), etc.<br /><br />Como não é fácil negar que o preconceito para com religiões outras (todas as "outras"!) e homossexuais (para ficarmos nos mais exacerbados) está quase que onipresente nos meios evangélicos, então, igualmente, o crescimento do movimento político de bandeira evangélica tal como atualmente acontece (isto é, cheio de discriminações) pode representar, sim, uma ameça igual à democracia e principalmente à convivência com as diferenças. Para quem acha que não há discriminação, não se limite a assistir programas de televisão evangélicos. Nestes, há a audiência não-evangéica que, portanto, tende a não compartilhar e até mesmo ser alvo dos preconceitos que muitos (não todos) os evangélicos têm. Portanto, na tv, ameniza-se o discurso preconceituoso. Experimente ir a cultos evangélicos! Isto bastará.<br /><br />Por outro lado, em meio ao "esquerdismo" dominante, realmente, virou "crime ideológico" defender evangélicos em seus direitos de cidadãos iguais que são, e que devem ser respeitados. Evangélicos são cidadãos com direitos iguais, seres humanos dignos e com direitos iguais, que devem ser respeitados por todos e defendidos em seus direitos. Mas também devem, para isso, respeitar. Isso já diz a sabedoria popular.<br /><br />Crivella é candidato como outro qualquer. Cabe ao eleitor consciente e politicamente formado (coisa rara) votar em quem julgar melhor, ou menos ruim. Não pode haver discriminação política por questões religiosas, está certo. Mas também o voto é uma ação política e não religiosa. Devemos votar por questões políticas, isso é mais que uma responsabilidade, é um dever. O princípio que condena a discriminação política de Crivella por ser ele sobrinho de Edir Macedo e membro de destaque da Igreja Universal é exatamente o mesmo que deve condenar o voto por questões religosas. Política e religião separadas, desde Montesquieu.<br /><br />Portanto, não votemos em um candidato somente porque ele é pastor ou padre da nossa igreja, ou jogador do time de nosso coração, ou nosso cantor, ator, humorista, drag queen ou dançarina favorita. Votemos por questões POLÍTICAS. Também os candidatos, se querem se fazer respeitar pelo princípio de separação entre política e religião, façam o favor de também SEPARAR POLÍTICA E RELIGIÃO DE SEUS DISCURSOS E CAMPANHAS POLÍTICAS E, PRINCIPALMENTE DE SEUS PROJETOS E AÇÕES POLÍTICAS. Se não o fizerem não podem reclamar, porque desrespeitam o princípio pelo qual querem ser respeitados.<br /><br />O segundo ponto, agora:<br /><br />Parece uma contrasenso que Crivella se considere prejudicado pela associação de seu nome ao da Igreja Universal de Bispo Macedo, a que pertence de modo representativo. Será que Crivella, não enquanto o bispo que é, mas enquanto o candidato que é, considera a Igreja Universal de seu parente, o Bispo Macedo, assim tão ruim, a ponto de poder difamá-lo perante a sociedade, pela simples associação de seu nome ao da Igreja?!<br /><br />É claro que Crivella é inteligente e não está indo contra a Universal. PARA ELE, a Igreja Universal é boa, mas ele reconhece que para a parcela não evangélica (maioria) da sociedade, não. Isso é o que se comprova pelo seu próprio sentimento de estar sendo prejudicado pela associação de seu nome ao da Igreja. Mas Crivella, em suas campanhas, discursos, projetos e ações políticas, por vezes lança mão da associação entre sua política e sua religião mais ou menos explicitamente, mas com o cuidadeo de não frisar a sua ligação com a Universal PARA ALÉM DOS CÍRCULOS DE FIÉIS EVANGÉLICOS. São frequentes em seus discursos as substituições de argumentos e fatos políticos por citações bíblicas e dogmas religiosos. Ele desrespeita, assim, o mesmo princípio por que quer ser respeitado.<br /><br />Crivella sabe o que a Universal representa PARA A SOCIEDADE EM GERAL, por isso sabe do dano que lhe causa a associação. Quando a sociedade reconhece alguma coisa como um problema, devemos deixar a democracia decidir. A vontade da maioria - se votar consciente e politizadamente sem fazer do voto questão de fé - é que vai decidir.<br /><br />Se os candidatos não querem se prejudicar por associações que "a mídia" faz entre seus nomes e determinadas instituições religiosas, eles devem dar o exemplo e começar por não fazer aquilo que criticam quando a mídia o faz.<br /><br />A diferença é que a mídia o faz para todos, não escolhe o discurso adequado para o público adequado. Crivella sabe disso.<br /></li></ul><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dw7xHcXwfVcFA8vugRAAbTjfZgKiDaYMSz3vkP6RUUUCO6mqUooRp8OeCNINKDTiSTpvB-Bna712MVtPc_INQ' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe><br />discurso de Lula apoiando CrivellaAnonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-40376504164320830702008-09-16T08:51:00.000-07:002008-09-16T08:52:28.832-07:00A IDÉIA DO BEM COMO IDÉIA SUPREMA: potenciação do ser e do desencobrimento<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify;"><span style="" lang="PT-BR"><strong>As idéias, diz Platão, estão no </strong></span><strong><em style=""><span lang="PT-BR">hypèr ouránios tópos, </span></em><span style="" lang="PT-BR">que ele também chama de </span><em style=""><span lang="PT-BR">tópos noetós, </span></em><span style="" lang="PT-BR">o lugar da compreensão. </span><em style=""><span lang="PT-BR">Tà noetà, </span></em><span style="" lang="PT-BR">as coisas compreendidas, são as idéias. Há uma idéia suprema, a idéia do bem, que Platão chama de </span><em style=""><span lang="PT-BR">teleutaîa idéa, </span></em><span style="" lang="PT-BR">a idéia que está no e é o fim. Mas fim não é meta nem término, mais o âmbito, o confim, o horizonte que tudo abrange (ou seja, a totalidade do ser sendo).<span style=""> </span>A imagem desta idéia é o sol. Platão apresenta esta “</span><em style=""><span lang="PT-BR">imagem-símbolo” </span></em><span style="" lang="PT-BR"> porque não se pode simplesmente representar corriqueiramente a idéia <span style=""> </span>do bem num conceito. Mas isso não significa que ela seja algo “esotérico”, “intuitivo”, algo como uma “iluminação mística”, pois o próprio filósofo diz que só se a contempla por um questionamento persistente.<br /></span></strong></p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify;"><strong> </strong></p> <div align="center"><strong><img alt="" style="display: block;" src="http://www.fumdham.org.br/fotos/pintura01.jpg" width="456" height="217" /></strong></div> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify;"><span style="" lang="PT-BR"><o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify;"><strong><em style=""><span lang="PT-BR">Agathós, </span></em><span style="" lang="PT-BR">no sentido grego, não é o bem moral oposto ao mal e ao pecado, ou seja, o bem cristão. Também não é o bem genérico e indiferente, do tipo “estou bem”, quando se responde corriqueiramente. É um bem no sentido do decidido: “está bem!”. Daquilo que impõe e exige realização, aquilo que dá consistência em que algo venha a ser. Neste sentido, já que idéia é o que possibilita ser e consiste em ser, idéia é propriamente um bem. Por isso a idéia do bem é como uma idéia da idéia, ou seja, a idéia por excelência. <o:p></o:p></span></strong></p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify;"><span style="" lang="PT-BR"><strong>O governo do filósofo não é o governo dos professores e alunos de filosofia, mas o governo daquele(s) que persiste(m) na guarda e vigia (como </strong></span><strong><em style=""><span lang="PT-BR">phýlakes</span></em><span style="" lang="PT-BR">) deste bem do bem, idéia da idéia, no sentido de fim e princípio que impõe e exige a realização dos homens e entre os homens, na </span><em style=""><span lang="PT-BR">pólis.</span></em></strong></p> <p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify;"><strong> </strong></p> <strong>fonte: HEIDEGGER, Martin. Ser e Verdade. Petrópolis: Vozes, 2007.</strong>Anonymousnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-34010533418239372008-09-16T08:34:00.000-07:002008-09-16T08:50:42.454-07:00A LINGUAGEM - sobre ensaio de Heidegger<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_zMK4_7KTX3M/SM_Vooh51hI/AAAAAAAAADE/tGxoZ6kZ69w/s1600-h/Georg_Trakl_1914.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="http://1.bp.blogspot.com/_zMK4_7KTX3M/SM_Vooh51hI/AAAAAAAAADE/tGxoZ6kZ69w/s400/Georg_Trakl_1914.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5246646984961021458" border="0" /></a>(o poeta Georg Trakl)<br /></div><p style="text-align: justify; text-indent: 36pt;" class="MsoNormal"><span lang="PT-BR"><strong>Falar é uma condição humana, não depende de nossa vontade, nem de nossa falta de vontade. A essência da linguagem, assim, se articula com a essência humana. Essência, aqui, não diz da representação do traço universal, mas do vigor da coisa, na medida em que acontece sua vigência. A essência é um acontecimento da coisa em seu vigor. O que se busca, aqui, não é fundar a linguagem noutra coisa, nem fundar outra coisa na linguagem. Não se considera a linguagem como uma exteriorização de um interior, nem como sinalização de um exterior mas, tampouco, ao se colocar tal definição há muito vigente em questão, não se busca uma nova definição de linguagem a ser assumida e aplicada. Tentaremos, no que se diz, ouvir a linguagem mesma. Mas a linguagem não se esgota no dito. O dito que não se esgota, que fala de modo genuíno, é o poema<a title="" name="_ftnref1" href="http://casadeasterion.blog-br.com/51044/A+LINGUAGEM+%28o+ensaio+de+Heidegger%29..html#_ftn1" style=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style=""><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style=";font-family:Sylfaen;font-size:12;" lang="PT-BR">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. O poema, por sua vez, é genuíno não pelo autor, mas por ser capaz de “negar a pessoa e o nome do poeta.” (13)</strong></span></p> <p style="text-align: justify; text-indent: 36pt;" class="MsoNormal"><span lang="PT-BR"><strong>O poema diz que “o que acontece lá fora toca o que acontece dentro da morada humana”<a title="" name="_ftnref2" href="http://casadeasterion.blog-br.com/51044/A+LINGUAGEM+%28o+ensaio+de+Heidegger%29..html#_ftn2" style=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style=""><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style=";font-family:Sylfaen;font-size:12;" lang="PT-BR">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> (13). O poeta e o pensador seriam os que “(...) caminham errantes, por veredas escuras, envoltos pela estranheza.” (14), ou seja, <em>aventuram-se </em>no ser e, chegando à morada dos homens, fazem luzir ali o extra-ordinário. O poema nomeia estas coisas. Nomear não é distribuir títulos, mas e-vocar, trazer para a palavra a coisa em seu sentido. Nomear não é <em>materializar </em>a coisa, mas é torná-la con-creta, ou seja, é e-vocar o sentido, com-vocar. Com-vocar é e-vocar a presença, in-vocando a ausência. A coisa, na e-vocação poética, vigora numa ausência, desta forma, aproxima-se dos homens (que também vigoram numa ausência, sem chão). O poema é o que de fato aproxima as coisas dos homens e os homens às coisas, sob o céu e sobre a terra, diante do extra-ordinário, do sagrado. As coisas nomeadas poeticamente, portanto, são “gestos de mundo”. </strong></span></p> <p style="text-align: justify; text-indent: 36pt;" class="MsoNormal"><span lang="PT-BR"><strong>Em seguida, o poema evoca “a árvore dos dons”, cujas raízes se ocultam na terra e os ramos se erguem para os céus. Ela simplesmente surgem, sem porque, trazendo um dom extraordinário (dourado – o brilho que não morre, não enferruja). Esta árvore (mundo - linguagem) em cuja sombra habita o homem, a quem ela dá o fruto (coisa - poema). O mundo com-cede coisas. “Mundo e coisa não existem um ao lado do outro (...). Eles se interpenetram.” (19) O meio dos dois é o <em>entre<a title="" name="_ftnref3" href="http://casadeasterion.blog-br.com/51044/A+LINGUAGEM+%28o+ensaio+de+Heidegger%29..html#_ftn3" style=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style=""><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><strong style=""><span style=";font-family:Sylfaen;font-size:12;" lang="PT-BR">[3]</span></strong></span><!--[endif]--></span></span></a></em> que os sustenta nesta referência fundamental. Este entre, quando os une, os separa – é di-ferença, ou seja, não se dá como um terceiro elemento posterior, mas é aquilo que se dá como e con-põe e sustenta (ou seja, entreabre) esta referência fundamental. “A di-ferença não é distinção nem relação. (....) é propriamente o que, num chamado, se chama<a title="" name="_ftnref4" href="http://casadeasterion.blog-br.com/51044/A+LINGUAGEM+%28o+ensaio+de+Heidegger%29..html#_ftn4" style=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style=""><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style=";font-family:Sylfaen;font-size:12;" lang="PT-BR">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> quando coisa e mundo são evocados.” (20). Assim “A primeira estrofe chama as coisas para vir (...). A segunda estrofe chama o mundo para vir (...). A terceira estrofe chama para vir o meio de mundo e coisa: o suporte da intimidade.” (20)</strong></span></p> <p style="text-align: justify; text-indent: 36pt;" class="MsoNormal"><span lang="PT-BR"><strong>As imagens são: a <em>dor,</em> que <em>petrifica </em>a <em>soleira, </em>na chegada do <em>viandante quieto.</em> A soleira é o entre de fora (ser, floresta) e da casa (mundo, clareira). A dor é que lhe dá solidez – porque dilacera e corta, mas mantém o dilacerado reunido em si<a title="" name="_ftnref5" href="http://casadeasterion.blog-br.com/51044/A+LINGUAGEM+%28o+ensaio+de+Heidegger%29..html#_ftn5" style=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style=""><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style=";font-family:Sylfaen;font-size:12;" lang="PT-BR">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. Esta dor é o entre, é a diferença que reúne coisa e mundo e, mais ainda, porque realça o brilho do interior da casa (a clareira), em que aparecem pão e vinho. Chega-se a esta casa na quietude. Quietude não é ausência de agitação e de barulho. Isso porque ela é o que deixa cada coisa ser cada coisa. Assim, a quietude é o a soleira, a diferença, que tudo convoca para o entre, o rasgo da soleira. Convocando, reunindo e separando, dando passagem, a quietude é o mais pleno chamado e movimento. Esse chamar quieto (silêncio) é a essência da linguagem que “(...) <em>faz uso </em>da fala dos mortais, no intuito de torná-la sonora como consonância do quieto para a escuta dos mortais.” (24). Portanto, como o dizer deste chamado, o poema não é um falar elevado, mas o falatório é que é um “(...) poema esquecido e desagastado, que quase não mais ressoa.” (24). Poema não é um objeto literário, nem um gênero oposto à prosa, se esta não for prosaica e, mesmo neste caso, sem que se manifeste seu pleno vigor, “Cada palavra falada pelos mortais fala dede essa escuta, como essa escuta. (...) Correspondendo duplamente à linguagem, ou seja, extraindo e respondendo, é que os mortais falam.” (25)</strong></span></p> <p style="text-align: justify; text-indent: 36pt;" class="MsoNormal"><span lang="PT-BR"></span></p> <strong>(os números entre parênteses no corpo do texto se referem às páginas do ensaio de onde foram tiradas estas citações diretas.)<br /><br />HEIDEGGER, Martin. A caminho da linguagem. (tradução Márcia. S. C. Schuback). Petrópolis: Vozes, 2004, 2a edição.<br /></strong><div style=""><!--[if !supportFootnotes]--><strong><br /> </strong><hr size="1" width="33%" align="left"> <!--[endif]--> <div id="ftn1" style=""> <p class="MsoFootnoteText"><strong><a title="" name="_ftn1" href="http://casadeasterion.blog-br.com/51044/A+LINGUAGEM+%28o+ensaio+de+Heidegger%29..html#_ftnref1" style=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR"><span style=""><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style=";font-family:Sylfaen;font-size:10;" lang="PT-BR">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span lang="PT-BR"> Heidegger toma o poema de Georg Trakl sem maiores explicações. Não se trata de fundamentar, mas de ouvir a linguagem. O poema é assim:</span></strong></p> <p class="MsoFootnoteText"><strong><em><span lang="PT-BR">Uma tarde de inverno<o:p></o:p></span></em></strong></p> <p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR"><strong>Na janela a neve cai,</strong></span></p> <p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR"><strong>Prolongado soa o sino da tarde.</strong></span></p> <p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR"><strong>Para muitos a mesa está posta</strong></span></p> <p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR"><strong>E a casa bem servida.</strong></span></p> <p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR"><o:p><strong> </strong></o:p></span></p> <p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR"><strong>Alguns viandantes da errância</strong></span></p> <p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR"><strong>Chegam até a porta por veredas escuras.</strong></span></p> <p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR"><strong>Da seiva fria da terra</strong></span></p> <p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR"><strong>Surge dourada a árvore dos dons.</strong></span></p> <p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR"><o:p><strong> </strong></o:p></span></p> <p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR"><strong>O viandante chega quieto;</strong></span></p> <p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR"><strong>A dor petrificou a soleira.</strong></span></p> <p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR"><strong>Aí brilha em pura claridade</strong></span></p> <p class="MsoFootnoteText"><span lang="PT-BR"><strong>Pão e vinho sobre a mesa.<o:p></o:p></strong></span></p> </div> <div id="ftn2" style=""> <p class="MsoFootnoteText"><strong><a title="" name="_ftn2" href="http://casadeasterion.blog-br.com/51044/A+LINGUAGEM+%28o+ensaio+de+Heidegger%29..html#_ftnref2" style=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR"><span style=""><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style=";font-family:Sylfaen;font-size:10;" lang="PT-BR">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span lang="PT-BR"> O paralelo aqui é o <em>ser </em>e o <em>sendo, </em>a <em>floresta </em>e a <em>clareira. </em><o:p></o:p></span></strong></p> </div> <div id="ftn3" style=""> <p style="text-align: justify;" class="MsoFootnoteText"><strong><a title="" name="_ftn3" href="http://casadeasterion.blog-br.com/51044/A+LINGUAGEM+%28o+ensaio+de+Heidegger%29..html#_ftnref3" style=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR"><span style=""><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style=";font-family:Sylfaen;font-size:10;" lang="PT-BR">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span lang="PT-BR"> Entre, em latim, “inter”, equivale ao “unter” em alemão. Em português, há a equivalência com “em meio a” e “através de”, que<span style=""> </span>são muito ricas. </span></strong></p> </div> <div id="ftn4" style=""> <p class="MsoFootnoteText"><strong><a title="" name="_ftn4" href="http://casadeasterion.blog-br.com/51044/A+LINGUAGEM+%28o+ensaio+de+Heidegger%29..html#_ftnref4" style=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR"><span style=""><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style=";font-family:Sylfaen;font-size:10;" lang="PT-BR">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span lang="PT-BR"> Ou seja, in-voca. </span></strong></p> </div> <div id="ftn5" style=""> <p class="MsoFootnoteText"><strong><a title="" name="_ftn5" href="http://casadeasterion.blog-br.com/51044/A+LINGUAGEM+%28o+ensaio+de+Heidegger%29..html#_ftnref5" style=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT-BR"><span style=""><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style=";font-family:Sylfaen;font-size:10;" lang="PT-BR">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span lang="PT-BR"> Esta é uma bela imagem de H. Quando perdemos alguém, somos separados pela dor, embora, em nossa separação, permaneçamos unidos na dor – neste caso, inclusive a dor reúne o presente e o ausente: é a dor da morte, do ser-para-a-morte, da existência, do galgar o ser atendo-se ao ente, do ser e estar lançado no mundo, coisas muito difíceis, perigosas, dolorosas. </span></strong></p> </div> </div>Anonymousnoreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-36948051497714882162008-06-08T17:53:00.000-07:002008-06-10T08:55:31.902-07:00Construção da construção.<div align="justify">Dentro dos singelos atos de cada dia parecemos fazer escolhas. Daquelas que nos envolvem em círculos sem princípio ou fim. Muitas vezes, não sabemos como começamos exatamente a nos lançar em determinadas situações, que novamente nos põe a girar em círculos, circulantes, circunscritos...</div><div align="justify">Atos são resultados de escolhas, que são, por sua vez, resultados de nossas percepções remetidas à nossa mente, ou pensamento. Porém, muitas vezes nosso pensamento, que nada mais é do que uma ação mental, nos leva a uma negação da ação como forma de ação. Obviamente, não é somente a não conclusão de algo que faz com que se vele a ação de um sujeito. Há que se considerar, que a aparente inatividade é nada mais do que a afirmação de uma ação em sua forma contrária. Podemos simplesmente vivermos móveis em nossa imobilidade, da mesma maneira, que podemos viver imóveis em nossa mobilidade.</div><div align="justify">O que queremos é certamente agir como se deve, pensar como se quer, falar como se espera, ouvir quando se fala, sorrir quando conveniente... Mas, o que realmente faz de nós o um em meio a milhões de faces desconhecidas? O que nos faz diferentes dentre os iguais, se é exatamente a igualdade de ações em suas mais variadas formas que nos proporciona notoriedade para que assim sejamos conhecidos (pelos outros) a partir de uma pretensa individualidade?</div><div align="justify">Penso que há uma aporia constante em nossa maneira de ser, e não ser. Talvez, não somos o que queremos muitas vezes ser por não conseguirmos viver sem a aprovação do outro. Seria o outro parte de nós? Pois se somos o que o outro espera, somos provavelmente mais outro do que nós mesmos. </div><div align="justify">O que é intrigante, é que pouco pensamos no que nos faz ser, no que somos e no que realmente gostaríamos de ser. Não é tão difícil chegar em um conflito com nós mesmos se nos deparamos com questões que nos mergulham num vazio tão desgastante, que nos fazem lentamente perder o chão. Como poderíamos caminhar sem ele?</div><div align="justify">Construímos, nossos perfis, gostos, sentimentos e formas dentro daquilo que já nos é dado. Talvez, não sejamos, como pensamos, senhores de nosso "eu", mas sim meros receptáculos de nossa vida que é vivida ao passo que deixamos de pensar no que dela fazemos .</div>Renata Renovatohttp://www.blogger.com/profile/12962053326642869126noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-13038249194637439632008-04-02T21:04:00.000-07:002008-05-27T09:32:19.761-07:00O medo de se pensar em Deus.<div align="justify">Estive algumas horas atrás numa rápida e intrigante conversa com alguns amigos. Seu assunto era comum dentre pessoas de todas as classes e religiões, obviamente com suas diferentes visões, abordagens e aceitações. Deus!</div><div align="justify">Sim, o assunto era exatamente este. Deus. O temido assunto entre seres que povoam a chamada academia moderna, ou pós-moderna, se for mais adequado.</div><div align="justify">A questão é que essa é sim uma eterna questão, que se mantém estagnada e estagnante.Tanto para os que não a discutem por seus dogmas e crenças particulares, quanto para os que simplesmente não "crêem". Seguindo esse raciocínio, digo que acreditar ou não em determinada coisa ou assunto, não deveria nos impedir de falarmos nele. Para dizermos sim ou não, precisamos antes acolher a dúvida, e muitas vezes permanecer com ela. </div><div align="justify">Darei aqui uma de psicóloga ou de qualquer coisa que se aproxime disso e direi que temos a triste mania de reduzir algo pra entendê-lo ou explicá-lo. Parece-me um consenso entre todos, que conceitos são conceitos e necessários. Mas até que ponto eles são realmente válidos e utilizáveis?</div><div align="justify">Voltando a questão inicial, o assunto surgiu a partir de uma aula em que o professor se prendeu um pouco na religião grega. Que é, sem dúvida, muito diferente da nossa. Nossa tradição cristã não veio da Grécia, ainda que Platão e Aristóteles povem o pensamento de alguns dos mais nobres nomes do cristianismo. Somos nesse aspecto, mais orientais.</div><div align="justify">Pensando sobre a religião grega, acabomos por fazer comparações ao que entendemos por religião. E ao fazermos isso, me dei conta de que pra quem não é religioso e/ou não acredita em Deus, a religião grega parece mais compreensível do que as que convivemos de longe ou de perto.</div><div align="justify">Percebi, através de alguns comentários, incluindo os que já ouvi por muitas vezes (unindo-os como num jogo de quebra- cabeças) que acreditar em Deus nos dias de hoje é ser taxado de limitado, alienado ou até mesmo alucinado. Como pode um homem em sã consciência, com tantos avanços tecnológicos acreditar em Deus? É quase um absurdo!</div><div align="justify">Dei-me conta, de que como existem as comunidades dos religiosos diversos pelo mundo afora, existem a dos não religiosos. Eles falam a mesma língua, a de não falarem em Deus. Onde essa questão, reduz-se a mera questão. Sendo o homem o seu criador, e não o contrário. Deve-se, "descriá-lo", ou melhor, ignorá-lo. </div><div align="justify">Pensar sobre a história das religiões, é realmente ver que não há consenso algum sobre qual a melhor maneira de se chegar a Deus, se é que ele realmente existe. Porém, para chegar n'Ele pode não ser preciso sair do lugar, atravessar qualquer porta, entrar em templo algum. Mas sim pensar... e pensar n'Ele é talvez se deixar levar pela possibilidade de sua existência, ouvi-lo com os olhos e vê-lo com os ouvidos. É perigoso pensar, pois damos brecha pra dúvida, pro sim e pro não. É fazer crítica da crítica, através de uma crítica particular. </div><div align="justify">E quem seria o primeiro dentre os "anti-Deus" a pôr em questão que assim como não há prova da veracidade de sua existência, não há também de sua inexistência? Quem ousaria sair do grupo dos que não falam e não pensam sobre isso? Quem se daria conta do tão óbvio que é separar religião de Deus? Quem seria humilde a ponto de se reconhecer como criatura de um criador racional, filho da razão e não pai dela? Quem se prontificaria a entender o fundamento das religiões antes de dizer que não fazem sentido? Quem se permitiria quebrar o pré- conceito?</div>Renata Renovatohttp://www.blogger.com/profile/12962053326642869126noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-15250916965487998442008-03-07T06:49:00.000-08:002008-03-25T10:56:19.615-07:00O intrigante pontapé.Em continuação ao que talvez fale por si mesmo, proponho uma sequência do que de maneira alguma foi finalizado. Ao falarmos de todos os aspéctos da filosofia platônica, abraçamos a transcendentalidade que o fez estar tão próximo das idéias, e a ver o mundo sensível a partir delas. Não é que Platão efetivamente o tenha feito, pois já se mostrou no mínimo balançado por sua própria teoria nos diálogos posteriores. Mas quando digo aqui ser esta sua visão, me refiro ao exacerbado e desmedido platonismo.<br />Para começar, nota-se que Platão esteve um tanto quanto mobilizado pela sofística, e sem dúvida foi ela o motor inicial de seu pensamento. É bastante comum ouvir pessoas dizerem conhecer Platão como filósofo, mas aos sofistas não, pois eram homens de Política e foram, ainda que importantes, passageiros na história, o que dizer na filosofia?<br />Possuímos sua presença tão evidente em nossas vidas, que ironicamente a consideramos ausente. Vivemos ou não num tempo onde as pessoas possuem suas opiniões e maneiras particulares de ver o mundo onde vivem? Será que isso seria um momento onde não sabe-se nada, e/ou apenas cada um de nós pensa saber alguma coisa? O critério do conhecimento foi salvo por Platão, mas inicialmente problematizado pelos sofistas.<br />Antes do período que chamo aqui de sofístico, era mais comum na Grécia que o pensamento se voltasse para a religiosidade. O momento em que os sofistas colocaram suas palavras no mundo, foi um período de grandes transformações no pensar grego, o que para muitas pessoas tanto de hoje quanto de séculos atrás tratava-se de tolas tagarelices... Mas sem sombra de dúvidas, foi muito mais do que isso.<br />O que isso que necessariamente quer dizer? Que talvez selecionemos nosso pensamento pelas pré-seleções já feitas. Isso é um tanto problemático, pois nossas raízes de pensamento são muito importantes para compreendermos como chegamos aqui, ainda que elos se rompam e rumos se desfaçam. O quanto os sofistas foram e são importantes para nós é um assunto para depois, o que vale ressaltar aqui, é que eles estão em sócrates, Platão, céticos e principalmente nos racionalistas modernos. O que já é no mínimo curioso.<br />Talvez eu esteja apenas dizendo coisas sem sentido para muitos dos que vão ler esse texto, principalmente por estar falando de figuras tão desconhecidamente conhecidas e de dificil compreensão. O que me faz gastar tanto tempo em leituras sobre estes que para muitos não passaram de homens que falam bem, democratas antigos ou enganadores, não se resume em poucas linhas, mas o que posso dizer para que seja notada toda sua peculiaridade ( sem considerá-los em particular) é que eram poetas da razão. Seria isso possível?Renata Renovatohttp://www.blogger.com/profile/12962053326642869126noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-58036458411879198512008-01-07T05:20:00.000-08:002008-01-16T07:01:53.999-08:00Por que esperar por um novo ano?<div align="justify">Pensamos muito em uma "nova vida" ou novas mudanças no decorrer de nossas vidas. A virada do ano é um motivo pra tentarmos nos libertar daquilo que consideramos problemas e mesmo traumas. Somos levados por um espírito de renovação que nos torna mais esperançosos diante de um novo ano recontado a partir daquele tal dia 1° de janeiro que tantas vezes comemoramos. Isso quer dizer, que ao mesmo tempo em que buscamos renovação voltamos a um ponto de partida. Sim, um ponto de onde já estivemos, mas que ainda assim, estamos (novamente) pela primeira vez.</div><div align="justify">Cada ano merecidamente nos desperta novas esperanças, e é isso que nos faz renovar sentimentos e idéias já gastas pelos tropeços da vida. Por isso, é muito bom dar boas vindas ao novo ano e mais do que isso, saudar um novo-velho eu. Um novo que vem abrir novos caminhos, novas conquistas, novos sentimentos. Ora, os sentimentos também se renovam e se descobrem. Pensamos conhecer aqueles (sentimentos) que nomeamos, como amor, paixão, amizade, fraternidade... no entanto, não conseguimos explicá-los. Sentimos! Há também, aqueles que ao menos nomeamos, mas sem qualquer compreensão fazem parte de nós. </div><div align="justify">Eles, os tais sentimentos, são sentidos e vivenciados por cada um de nós. E esse cada um se demonstra pelo simples fato de sermos diferentes em nosso um (de nós) e sentirmos os sentimentos de maneira e intensidades distintas. Nos abrimos diversamente pro mundo, pra pessoas e pro novo ano. Mas ainda que não sintamos esse tão aguardado ano novo, há mesmo que sutil, uma mobilização que nos faz pensar sobre o que fizemos e não fizemos, conquistamos e não conquistamos, ganhamos e/ou perdemos. Os pontos que consideramos negativos (ao longo do tempo) se mostram ainda que momentaneamente, positivos. É a partir e através deles que entramos num grande processo de reflexão. Daquela que realmente nos mobiliza.</div><div align="justify">Nossas falhas e perdas mais do que qualquer coisa são os maiores aprendizados, e ao fugirmos delas fugimos de nós mesmos, pois tudo o que nos envolve e pelo que estamos envolvidos constitui o nosso eu. O eu em confluência com o novo e o velho, em abertura para o que desejamos e principalmente para o que não temos idéia de que virá. Sem negarmos algo que nos permita uma identidade ou identificação (que não possua semelhança com a aparência). Algo que se encontra velado em nós e se desvela ao passo que entramos em contato com o outro, com o novo, mas ainda assim se mantém em sua ocultação. Somos, um conjunto de novo-velho, velho-novo. Adquirimos ricamente o que o novo nos mostra, mas não deixamos de carregar um velho igualmente rico dentro de nós. </div><div align="justify">Que venham então anos novos e grandes mudanças. Mas que através de nossos atos de abertura da escuta para o todo, saibamos recolher. Fazendo através de nossas escolhas e atitudes, uma bela colheita.</div>Renata Renovatohttp://www.blogger.com/profile/12962053326642869126noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-61341502176074721752007-12-13T05:38:00.000-08:002007-12-13T05:40:26.256-08:00CONVITEO importante é dar a palavra ao diálogo. Aos amigos, escrevam, porque pensar não é uma filosofia que se adote, mas um filosofar que se arrisca.Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-3503248029247295382007-12-13T05:15:00.000-08:002007-12-13T05:18:56.232-08:00A QUESTÃO CENTRAL DE HEIDEGGER(este é um esquema resumido de aula)<br /><img alt="" style="display: block;" src="http://img.youtube.com/vi/Yu_UFHrC02k/default.jpg" /><br />A QUESTÃO CENTRAL DE HEIDEGGER:<o:p> </o:p>ESQUECIMENTO DO SER<br />(ou esquecimento do velamento)<br /><strong style=""><o:p></o:p></strong><strong style=""><br />- </strong>traço constitutivo do pensamento como metafísica;<strong style=""><br />- </strong>questão central do pensamento de Heidegger;<br /><br /><strong style=""><o:p><img alt="" style="display: block;" src="http://img.youtube.com/vi/j7DoStl55hE/default.jpg" /></o:p></strong>Configuração Histórica da Metafísica como <em style="">Onto-teo-logia</em>:<span style=""><br />-<span style=";font-family:";font-size:7;" > </span></span><!--[endif]--><em style="">Onto: </em>Ser pensado como ente: determinável;<span style=""><br />-<span style=";font-family:";font-size:7;" > </span></span><!--[endif]--><em style="">Teo:</em> Este ente é causa e fundamento do real;<br /><!--[if !supportLists]--><span style="">-<span style=";font-family:";font-size:7;" > </span></span><!--[endif]--><em style="">Logia:</em> discurso/razão: linguagem como instrumento de representação;<o:p></o:p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><img alt="" style="display: block;" src="http://img.youtube.com/vi/ob7PTceKZ3A/default.jpg" /><br /></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Antigüidade: Filosofia Antiga</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;">Platão (ou platonismo): Ser como <em style="">idéia;<o:p></o:p></em></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;">Aristóteles (ou aristotelismo): Ser como <em style="">enérgeia;<o:p></o:p></em></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><em style=""><o:p> </o:p></em></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Medievo: Teologia<span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;">patrística (séc. II-VIII/Sto. Agostinho/ inf. platônica):<span style=""> </span><em style="">Deus salvator</em></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;">escolástica (séc. IX-XV/Sto. Tomás de Aquino/ inf. aristotélica): <em style="">Deus creator<o:p></o:p></em></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 36pt;"><em style=""><o:p> </o:p></em></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Modernidade: Filosofia e Ciência</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style=""> </span>Descartes (séc XVI): Sujeito racional: <em style="">Res cogitans<o:p></o:p></em></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style=""> </span>Nietzsche (séc XIX): Sujeito volitivo: <em style="">Vontade de Poder<span style=""> </span><o:p></o:p></em></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><em style=""><o:p> <img alt="" style="display: block;" src="http://img.youtube.com/vi/9_vYz4nQUcs/default.jpg" /></o:p></em></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Proposta Heideggeriana:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Recuperar a questão do sentido do ser em sua Ambigüidade: presença-ocultante: fenomenologia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Libertar a linguagem de sua instrumentalidade, devolvendo-a à vigência poética (isto é, de instauração de sentido e verdade) mediante uma postura de escuta (Hermenêutica);</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Pensar a verdade fora dos eixos de representacão e de correção, mas sim na historicidade de um acontecimento (<em style="">Ereignis</em>);</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Isso retiraria o homem de sua posição determinante no centro do real, instaurando a possibilidade de compreensão do pensamento e da linguagem como um modo de ser, que é próprio ao homem, no sentido da habitação em que se dá sua existência (<em style="">Da-sein</em>), na medida em que a eles corresponde – fim do <em style="">humanismo; </em><o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Caminho: um passo-de-volta à um momento histórico em que o pensamento não se configurava metafisicamente, mas originariamente (Parmênides e Heráclito pensavam o originário: Physis), em busca não de um retorno, mas da possibilidade de, a partir do que não-foi pensado por eles (Ser como Ser, Linguagem como Linguagem), abrir novos caminhos ao pensamento que se encontra numa crise;</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p><br /></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Leituras Básicas: 1. <em style="">O que é isto, a Filosofia? – 2. Que é Metafísica? – 3. Sobre a Essência do Fundamento – 4. Sobre a Essência da Verdade – 5. Identidade e Diferença (em “Os Pensadores”)</em> - <em style=""><span style=""> </span>6. Logos – 7. Alétheia </em>(em “Ensaios e Conferências)</p><br />Para quem entende inglês falado e se interessa pelo pensamento de Heidegger, abaixo os links para You Tube com o capítulo sobre Heidegger do especial da BBC, "Human, All too Human", em 6 partes.<br /><br /><a href="http://www.youtube.com/watch?v=liY6zV8QM2U">PARTE 1</a><br /><a href="http://www.youtube.com/watch?v=ftMRlj93Cks">PARTE 2</a><br /><a href="http://www.youtube.com/watch?v=0Oa-L7bMXc0">PARTE 3</a><br /><a href="http://www.youtube.com/watch?v=eEhD8jQq57E">PARTE 4</a><br /><a href="http://www.youtube.com/watch?v=jXLMtMtc_kI">PARTE 5</a><br /><a href="http://www.youtube.com/watch?v=lTOrlAbrDoM">PARTE 6</a>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4664242513307854083.post-45200477867292524592007-11-30T17:50:00.000-08:002008-05-27T09:34:49.156-07:00Negação como forma de dogmatismo.<div align="justify">Normalmente pensamos ser ceticismo a simples negação de todas as possibilidades. Muitas vezes somos também levados a pensar que seja um tipo de falta de crença ou fé. Ainda tem os que dizem que ser cético é simplesmente duvidar, ou ser tão racional a ponto de não permitir certas explicações parciais, ambíguas ou pra muito além do nosso plano de "realidade". As compreensões descritas acima não deixam de ter uma importância. Todas elas de uma maneira ou de outra se relacionam com o ceticismo. Porém, a posição cética, ao meu ver, está pra estas descrições, assim como o Platonismo para Platão. O que isto quer dizer exatamente? Pra começar, que elas se não forem de todo erradas, são no mínimo precipitadas.</div><div align="justify">Os céticos antigos, como Sexto Empírico tiveram dificuldades em demonstar o que pensavam pra não parecerem dogmáticos. Bom, isso no mínimo quer dizer que afirmativas são bastante problemáticas para eles. Porém, no campo das críticas referentes ao dogamatismo, compreende-se não apenas afirmadores de dogmas, mas (na mesma proporção) negadores dos mesmos. Sendo assim, ao chamarmos um indivíduo que nega de cético, acabamos por cair em erro, já que essa pessoa participa de um critério para negar o que quer que seja. Posso aqui dar um exemplo que passa em nossas cabeças normalmente ao pensarmos nesse tipo de atitude: o ateísmo, ou qualquer de suas variações. Sim, negarmos a existência de Deus compreende um dogmatismo que os céticos chamavam de dogmatismo negativo. </div><div align="justify">Para os céticos de grande influência no pensamento moderno como Sexto Empírico ( com base no pyrronismo) a busca se torna a melhor das posturas a serem tomadas. Em outras palavras, não é o constante duvidar ou a atitude pessimista diante do conhecimento que leva o homem a ser cético. Pelo contrário, ele surge para aquele que busca, que suspende o juízo (o julgamento). No entanto a leitura feita pela modernidade desse ceticismo o enquadrou numa posição de constante duvidar. </div><div align="justify">Na verdade, não trata-se de dúvida. Um cético pode sim acreditar ou não em Deus, pode ter ou não religião. É evidente a existência de céticos religiosos (como Erasmo). O grande problema, é a adoção de uma verdade como única ou final. Ou seja, podemos possuir uma " verdade" que nos cabe sem no entanto excluir as outras, e modificá-las sempre que necessário. Os motivos apontados pelos céticos que impossibilitam a adoção de um critério são muitos, pois caem nos problemas da relação com o conhecimento. O ceticismo trata-se portanto de uma atitude.</div><div align="justify">Dentre as várias correntes céticas que se formaram, essa parece ser a mais coerente,( e é obviamente a mais aceita pelos estudiosos) pois não há muita chance de haver qualquer coisa na simples negação. Assim como a constante dúvida também deixa de ser válida para qualquer "caminhar". Voltando para algumas das influências do ceticismo, chegamos num terreno para mim bastante familiar: aos sofistas. E como uma simples, rápida e precária espécie de fundamentação da posição cética que tem por objetivo ( sem na verdade tê-lo) a suspensão do juízo, digo que voltando para os sofistas, ao contrário do que muitos pensam,verifica-se a possibilidade de se conhecer. esse portanto possui (agora ultilizando um termo cético) um critério bastante delicado. No entanto, vale se arriscar ao emitir "opiniões" ter crenças, sem levá-las as últimas consequências. Dessa maneira, o mais racional de todos pode vir a ser o mais dogmático também.</div><div align="justify">Bom, para mim o mais interessante nessa discussão ( sem qualquer pretensão acadêmica e principalmente finalista) é demonstrar o quanto é difícil tomar uma posição, se arriscar. O que não deve porém deixar de ser feito. Sendo assim, podemos não ser dogmáticos ao ponto de excluir as verdades. Isso quer dizer que, as "verdades" estão por aí . Mais do que negação, afirmação ou dúvida, o bom ceticismo para mim é a aceitação das possibilidades, que no campo da ação leva-nos a um mútuo respeito ao próximo.</div><div align="justify"><span style="color:#ff6666;"></span> </div>Renata Renovatohttp://www.blogger.com/profile/12962053326642869126noreply@blogger.com1