Bem vindos ao Adelós-Dêlos!

Ponto de discussões filosóficas de ouvintes do Lógos, recolhedoras do aberto...

... porque o invisível (adelós) por vezes fica visível (dêlos), pela escuta do que se diz com uma palavra.



quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Alguns tópicos centrais sobre o pensamento de Heidegger. De Diego Braga

A ontologia de Heidegger é um paradoxal encontro de origem com porvir que busca recuperar a questão esquecida no modo de pensar que se tornou hegemônico no ocidente, chamado de metafísica, que é o pensamento enquanto filosofia, em oposição ao pensamento originário que, no mesmo ocidente se tornou uma forma periférica de pensar, presente na arte, no mito, a que, para nós (ocidentais) nada mais corresponde de verdade.
A metafísica, pensamento calculador, divide o real em dois planos e aloca a verdade num deles, o inteligível, cuja verdade é conhecida por meio de uma representação elaborada no logos (linguagem e razão) convertido num meio, num instrumento. Esta representação elabora um sistema conceitual que, como teoria, consiste num conhecimento prévio que nos afasta das coisas. Por outro lado, o pensamento originário, que Heidegger quer revigorar, assume uma diferença referente entre Ser e Ente, em que um não é sem o outro, no qual a linguagem é o próprio âmbito em que a experiência da verdade acontece, instaurando um mundo como sentido de ser, e não representação da essência do ente.
Ambigüidade:
Em seu Logos (in: Ensaios e Conferências), H. nos mostra como a corda retesada enverga a madeira, ao mesmo tempo em que a curvatura da madeira estica a corda. A unidade irredutível pressupõe a diferença para além da mera complementaridade, porque nota-se bem nessa metáfora, que o arco não é madeira + corda, cada um contribuindo com uma função complementar, mas sim, na diferença referente de um e outro, tanto corda e arco agem ( retesam) e sofrem a ação ( são retesados), isto é, retesam na medida em que são retesados (com dizer que faz o quê). Esta metáfora mostra como é “real” a ambigüidade do ser. Em sobre a essência da verdade, (in: Os Pensadores), ele fala sobre este manso rigor
(ambigüidade) do pensamento o originário.
A metafísica se caracteriza pelo esquecimento do ser enquanto questão, porque pelo ser dos entes. Quando se perguntam pelo ser dos entes, os filósofos acabam limitando o ser ao âmbito do ente, esquecendo assim a questão de seu vigor originário. O Ser como atributo do ente é conhecido por meio de representação que se constitui num sistema. Desde a Grécia clássica, a pesquisa. Nós não perguntamos pelo ser: já tomamos por decidido que ser é algo (um ente: idéia em Platão, enégeia em Aristóteles, Deus na Teologia, Razão ou Vontade de um sujeito na modernidade), e o que nos cabe é conhecer a representação das coisas segundo uma concepção de ser que não é posto em questão. A proposta central do pensamento de Heidegger é recuperar o ser enqunto questão ( ou seja, em sua ambigüidade).
O pensamento originário que Heidegger propõe articula pensar não como a delimitação do ser das coisas, mas como um modo de ser. Nesse pensamento, como ser, vigora a verdade como sentido das coisas na medida em que inserem numa totalidade que as reúne nas diferenças (sentido), e não a verdade como isolamento e determinação de cada coisa em seu ser (certeza). A verdade no pensamento originário é um acontecimento em cuja experiência estão reunidos ser e pensar.
Da imagem estóica da Árvore da Filosofia, citada por Descartes, H. pergunta qual o solo em que se apoia essa Árvore, de que não mais se fala. O que alimenta suas raízes metafísicas?(ver. H., Que é metafísica, Pensadores, p. 61) As metáforas telúricas decorrem, assim, de seu intuito de pensar o solo que nutre a filosofia, que é a origem do pensar , a terra natal da linguagem e da poesia. Todas essas metáforas são um prato cheio prara críticos que querem forçosamente ligar seu pensamento ao nazismo que durante um tempo apoiou, como opção política para livrar a Alemanha da tecnocracia e do comunismo, bem como ao conservadorismo, dizendo que H. faz uma revolução conservadora. Mas esse retorno ao originário quer libertar o esquecido para que o novo possa surgir, por isso a origem se encontra de H., e não mero jargão ou retórica, porque ali a linguagem não é instrumento de representação certificadora da essência das coisas, mas aquilo que recolhe, no homem, o mundo como sentido e verdade. Por vezes H. precisa levar a linguagem a seus limites para romper com as certezas vigentes e despir o real da representação metafísica que nos mantém distantes dele.
Aproximando-se da poesia, seu pensamento não busca uma utilidade.Ao contrário do pensamento técnico, que age sobre o real dado, para produzir fins prévios à próprio ação, pensamento originário,na medida em que se constitui numa postura acolhedora aberta à diferença, está sempre na iminência da eclosão de novos sentidos, isto é, de novos mundos. Mais ainda, num mundo dominado pela ética da utilidade, os fazeres inúteis da arte e do pensamento vão de encontro a todo modo de agir e pensar vigentes.
A Metafísica divide o real em sensível (aistheton) e inteligível (noetón). Como é o pensamento do um, a metafísica aloca a verdade no plano do inteligível que contitui-se assim na verdade determinante do sensível, mesmo no materialismo e no empirismo, pois aqui também se busca uma verdade universal e abstrata (inteligível), muito embora tenha-se o apreensível mais diretamente como ponto de partida. O pensamento originário reúne esses dois planos considerados pelo ocidente como inconciliáveis, e por isso é necessariamente ambíguo, porque não põe subordinação de um pelo outro.
No modo originário de articular-se do pensamento, ser e ente não são isoladamente um sem o outro, mas apenas num pertencimento em que ser e ente o mesmo, mas não a mesma coisa, tal como que madeira e corda são o mesmo, sendo arco, mas não são a mesma coisa: “diferentes, ser e ente não são um, sem, contudo, serem dois” (LOPARIC, Zeljko. Ética e Finitude. São Paulo: EDUC, 1995) Assim, a metafísica é dualista quando pensa o princípio como um, e o pensamento originário é integrador, quando pensa como unidade como dois. A di-ferença (< >) na unidade (> <) é uma contradição própria do real, contrária apenas à lógica.Como aquele ser é ao modo de a todo tempo romper com os limites do que ele é (não limitar-se, por natureza, ao que lhe é natural), o homem é existente – EK – stare, eleva-se do âmbito do que é enquanto Ente, na medida em que se abre ao sentido do que é enquanto Ser. Como este pensar originário se coloca como um modo de ser, não há, no conhecimento que daí surge, uma relação de um sujeito que determina o objeto através de um método, o método é o próprio caminho em que o acontecimento acontece, em que o sentido eclode, porque é caminhada de existência, de fazer-se homem do homem e de fazer-se real do real - a isto ele chama de Círculo Hermenêutico. A ontologia de Heidegger é um paradoxal encontro de origem com porvir que busca recuperar a questão esquecida no modo de pensar que se tornou hegemônico no ocidente, chamado de metafísica, que é o pensamento enquanto filosofia, em oposição ao pensamento originário que, no mesmo ocidente se tornou uma forma periférica de pensar, presente na arte, no mito, a que, para nós (ocidentais) nada mais corresponde de verdade. A metafísica, pensamento calculador, divide o real em dois planos e aloca a verdade num deles, o inteligível, cuja verdade é conhecida por meio de uma representação elaborada no logos (linguagem e razão) convertido num meio, num instrumento. Esta representação elabora um sistema conceitual que, como teoria, consiste num conhecimento prévio que nos afasta das coisas. Por outro lado, o pensamento originário, que Heidegger quer revigorar, assume uma diferença referente entre Ser e Ente, em que um não é sem o outro, no qual a linguagem é o próprio âmbito em que a experiência da verdade acontece, instaurando um mundo como sentido de ser, e não representação da essência do ente. Ambigüidade: Em seu Logos (in: Ensaios e Conferências), H. nos mostra como a corda retesada enverga a madeira, ao mesmo tempo em que a curvatura da madeira estica a corda. A unidade irredutível pressupõe a diferença para além da mera complementaridade, porque nota-se bem nessa metáfora, que o arco não é madeira + corda, cada um contribuindo com uma função complementar, mas sim, na diferença referente de um e outro, tanto corda e arco agem ( retesam) e sofrem a ação ( são retesados), isto é, retesam na medida em que são retesados (com dizer que faz o quê). Esta metáfora mostra como é “real” a ambigüidade do ser. Em sobre a essência da verdade, (in: Os Pensadores), ele fala sobre este manso rigor (ambigüidade) do pensamento o originário. A metafísica se caracteriza pelo esquecimento do ser enquanto questão, porque pelo ser dos entes. Quando se perguntam pelo ser dos entes, os filósofos acabam limitando o ser ao âmbito do ente, esquecendo assim a questão de seu vigor originário. O Ser como atributo do ente é conhecido por meio de representação que se constitui num sistema. Desde a Grécia clássica, a pesquisa. Nós não perguntamos pelo ser: já tomamos por decidido que ser é algo (um ente: idéia em Platão, enégeia em Aristóteles, Deus na Teologia, Razão ou Vontade de um sujeito na modernidade), e o que nos cabe é conhecer a representação das coisas segundo uma concepção de ser que não é posto em questão. A proposta central do pensamento de Heidegger é recuperar o ser enqunto questão ( ou seja, em sua ambigüidade). O pensamento originário que Heidegger propõe articula pensar não como a delimitação do ser das coisas, mas como um modo de ser. Nesse pensamento, como ser, vigora a verdade como sentido das coisas na medida em que inserem numa totalidade que as reúne nas diferenças (sentido), e não a verdade como isolamento e determinação de cada coisa em seu ser (certeza). A verdade no pensamento originário é um acontecimento em cuja experiência estão reunidos ser e pensar. Da imagem estóica da Árvore da Filosofia, citada por Descartes, H. pergunta qual o solo em que se apoia essa Árvore, de que não mais se fala. O que alimenta suas raízes metafísicas?(ver. H., Que é metafísica, Pensadores, p. 61) As metáforas telúricas decorrem, assim, de seu intuito de pensar o solo que nutre a filosofia, que é a origem do pensar , a terra natal da linguagem e da poesia. Todas essas metáforas são um prato cheio prara críticos que querem forçosamente ligar seu pensamento ao nazismo que durante um tempo apoiou, como opção política para livrar a Alemanha da tecnocracia e do comunismo, bem como ao conservadorismo, dizendo que H. faz uma revolução conservadora. Mas esse retorno ao originário quer libertar o esquecido para que o novo possa surgir, por isso a origem se encontra de H., e não mero jargão ou retórica, porque ali a linguagem não é instrumento de representação certificadora da essência das coisas, mas aquilo que recolhe, no homem, o mundo como sentido e verdade. Por vezes H. precisa levar a linguagem a seus limites para romper com as certezas vigentes e despir o real da representação metafísica que nos mantém distantes dele. Aproximando-se da poesia, seu pensamento não busca uma utilidade.Ao contrário do pensamento técnico, que age sobre o real dado, para produzir fins prévios à próprio ação, pensamento originário,na medida em que se constitui numa postura acolhedora aberta à diferença, está sempre na iminência da eclosão de novos sentidos, isto é, de novos mundos. Mais ainda, num mundo dominado pela ética da utilidade, os fazeres inúteis da arte e do pensamento vão de encontro a todo modo de agir e pensar vigentes. A Metafísica divide o real em sensível (aistheton) e inteligível (noetón). Como é o pensamento do um, a metafísica aloca a verdade no plano do inteligível que contitui-se assim na verdade determinante do sensível, mesmo no materialismo e no empirismo, pois aqui também se busca uma verdade universal e abstrata (inteligível), muito embora tenha-se o apreensível mais diretamente como ponto de partida. O pensamento originário reúne esses dois planos considerados pelo ocidente como inconciliáveis, e por isso é necessariamente ambíguo, porque não põe subordinação de um pelo outro. No modo originário de articular-se do pensamento, ser e ente não são isoladamente um sem o outro, mas apenas num pertencimento em que ser e ente o mesmo, mas não a mesma coisa, tal como que madeira e corda são o mesmo, sendo arco, mas não são a mesma coisa: “diferentes, ser e ente não são um, sem, contudo, serem dois” (LOPARIC, Zeljko. Ética e Finitude. São Paulo: EDUC, 1995) Assim, a metafísica é dualista quando pensa o princípio como um, e o pensamento originário é integrador, quando pensa como unidade como dois. A di-ferença (< >) na unidade (> <) é uma contradição própria do real, contrária apenas à lógica.Como aquele ser é ao modo de a todo tempo romper com os limites do que ele é (não limitar-se, por natureza, ao que lhe é natural), o homem é existente – EK – stare, eleva-se do âmbito do que é enquanto Ente, na medida em que se abre ao sentido do que é enquanto Ser. Como este pensar originário se coloca como um modo de ser, não há, no conhecimento que daí surge, uma relação de um sujeito que determina o objeto através de um método, o método é o próprio caminho em que o acontecimento acontece, em que o sentido eclode, porque é caminhada de existência, de fazer-se homem do homem e de fazer-se real do real - a isto ele chama de Círculo Hermenêutico.

domingo, 21 de outubro de 2007

E o encontro aconteceu...

Poucas pessoas, muitos pensamentos... estivemos envolvidos pelo clima filosófico. Para chegarmos mais próximos do que podemos chamar de filosofia heideggeriana, nos encontramos com Platão e Aristóteles. Estes se fizeram presentes entre nós. Esbarramos em Heráclito na nossa busca pelo Logos e por uma leve passada pela filosofia teológica chegamos em Descartes, a dúvida. Entre palavras e silêncios, a filosofia falou. Nossos silêncios foram reflexão e atenção diante da perplexidade das "descobertas" dos " desvelamentos". Descobrimos sim uma verdade, não a verdade metafísica que nos remete a um conhecimento universal, mas a verdade histórica, ou melhor, aquela que se presentifica na historicidade. Sim, Heidegger estava lá, presente na presença do pensar, do falar, dos seres que se apresentavam pra nós em qualquer forma, pra que forma? Éramos, e ali fomos algo que éramos em contato com o que estávamos sendo, o novo, o presente, e não menos verdadeiro. O sentido apresentou-se pra nós e somos sim agora mais humanos, menos carentes das necessidades e mais conscientes de nossas escolhas. Escolhemos sim a filosofia, ela apresenta-se como o maior dos sentidos, estamos mergulhados nela, basta sentir, a presença se faz... pra que explicar?

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Um pouco de Heidegger...

Por estarmos mais próximos de Heidegger cronologicamente, chegamos a pensar que sua filosofia se mostra mais clara e fácil. Porém, esse pensamento cai por terra no momento em que entramos em contato com seus escritos que apresentam-se no mínimo intrigantes. Quem pode dizer que entedeu ou captou seu pensamento ao olhar para algumas (muitas) linhas escritas por ele? Imagino, que não há uma pessoa que tenha tal pretensão. No entanto, me apresento desde já como uma grande admiradora daquele que se demonstrar conhecerdor de sua filosofia. Já que, estar em contato com seu pensamento, não é necessariamente conhecê-lo profundamente. Faço aqui uma analogia talvez inocente e anacrônica ao aproximar seu pensamento ao "pré-socrático" Heráclito que por toda doxografia foi apresentado como o "obscuro". Ora, ele não o teria sido de acordo com Heidegger propositalmete, mas sim por ter em seu pensamento algo como um pensar originário, e por que não, conflitante, intrigante e atordoante? Sendo assim, creio eu que o impácto da filosofia Heideggeriana não se demonstra menos incômoda, de maneira que não podemos elaborar construções sólidas sobre seu pensamento tão próprio. Mas o que na filosofia se apresenta sólido? Será que podemos elaborar uma regra de pensamento filosófico? Proponho através da leitura tanto de Heidegger como de qualquer outro pensador, um olhar inquietante e não conformador...