Como me considero apto a tomar decisões se constantemente me deparo com os frequentes obstáculos que cegam minha razão? Estou eu em condição de apontar o justo e justicar minha escolha? Não sou eu susceptível ao erro, a parcialidade, a corrupção, a ignorância? Me questiono sobre a real liberdade de escolha que nós homens possuímos, por estarmos presos a nossa limitada condição humana. A condição da condicionalidade, a condição da falta de condição.
Somos nós condicionados aos nossos meios, aos nossos problemas, aos nossos obstáculos, aos nossos cotidianos, aos nossos círculos de amigos. Sim, somos condicionalmente condicionados, assustadoramente acomodados, insensivelmente separados em nossas pobres condições.
O perfil de cada um de nós, não é o perfil do um de muitos, mas sim o perfil de muitos presentificado num um que some dentre as opiniões massacrantes e condicionadas, dentre um mundo igualitarista dentro da diversidade e separatista dentro da comum igualdade. Nos igualamos dentre as mesmas condições que obtemos e nos separamos de tudo aquilo que foge a igualdade, de tudo aquilo que se mostra diferente, de tudo aquilo que se faz estranho... nos diferenciamos do que não conhecemos e nem procuramos conhecer, mas julgamos do íntimo de nossas razões massificadas, pois nossas vozes caladas falam em meio aos gritos das multidões ignorantes.
Um grupo não se faz ignorante dentro de sua condição de grupo, mas sim por sua condição de eterna igualdade. Igualdade que nos faz querer ouvir sempre as mesmas coisas, falar sempre as mesmas coisas, reclamar sempre as mesmas coisas, sem pensarmos sobre o que se faz realmente importante, sem considerarmos as diferenças do lado de fora, sem valorizarmos as individuais diferenças do lado de dentro.
O que é diferente é tanto quanto o que é igual, a diferença provoca o uso da razão, do pensamento, não do julgamento. Julgamos porque erramos, porque somos pobres homens divididos em grupos precursores e perpetuadores da ignorância, do medo da mudança, da estranha diferença... Somos por isso, reflexo das escolhas erradas baseadas em parcialidades mesquinhas, encurralados em nossas tristes condições encerradas por nós mesmos, sedentos de mudanças, mas medrosos perante as inovações.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Condições condicionadoras
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Um comentário:
Eu acho que entendi o que você quis dizer. Parece justo, em função de nosso caminhar coletivo, mas também individual, você lançar esta questão aqui. Afinal, como não concordar com esta frase: "[Nós] nos igualamos dentre as mesmas condições que obtemos e nos separamos de tudo aquilo que foge a igualdade, de tudo aquilo que se mostra diferente, de tudo aquilo que se faz estranho... nos diferenciamos do que não conhecemos e nem procuramos conhecer, mas julgamos do íntimo de nossas razões massificadas, pois nossas vozes caladas falam em meio aos gritos das multidões ignorantes."?
Concordo totalmente contigo, acho que devemos atribuir o acontecido não somente como um movimento de massa, mas também como algo que está no íntimo de quem somos. Acho que é isso que você me disse neste texto. Está tratando de política mas também de existência, naquele estilo teu, que fala sutilmente e questiona sem agredir. Brilhante!
O que me encanta na política é justamente esta força existencial que muita gente desconsidera, da mesma forma que, no pensamento do sentido, há um horizonte de construção história e de força política que não pode ser desprezado. Mas política infelizmente se converteu em política econômica, onde quer que se vá e se leia, o que se lê de política é política econômica. Coisas como "risco país", "crise mundial", "liberação de verba tal", "embargo tal", etc.
Política já não é mais coisa humana. Não se fala de política humana. É por isso que quando se tenta pensar existencialmente a política, muitos tecnocratas e ideólogos de plantão acham o cúmulo da subjetividade ou da alienação. Tempos difíceis! Diante do acontecido, quem sabe piores não virão?
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