Bem vindos ao Adelós-Dêlos!

Ponto de discussões filosóficas de ouvintes do Lógos, recolhedoras do aberto...

... porque o invisível (adelós) por vezes fica visível (dêlos), pela escuta do que se diz com uma palavra.



sexta-feira, 7 de março de 2008

O intrigante pontapé.

Em continuação ao que talvez fale por si mesmo, proponho uma sequência do que de maneira alguma foi finalizado. Ao falarmos de todos os aspéctos da filosofia platônica, abraçamos a transcendentalidade que o fez estar tão próximo das idéias, e a ver o mundo sensível a partir delas. Não é que Platão efetivamente o tenha feito, pois já se mostrou no mínimo balançado por sua própria teoria nos diálogos posteriores. Mas quando digo aqui ser esta sua visão, me refiro ao exacerbado e desmedido platonismo.
Para começar, nota-se que Platão esteve um tanto quanto mobilizado pela sofística, e sem dúvida foi ela o motor inicial de seu pensamento. É bastante comum ouvir pessoas dizerem conhecer Platão como filósofo, mas aos sofistas não, pois eram homens de Política e foram, ainda que importantes, passageiros na história, o que dizer na filosofia?
Possuímos sua presença tão evidente em nossas vidas, que ironicamente a consideramos ausente. Vivemos ou não num tempo onde as pessoas possuem suas opiniões e maneiras particulares de ver o mundo onde vivem? Será que isso seria um momento onde não sabe-se nada, e/ou apenas cada um de nós pensa saber alguma coisa? O critério do conhecimento foi salvo por Platão, mas inicialmente problematizado pelos sofistas.
Antes do período que chamo aqui de sofístico, era mais comum na Grécia que o pensamento se voltasse para a religiosidade. O momento em que os sofistas colocaram suas palavras no mundo, foi um período de grandes transformações no pensar grego, o que para muitas pessoas tanto de hoje quanto de séculos atrás tratava-se de tolas tagarelices... Mas sem sombra de dúvidas, foi muito mais do que isso.
O que isso que necessariamente quer dizer? Que talvez selecionemos nosso pensamento pelas pré-seleções já feitas. Isso é um tanto problemático, pois nossas raízes de pensamento são muito importantes para compreendermos como chegamos aqui, ainda que elos se rompam e rumos se desfaçam. O quanto os sofistas foram e são importantes para nós é um assunto para depois, o que vale ressaltar aqui, é que eles estão em sócrates, Platão, céticos e principalmente nos racionalistas modernos. O que já é no mínimo curioso.
Talvez eu esteja apenas dizendo coisas sem sentido para muitos dos que vão ler esse texto, principalmente por estar falando de figuras tão desconhecidamente conhecidas e de dificil compreensão. O que me faz gastar tanto tempo em leituras sobre estes que para muitos não passaram de homens que falam bem, democratas antigos ou enganadores, não se resume em poucas linhas, mas o que posso dizer para que seja notada toda sua peculiaridade ( sem considerá-los em particular) é que eram poetas da razão. Seria isso possível?

4 comentários:

Anônimo disse...

Não é possível qualquer discurso, pensamento, julgamento fora do mundo, da história, da cultura, que são constitutivos de nossos "pré-conceitos" ou "pré-seleções". Mas talvez eu esteja mesmo errado.

Anônimo disse...

Quanto à questão específica da sofística, conforme seus textos deixam claro, o primeiro passo é parar de falar de "sofistas".
Por que em vez de Platão, não falamos dos "filósofos"? Por que em vez de Homero, não falamos dos "poetas"?

Devemos inverter a pergunta, quanto aos sofistas. Por que não falar de Górgias, Protágoras, etc, em vez de "sofistas". É a antiga e moderna estratégia do balaio de gatos, da vala comum.

Os nazistas jogavam judeus em valas comuns, gigantescas.

Não é difícil perceber, no discurso de pessoas até bem intencionadas, ainda hoje, quando falam de vários países, França, Brasil, México, China, mencionam também a "África". Há a cultura e os problemas de Portugal, a música e a religião do Tibete, mas a cultura, a música, a religião e os problemas "da África". É sugestivo.

Jogar cada sofista na vala comum "dos sofistas" revela o mesmo desprezo, a mesma ignorância, o mesmo preconceito histórico do qual inevitavelmente sempre falamos. Mas compreender é compreender-se, historicamente, com seus pré-conceitos.

Eis aí uma tarefa, difícil, que só os ousados tomam para si. Ler filosoficamente os párias da historiografia filosófica tradicional. Compreender o pensamento que lhes foi negado e calado pelo pensamento que se tornou hegemônico.

É uma verdadeira tarefa hermenêutica.

Anônimo disse...

Quero sugerir uma série de encontros tendo como tópico cada sofista, individualmente, conforme os encontros que tivemos sobre Heidegger. Desta vez a fala caberá a você, principalmente. O que acha?

Renata Renovato disse...

Fechado!