Pensamos muito em uma "nova vida" ou novas mudanças no decorrer de nossas vidas. A virada do ano é um motivo pra tentarmos nos libertar daquilo que consideramos problemas e mesmo traumas. Somos levados por um espírito de renovação que nos torna mais esperançosos diante de um novo ano recontado a partir daquele tal dia 1° de janeiro que tantas vezes comemoramos. Isso quer dizer, que ao mesmo tempo em que buscamos renovação voltamos a um ponto de partida. Sim, um ponto de onde já estivemos, mas que ainda assim, estamos (novamente) pela primeira vez.
Cada ano merecidamente nos desperta novas esperanças, e é isso que nos faz renovar sentimentos e idéias já gastas pelos tropeços da vida. Por isso, é muito bom dar boas vindas ao novo ano e mais do que isso, saudar um novo-velho eu. Um novo que vem abrir novos caminhos, novas conquistas, novos sentimentos. Ora, os sentimentos também se renovam e se descobrem. Pensamos conhecer aqueles (sentimentos) que nomeamos, como amor, paixão, amizade, fraternidade... no entanto, não conseguimos explicá-los. Sentimos! Há também, aqueles que ao menos nomeamos, mas sem qualquer compreensão fazem parte de nós.
Eles, os tais sentimentos, são sentidos e vivenciados por cada um de nós. E esse cada um se demonstra pelo simples fato de sermos diferentes em nosso um (de nós) e sentirmos os sentimentos de maneira e intensidades distintas. Nos abrimos diversamente pro mundo, pra pessoas e pro novo ano. Mas ainda que não sintamos esse tão aguardado ano novo, há mesmo que sutil, uma mobilização que nos faz pensar sobre o que fizemos e não fizemos, conquistamos e não conquistamos, ganhamos e/ou perdemos. Os pontos que consideramos negativos (ao longo do tempo) se mostram ainda que momentaneamente, positivos. É a partir e através deles que entramos num grande processo de reflexão. Daquela que realmente nos mobiliza.
Nossas falhas e perdas mais do que qualquer coisa são os maiores aprendizados, e ao fugirmos delas fugimos de nós mesmos, pois tudo o que nos envolve e pelo que estamos envolvidos constitui o nosso eu. O eu em confluência com o novo e o velho, em abertura para o que desejamos e principalmente para o que não temos idéia de que virá. Sem negarmos algo que nos permita uma identidade ou identificação (que não possua semelhança com a aparência). Algo que se encontra velado em nós e se desvela ao passo que entramos em contato com o outro, com o novo, mas ainda assim se mantém em sua ocultação. Somos, um conjunto de novo-velho, velho-novo. Adquirimos ricamente o que o novo nos mostra, mas não deixamos de carregar um velho igualmente rico dentro de nós.
Que venham então anos novos e grandes mudanças. Mas que através de nossos atos de abertura da escuta para o todo, saibamos recolher. Fazendo através de nossas escolhas e atitudes, uma bela colheita.